Apesar da alta, IPCA, principal índice de preços, fica abaixo das projeções para setembro, com queda dos alimentos. Em 12 meses, indicador volta a ficar acima do teto da meta

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) subiu 0,26% em setembro após avançar 0,23% em agosto, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira.

Como esperado, a alta foi puxada pelo reajuste nos preços de combustíveis, aplicado pela Petrobras nas refinarias em meados de agosto, mas veio abaixo das projeções de analistas de mercado, com deflação nos alimentos.
  • As projeções de 46 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data sobre o IPCA de setembro apontavam alta de 0,33%.
  • No ano, o IPCA acumula alta de 3,5%.
  • Em 12 meses, o índice acumulou avanço de 5,19% em setembro, ante os 4,61% acumulados em agosto.
  • Os preços da gasolina subiram 2,80%, maior contribuição individual para a alta do IPCA de setembro, adicionando 0,14 ponto percentual (p.p.) à variação do índice
  • Os preços do grupo Alimentos e bebidas caíram 0,71%, a quarta queda mensal seguida
André Filipe Guedes, gerente do IPCA do IBGE, lembrou que a variação acumulada em 12 meses vem acelerando desde julho. Isso porque, em meados deste ano, variações mensais positivas passaram a substituir registros negativos vistos no mesmo período de 2022, quando o então governo Bolsonaro reduziu os tributos sobre combustíveis, eletricidade e serviços de telecomunicações.

Com isso, o acumulado em 12 meses ficou acima da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 3,25% para 2023, mesmo considerando a margem de tolerância de 1,5 p.p., mas a tendência é de desaceleração até o fim do ano.

Antes da divulgação do IPCA nesta quarta-feira, o Boletim Focus, pesquisa do BC sobre a projeções de analistas de mercado, já apontava que o índice fechará 2023 com alta de 4,86%, abaixo dos 4,93% que indicavam as estimativas um mês atrás. E o dado mais recente confirma o cenário de alívio.

Por um lado, o grupo Alimentação e bebidas teve queda de 0,71% em setembro, a quarta deflação seguida no IPCA mensal. Outro sinal de alívio foi que o chamado índice de difusão (que indica a proporção de bens e serviços cujos preços tiveram alta na passagem de um mês para o outro) ficou em 43%, o menor nível desde julho de 2017, segundo o IBGE.

– Um índice de difusão menor significa que, em relação ao mês anterior, a alta de preços está menos espalhada – afirmou Guedes.

Isso mantém a perspectiva de redução na taxa básica de juros (a Selic, hoje em 12,75% ao ano) pelo BC. O Comitê de Política Monetária (Copom) já sinalizou que seguirá com os cortes de meio ponto percentual, o que traria a Selic para 11,75% no fim do ano.

Os preços de seis dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em setembro. Por causa da gasolina, o maior impacto positivo (0,29 p.p) e a maior variação (1,40%) vieram de Transportes. O grupo Habitação avançou 0,47%, contribuindo positivamente 0,07 p.p. na variação agregada.

Veja o resultado dos grupos do IPCA de setembro:
  • Alimentação e bebidas: -0,71%;
  • Habitação: 0,47%;
  • Artigos de residência: -0,58%;
  • Vestuário: 0,38%;
  • Transportes: 1,40%;
  • Saúde e cuidados pessoais: 0,04%;
  • Despesas pessoais: 0,45%;
  • Educação: 0,05%;
  • Comunicação: -0,11%.
Combustíveis sobem 2,70%

No grupo Transportes, com a alta de 2,80% na gasolina, os combustíveis subiram 2,70%. O óleo diesel encareceu, em média, em 10,11%, e o gás veicular avançou 0,66%. Já o preço do etanol caiu 0,62%.

Ainda em Transportes, as passagens aéreas subiram 13,47% em setembro, após recuo de 11,69% em agosto, informou o IBGE. Segundo o instituto, houve alta em ônibus intermunicipal (0,42%), decorrente de reajuste de 12,90% aplicado em Salvador (2,62%), a partir de 10 de agosto.

No grupo Habitação, houve alta de 0,47% em setembro, com destaque para a conta de luz, que subiu 0,99%. Segundo o IBGE, isso se deveu a reajustes aplicados pelas distribuidoras de São Luís (MA), de Belém (PA) e de Vitória (ES). Também houve alta de 0,02% na conta de água e esgoto, com reajustes nas operadoras de Brasília e Vitória.

Alimentos ficam mais baratos

No lado das quedas, destaca-se o grupo Alimentação e bebidas, cujos preços caíram 0,71%, pelo quarto mês consecutivo. A queda foi puxada pelo recuo nos preços da alimentação no domicílio (-1,02%). Algumas poucas exceções foram os preços do arroz (3,20%) e do tomate (2,89%), que subiram de preço.

Houve deflação porque caíram os preços dos seguintes alimentos:
  • Batata-inglesa (-10,41%)
  • Cebola (-8,08%)
  • Ovo de galinha (-4,96%)
  • Leite longa vida (-4,06%)
  • Carnes (-2,10%)
Já a alimentação fora do domicílio apresentou alta de 0,12% em setembro, mas desacelerou ante o mês anterior (0,22%), informou o IBGE. As altas da refeição (0,13%) e do lanche (0,09%) foram menos intensas do que as observadas em agosto (de 0,18% e 0,30%, respectivamente).


Fonte: O GLOBO