Entre as obras paralisadas está a da nova maternidade de Rio Branco. Pelo menos 15 empresas da construção civil estão impedidas pela Justiça de continuar com os projetos

Pelo menos 15 empresas da construção civil, que têm contrato de obras públicas com o governo do Acre, estão impedidas pela Justiça de dar continuidade aos projetos por conta das investigações da 3ª fase da Operação Ptolomeu, deflagrada no último dia 9, que apura corrupção e lavagem de dinheiro no alto escalão do governo.

Com as obras paralisadas, o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil e Eletricitários do Acre (Sticcea) prevê que, pelo menos, 600 trabalhadores devem ser demitidos no estado.

Uma das obras paradas é da nova maternidade pública de Rio Branco. Em dezembro, o governador Gladson Cameli assinou a ordem de serviço da primeira etapa da obra. Na primeira fase, o investimento previsto é de R$ 26,9 milhões. A construção foi dividida em quatro etapas e, ao todo, a obra está orçada em R$ 95 milhões.

"Na sexta-feira [17] vamos ter uma grande reunião com várias empresas que têm contrato com os operários para rescindir. Lutamos por toda essa semana para que fosse mantidos, parece que não deu certo. Vamos, com o sindicatos, as empresas, os operários, tentar chegar a um acordo para rescindir os contratos e o pagamento, principalmente", explicou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, José Ademar de Assis.

O presidente diz que apoia integralmente as investigações, mas que o impacto das demissões em massa preocupam muito.

"Essa nova defesa não é em defesa dos empregadores, é dos postos de trabalhos, em defesa dos operários, vai ultrapassar o número de 600 porque tem outras empresas que trabalhavam terceirizadas e que também empregavam. Então, estamos com essa carga pesada para resolver. Estamos muito tristes com isso por conta da mão de obra, dos operários que vão ficar sem trabalho, a Justiça deve fazer seu trabalho, continuar as investigações, mas nós não devemos ser penalizados com isso", lamentou.

Federações se manifestam contra suspensão das empresas

As federações das Indústrias do Estado do Acre (Fieac), do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Acre (Fecomércio-AC), da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre (Faeac), das Associações Comerciais e Empresariais do Estado do Acre (Federacre) e a Associação Comercial, Industrial, de Serviço e Agrícola do Acre (Acisa) divulgaram uma nota manifestando preocupação com a paralisação das obras.

O documento destaca que a operação ainda está em fase de coleta de evidências e provas e não foi apresentado ainda à sociedade resultados concretos.

"Para um estado dependente de investimentos públicos, com quase 50% da população fazendo uso de algum tipo de benefício social, com cerca de 18% de desempregados e que ainda busca alinhamento com ações do governo federal, significa um grande golpe para a nossa economia e a certeza do aumento das inúmeras mazelas sociais", diz a publicação.

Operação Ptolomeu

A operação contra corrupção e lavagem de dinheiro na cúpula do governo do Acre, intitulada "Ptolomeu", chegou à sua terceira fase na última quinta-feira (9), com o cumprimento de 89 mandados de busca e apreensão em seis estados e no Distrito Federal.

Equipes da PF fizeram buscas em gabinetes da Casa Civil, Secretaria de Fazenda do estado, Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop), Secretaria de Estado da Saúde (Sesacre), Departamento de Estradas de Rodagens do Acre (Deracre), Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) e Tribunal de Contas do Acre (TCE-AC).

Nesta nova fase, o objetivo era bloquear bens para, no futuro, ressarcir os cofres públicos.

Em Manaus, policiais federais apreenderam joias e relógios na casa do irmão do governador Gladson Cameli, Eládio Júnior. Um representante da família disse que o corpo jurídico ainda não teve acesso ao processo, portanto, dispõe apenas das informações divulgadas pela PF.

A ação foi iniciada em 2021 e investiga, entre outros, o governador do Acre, Gladson Cameli (PP). A terceira fase da operação foi deflagrada a partir de investigações da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República, da Receita Federal e da Controladoria-Geral da União.


Carros de luxo, moto aquática e dinheiro foram apreendidos durante operação da PF — Foto: Reprodução

O STJ determinou o bloqueio de R$ 120 milhões em bens dos investigados, incluindo valores em contas bancárias, aeronaves, casas e apartamentos de luxo. Segundo a PF, o cumprimento dos mandados envolve mais de 300 policiais federais nesta quinta.

Carros de luxo, moto aquática, aeronave, bolsas de grife, dinheiro, joias e relógios estão entre os itens apreendidos pela Polícia Federal. Imagens divulgadas pela PF mostram um agente recolhendo um celular que foi jogado em cima do telhado da casa de um dos investigados.


No Acre, equipes da PF fizeram buscas em gabinetes da Casa Civil, Secretaria de Fazenda do estado e outros órgãos — Foto: Arquivo

Após a operação, o governador Gladson Cameli publicou uma nota nas redes sociais a respeito das investigações. "Essa é mais uma etapa da operação de mesmo nome. Com o andamento do processo, o governador confia que tudo será apurado e esclarecido. Mais uma vez, o governador se coloca à disposição das autoridades, colaborando com mais essa etapa das investigações. O governador reafirma o seu apoio e confiança na Justiça, para que a verdade sempre prevaleça", diz a nota.

Também em nota, os advogados Ticiano Figueiredo, Pedro Ivo Velloso, Tarcísio Vieira de Carvalho Neto e Telson Ferreira disseram ver com "surpresa" a terceira fase do inquérito iniciado há dois anos.

Operação anterior

Em dezembro de 2021, Cameli já tinha sido alvo da primeira fase da operação. O político se elegeu governador do Acre em 2018 e foi reeleito para um segundo mandato no ano passado. Na época, 41 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão foram deflagrados. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou a operação, determinou o afastamento das funções públicas dos envolvidos.

De acordo com a PF, na operação da época, foram apreendidos, no total:

Seis veículos, estimados em R$ 1,7 milhão;
R$ 600 mil em espécie, entre dólares, euros e reais;
33 relógios e 10 joias de alto valor, totalizando mais de R$ 1 milhão, aproximadamente;
R$139 mil reais em celulares apreendidos.

Também em 2021, Gladson Cameli afirmou que tinha a consciência "tranquila" e que a polícia estava cumprindo seu papel de apurar denúncias.

"Quem não deve, não teme. Não devo, não temo e quero que fique até o final, se tiver coisa errada vai para a rua [o servidor] e tem que prestar contas à sociedade, porque é dinheiro público", disse à época.

Já na segunda fase, deflagrada ainda em dezembro de 2021, a PF disse que foi detectado que servidores públicos estavam obstruindo a investigação. Um vídeo, que a Rede Amazônica teve acesso com exclusividade, mostrava as investigadas ocultando celulares durante a deflagração da 1ª fase da ação.

Fonte: G1/AC