Reunião de líderes da Câmara dos Deputados: apesar das fissuras pela sucessão de Lira, partidos do Centrão negociam federação — Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados
Com a meta de ampliar a influência no Congresso ou sob risco de perderem recursos por não atingirem a cláusula de barreira, partidos têm usado as eleições municipais como testes para a formação de federações e tentam evitar que divergências locais e a campanha pela sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara atrapalhem os planos de aliança.
A iniciativa mais ousada traria para o mesmo lado União Brasil, PP e Republicanos, formando uma bancada com 153 deputados e 18 senadores, tornando-se a maior das duas Casas. Ao mesmo tempo que interrompeu as conversas, pela dificuldade de conciliar em prazo curto os interesses em mais de 5 mil municípios, a disputa pelas prefeituras proporcionou alianças em colégios eleitorais expressivos e renovou o fôlego dos defensores do acordo.
Siglas federadas precisam apoiar formalmente os mesmos candidatos, o que já ocorre em dez capitais neste pleito. A lista inclui cidades de caciques nacionais das três legendas, casos de São Paulo, do presidente do Republicanos, Marcos Pereira; Salvador do vice-presidente do União Brasil, ACM Neto; Maceió, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP); e Teresina, do presidente do PP, Ciro Nogueira. As legendas também estão na mesma coligação em Goiânia, Boa Vista, Porto Velho, Natal, Manaus e Cuiabá.
Defensores da federação dizem que há negociações avançadas entre PP e Republicanos em praticamente todos os estados. O principal empecilho é avançar em um acordo com o União Brasil, em função de divergências regionais.
O líder do União Brasil no Senado, Efraim Filho (PB), por exemplo, teria que dividir influência na Paraíba com o líder do Republicanos na Câmara, Hugo Motta, e com o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP). Em Pernambuco, o deputado Mendonça Filho (União Brasil) já disputa protagonismo com Miguel Coelho, que é de sua legenda. Com a federação, precisaria ainda conciliar negociações locais com o ministro dos Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), e com o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE).
O momento atual da disputa pela presidência da Câmara também afastou o União Brasil das outras duas legendas. Com a saída de Marcos Pereira, Hugo Motta virou candidato e esvaziou o arco de apoio em torno do líder do União, Elmar Nascimento (BA), até então visto como favorito — Lira e Ciro Nogueira agora têm atuado pelo deputado do Republicanos.
Antes defensor da aliança, Elmar agora diz que é "zero" a chance de o seu partido formar uma federação com PP e Republicanos.
Parlamentares favoráveis à federação, no entanto, minimizam as rusgas e dizem que a divisão cessará em fevereiro de 2025, quando ocorrerá a eleição na Casa.
— A disputa tem data para terminar, e a federação interessa a todos — disse o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), um dos vice-presidentes do partido.
Na mesma linha, o deputado Lafayette Andrada (Republicanos-MG), um dos vice-líderes do bloco que reúne Republicanos, MDB, PSD e Podemos, disse que a disputa na Câmara não é um impeditivo.
– Não creio que seja esse o empecilho. Os momentos serão muito distintos, o momento da federação é lá nas eleições de 2026, a sucessão é agora. De hoje até lá tem muita água para correr debaixo da ponte e o que vai ser analisado é o interesse dos partidos – declarou.
Ainda que não haja hoje uma federação, já há acordos informais entre os partidos. Os presidentes do PP, Ciro Nogueira, do União Brasil, Antonio de Rueda, por exemplo, fizeram um entendimento de que o União fica sob a influência de Ciro no Piauí e o PP fica sob a alçado do governador Wilson Lima (União Brasil) no Amazonas.
Mesmo assim, o União Brasil ainda não pacificou totalmente os efeitos da fusão entre DEM e PSL e tem divergências dentro da mesma legenda no Amazonas, assim como em outros estados, como São Paulo, Pernambuco, Roraima e Acre. Por conta disso, integrantes da sigla têm resistido a formar uma federação com outros partidos e veem como mais fácil uma aliança entre PP e Republicanos.
Por um motivo diverso, PDT e PSDB também negociam uma federação. Em 2026, os partidos precisarão cumprir ao menos um destes dois critérios: eleger no mínimo 13 deputados federais distribuídos em pelo menos um terço dos estados; ou ter um mínimo de 2,5% dos votos válidos para a Câmara, espalhados em pelo menos um terço dos estados, com um mínimo de 1,5% dos votos válidos em cada uma. Caso isso não ocorra, perderão acesso ao fundo partidário e à propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Hoje, o PDT tem 18 deputados, enquanto a federação que já reúne PSDB e Cidadania tem 17.
Neste caso, parlamentares envolvidos avaliam que o risco iminente de um esvaziamento ainda maior, diante do impacto no PDT do predomínio do PT à esquerda e da ocupação pelo PL de espaços que antes eram do PSDB, é o principal motor a superar até desavenças ideológicas. Hoje, o PDT está no governo Lula e ocupa o Ministério da Previdência, com Carlos Lupi, enquanto o PSDB faz oposição. Presidente interino do PDT, o deputado André Figueiredo (CE) diz que os dois partidos estão nas mesmas chapas em 27 cidades com mais de 200 mil habitantes.
— O PSDB está com a gente em Fortaleza e em Porto Alegre, por exemplo — afirma Figueiredo.
Em Fortaleza, o PDT lançou o prefeito Sarto à reeleição, mas o cenário está embolado. O candidato André Fernandes (PL) tem 25% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Ele é seguido por Capitão Wagner (União Brasil), com 23%; Evandro Leitão (PT), com 19%; e Sarto, com 18%. A aliança entre PDT e PSDB provocou a reaproximação entre o ex-presidenciável Ciro Gomes e o ex-senador Tasso Jereissati.
Já em Porto Alegre, a pedetista Juliana Brizola conta com o governador tucano Eduardo Leite para alcançar Maria do Rosário (PT) e Sebastião Melo (MDB), que aparecem à frente nas pesquisas. Os dois partidos também apoiam o mesmo candidato em outras capitais, como Belém, Florianópolis, Salvador, São Luís e Teresina. Por outro lado, não estão juntos nas principais cidades do país nessas eleições municipais, como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte.
Outros partidos que podem se somar ao grupo nessa federação são Podemos e Solidariedade, o que faria o grupo ter 56 deputados e dez senadores.
O PDT também avaliou fazer uma federação com o PSB, mas o rompimento entre os irmãos Ciro e Cid Gomes esfriou essa negociação. Cid era do PDT, mas saiu do partido após a legenda, por influência de Ciro, vetar uma aliança com o PT no Ceará. O destino escolhido por Cid, e pela maioria dos dissidentes do PDT que queriam aliança com o PT, foi o PSB.
Fonte: O GLOBO
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