A filha do ambientalista acreano, Ângela Mendes, falou da importância da preservação do legado do pai. Ativistas como Dorothy Stang, Dom Phillips e Bruno Pereira, também foram homenageados

Emoção. Este é o sentimento descrito pela ambientalista acreana Ângela Mendes ao compor o desfile da última alegoria da escola de samba Unidos do Porto da Pedra, de São Gonçalo (RJ). Na ocasião, o líder Chico Mendes, assassinado há 35 anos, foi homenageado como um dos símbolos de proteção da Amazônia.

O desfile da agremiação ocorreu neste sábado (18), no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. O enredo que embalou o grupo chama-se “A invenção da Amazônia” do carnavalesco Mauro Quintaes, que traz a temática da preservação ambiental e da manutenção da biodiversidade.

O grupo também fez história no Carnaval do Rio de Janeiro ao ser o primeiro a realizar um desfile neutro em emissões de gás carbônico. O objetivo, segundo o grupo, é de compensar a queima de combustível liberado pelos carros alegóricos e a energia consumida pelas máquinas de costura na confecção das fantasias.


Ativistas Dorothy Stang, Dom Phillips e Bruno Pereira também foram homenageados no desfile — Foto: Arquivo pessoal

Ao g1, Ângela contou que foi a primeira vez desfilando no sambódromo e que ficou feliz e emocionada ao ver o público festejando e refletindo acerca da temática.

Outras lideranças também foram homenageadas: Dorothy Stang, assassinada em 2006 a tiros em Anapu, no Pará, por defender a reforma agrária; e Dom Phillips e Bruno Pereira, mortos em 2022 durante uma viagem pelo Vale do Javari, no Amazonas, para a realização de entrevistas com indígenas e ribeirinhos da região.

“O carnaval é uma manifestação popular de resistência. Fico feliz que Chico, Dorothy, Dom e Bruno são lembrados e que a gente também lembre nesse momento de tantas grandes lideranças e trabalhadores que travaram essa luta. Não podemos esquecer que o Brasil figura entre os países que mais assassinam ativistas de direitos humanos, trabalhadores e trabalhadoras rurais e isso a gente precisa massificar”, disse.


Ângela conta que foi a primeira vez que desfilou no Sambódromo do Rio de Janeiro — Foto: Arquivo pessoal

A filha de Chico Mendes falou ainda que foi contagiante ver a conexão existente entre os membros da escola e que está acreditando na vitória do grupo. Dentre os pontos que mais acredita que podem classificar a agremiação, ressaltou o samba-enredo.

“O samba-enredo emociona, é muito forte e fala pra escutarmos o que vem da floresta. 'Escute o grito que ecoa da floresta' […] precisamos cuidar da Amazônia, das florestas e desse povo que tem uma importância tremenda. Essa é uma mensagem política. Esse enredo acontece nesse ano de retomada de reconstrução do país e precisamos arregaçar as mãos e não deixar ninguém pra trás. É lembrar dos nossos parentes Yanomami e de tudo que eles estão passando. É um chamado à ação em defesa da Amazônia e em defesa de seus povos”, frisou.

Quem foi Chico Mendes?

Chico Mendes foi um líder seringueiro, reconhecido mundialmente, que viveu em Xapuri, no interior do Acre. Ele foi morto com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988, uma semana depois de completar 44 anos, enquanto tomava banho nos fundos de casa.


Chico Mendes foi líder seringueiro morto em 1988 por fazendeiros no interior do Acre — Foto: Reprodução

Com a morte da liderança, houve uma comoção mundial. O fazendeiro Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves Ferreira foram presos suspeitos do assassinato. Em 1990, dois anos após o crime, ambos foram condenados a 19 anos de detenção.

Em 1999, Darly foi liberado para cumprir o restante da pena em prisão domiciliar. No mesmo ano, o filho ganhou o direito ao regime semiaberto. Ambos chegaram a fugir da prisão em 1993 e foram recapturados três anos depois.

Fonte: G1/AC