Diego Gordilho detalha operação que mirou comércio ilegal de mais de 40 mil pistolas e fuzis em três anos

Uma semana após a operação que desarticulou a maior quadrilha de contrabando de armas da América do Sul, a Polícia Federal deu novos detalhes da investigação. Segundo o delegado Diego Gordilho, da Superintendência da Bahia, houve 22 inclusões na difusão vermelha da Interpol, 22 prisões de suspeitos e 1.823 armas apreendidas no dia da operação. 

Também foram apreendidos três carros e quase R$ 1 milhão, sendo R$ 435 mil em espécie e R$ 480 mil em cheques. Para o delegado, todo esse esquema “não seria possível sem corrupção e tráfico de influência dentro do órgão estatal do Paraguai”.

A investigação da PF mira um esquema que abasteceu facções criminosas brasileiras com armas. Qual foi o balanço final do dia da operação?

Foi possível obter na Justiça Federal da Bahia a expedição de 25 ordens de prisão preventiva, 25 de prisão temporária, 22 inclusões na difusão vermelha da Interpol, além de 54 mandados de busca e apreensão em três países. Até agora, prendemos 22 suspeitos dessa organização criminosa, apreendemos 1.823 armas e três carros, além de R$ 435 mil em espécie e R$ 480 mil em cheques. 

A Operação Dakovo foi importante no contexto da cooperação internacional entre Brasil e Paraguai, para frear o avanço e abastecimento de boa parte de armamentos que servem a criminalidade organizada em território nacional.

É possível estimar desde quando esse esquema operava e quantas armas foram vendidas para as facções?

A principal empresa investigada e seus sócios operam há mais de dez anos nesse mercado, então é um cálculo difícil de fazer. Mas o que podemos afirmar com segurança é que, nos últimos três anos, nessas mais de 40 mil armas importadas de países europeus para o Paraguai, grande parte foi para abastecer essas organizações criminosas atuantes em território nacional. Desse montante, ao menos 67 apreensões ocorridas são oriundas dessa organização.

Há conexões políticas que ajudam o esquema a funcionar?

Para todo esse esquema ocorrer, foi possível observar ao longo da investigação sete subgrupos dentro dessa organização, como os vendedores, os compradores, os doleiros, os responsáveis pela logística, pelo financeiro e pela corrupção. 

Isso não seria possível sem corrupção e tráfico de influência dentro do órgão estatal do Paraguai, que fazia a regulação para a importação a fim de serem facilitadas compra de armas dos países do Leste Europeu. A partir daí, era feita a raspagem para supressão dos sinais caracterizadores, a venda para pessoas próximas à fronteira e o encaminhamento às facções brasileiras.

Como se dava a saída da Argentina dessas armas e a entrada no Brasil? Quais eram as principais rotas utilizadas?

A saída dessas armas do território paraguaio era feita pela fronteira e seguiam até o destino por diversas formas, sobretudo pelo modal rodoviário.

Além das facções criminosas que detêm o maior controle no Rio e em São Paulo, há registros de venda de armas também para outros grupos, como a milícia?

Não. Os grupos criminosos que compravam essas armas eram os maiores atuantes ligados ao tráfico de drogas no Rio e em São Paulo.


Fonte: O GLOBO