Nascidos no ano do dragão são vistos pelos que acreditam no zodíaco como vigorosos, inteligentes e talentosos; Personalidades desse clube incluem Pelé, John Lennon e Deng Xiaoping

Enquanto o Brasil bota o bloco na rua e acompanha a operação da PF contra Bolsonaro e aliados, a China dá início ao Ano do Dragão. Nesta sexta, véspera do ano novo lunar, milhões de famílias estarão reunidas no país e outras partes do mundo sinocêntrico para a festividade mais importante do calendário chinês. É uma celebração que envolve muita comida e uma infinidade de rituais e superstições.

Muitas das tradições do ano novo chinês têm a ver com a sonoridade de palavras e expressões do mandarim, como ocorre com outras crenças profundamente arraigadas no país. O melhor exemplo dessa crendice fonética é a aversão ao número 4, por ele soar como “morte” (si). Muitos prédios não têm o quarto andar, assim como acontece em alguns países com o número 13. Ė também dificílimo achar algum carro com placa terminada em 4.

Os costumes desta época seguem a mesma lógica. É o caso do “ jiaozi” (espécie de ravioli), uma iguaria com 1.800 anos de história que não pode faltar nas mesas do ano novo. A palavra jiaozi se assemelha na sonoridade à “transição do velho para o novo”, o que explica sua popularidade. Além disso, seu formato lembra os lingotes de ouro e prata usados na China antiga, simbolizando a prosperidade que todos esperam ter no novo ano.

Na China, prosperidade é sempre o favorito entre os votos de um feliz ano novo. Mais ainda num momento em que a desaceleração da economia é a grande preocupação. A dificuldade do país em transitar do velho modelo baseado em investimentos no setor de construção para o novo, centrado no consumo doméstico, tornou-se o maior problema estrutural da economia. 

Com a estagnação acentuada por três anos sob a política de Covid zero, o desemprego entre os jovens disparou, muitas pequenas e médias empresas quebraram e a confiança despencou, inibindo o consumo que o governo tenta estimular.

Populares caminham por rua decorada para o ano novo chinês na área turística do Lago Qianhai, em Pequim — Foto: Pedro Pardo/AFP

O ano do dragão, símbolo do país e considerado o mais poderoso signo do zodíaco chinês, é para muitos motivo de esperança de uma virada. É um ciclo de 12 anos, cada um associado a um animal do zodíaco. 

Curiosamente, o mais popular do grupo é o único animal fictício. Os nascidos no ano do dragão (1928, 1940, 1952, 1964, 1976, 1988, 2000, 2012, 2024) são vistos pelos que acreditam no zodíaco como vigorosos, inteligentes e talentosos. Personalidades desse clube incluem Pelé, John Lennon e Deng Xiaoping, o líder da abertura econômica chinesa iniciada em 1978.

Apesar da campanha do governo contra as superstições, para uma grande parte dos chineses, o zodíaco é coisa séria. Em 2015, o número de partos no país despencou, devido à resistência de muitos pais à ideia de ter filhos nascidos no ano do carneiro, símbolo de submissão e fraqueza. 

Se o fenômeno se repetir ao contrário em 2024 e a popularidade do dragão inspirar uma onda de nascimentos, o zodíaco será uma boa notícia para o governo, que há anos tenta estimular as famílias a terem mais filhos e deter o declínio do crescimento demográfico do país. Até agora, sem muito sucesso.


Fonte: O GLOBO