Pesquisas apontam o ex-presidente na liderança para as primárias republicanas, mas baixa rejeição do governador da Flórida acende o alerta na campanha de Trump e entre democratas

Após meses de especulações, o governador da Flórida, Ron De Santis, oficializou na quarta-feira sua candidatura às primárias do Partido Republicano, que decidirão quem disputará a Casa Branca, provavelmente contra o presidente americano Joe Biden, que já declarou que tentará a reeleição em 2024. 

Maior obstáculo do ex-presidente Donald Trump na campanha, DeSantis entra na corrida eleitoral com o desafio de diminuir a lacuna de mais de 30 pontos nas pesquisas, mas com a vantagem de ter a menor rejeição entre os principais concorrentes no páreo.

Para Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais na Berea College, no Kentucky, "o grande trunfo do DeSantis será conseguir convencer o eleitor de que ele tem mais chances de vencer o Biden em uma eleição geral".

— O que vai determinar o voto republicano é a rejeição ao Biden — avalia Poggio. — Se ele [DeSantis] conseguir colar isso, vai representar um grande desafio ao Trump e fazer uma manobra similar à própria nomeação do Joe Biden em 2020, que foi escolhido pelos democratas não por que era o preferido, mas por que foi percebido como aquele que tinha mais chances de ganhar do Trump.

A mais de um ano das eleições gerais, mas como todos os jogadores posicionando suas peças no xadrez, Trump, DeSantis e Biden têm praticamente o mesmo percentual de aprovação, cerca de 42%, segundo o somatório das pesquisas realizadas entre abril e maio feito pelo site Real Clear Politics. O diferencial, que poderá ser decisivo de acordo com analistas, está na rejeição. Enquanto Trump e Biden são rechaçados por 53% e 52% da população, respectivamente, DeSantis acumula 41%.

Ainda assim, bater Donald Trump não será uma tarefa fácil. O magnata — que vem ganhando força nas pesquisas apesar da condenação civil por abuso sexual e uma série de ações que avançam na Justiça — aparece isolado com 55% das intenções de voto para as primárias. DeSantis, por outro lado, que em janeiro chegou a atingir 31% da preferência dos republicanos, lança sua candidatura nesta semana com 21%.

— Nunca um candidato que nessa altura do campeonato tinha tanto favoritismo quanto o Trump perdeu uma primária republicana nos EUA — afirma Poggio. — Mas o DeSantis ainda não foi testado nacionalmente. Ele é um candidato muito jovem e que vai precisar conversar com os eleitores em outros estados americanos.

O governador precisará recuperar o fôlego ao redor do país se quiser sonhar com a Casa Branca. Isso por que, em geral, as primárias republicanas seguem uma regra diferente da dos democratas e que costuma favorecer quem está na liderança. Em estados como a Flórida, por exemplo, o vencedor da votação, em vez de conquistar o número proporcional de delegados baseado na porcentagem dos votos que recebeu, fica todos os delegados do estado — até os que não o elegeram —, modelo conhecido como "o vencedor leva tudo".

A regra, que varia de acordo com o estado, pode ser uma pedra no sapato de DeSantis considerando que, neste momento, ele está atrás de Trump até na Flórida, onde governa, com o ex-presidente com 42% contra 34% do governador, segundo pesquisa do instituto American Greatness de maio. Em alguns redutos históricos do Partido Republicano, como o Kentucky, a distância entre os dois é ainda mais expressiva: enquanto o ex-presidente tem 70% das intenções de voto, DeSantis aparece com 14%.

Apesar de ser um nome menos conhecido dos eleitores, tanto Trump quando o Partido Democrata veem o governador da Flórida como um perigo iminente. Sondagens sobre as eleições gerais do ano que vem mostram DeSantis empatado tecnicamente com Biden no pleito da mesma forma que o magnata, tornando-o um alvo de todos os lados.

— O Trump é o candidato dos sonhos do Partido Democrata. Eles pensam que é muito mais fácil bater o Trump, que tem uma base muito fanática, mas que também tem uma rejeição grande — avalia o professor, sublinhando que Biden está longe de ser um nome popular. — O DeSantis teria um potencial maior pra ganhar do Biden por ser mais jovem e por ter uma rejeição menor do que o Trump. Mas tudo isso vai depender de como ele vai conduzir sua campanha.

Há não muito tempo, porém, DeSantis era um grande defensor do líder republicano e usou a amizade com o ex-presidente para impulsionar sua campanha à reeleição na Flórida. Para Poggio, tal passado será uma das armas de Trump, que "já tem batido muito mais no DeSantis do que no Biden ultimamente".

— A gente vê desde 2016 a capacidade do Trump para mobilizar a sua base. Ele é alguém que suga todo o oxigênio político para si e isso acaba determinando o ritmo da campanha — analisa. — Trump com certeza vai trazer o DeSantis para a lama junto com ele.


Fonte: O GLOBO