Endereço icônico de 1940, imortalizado no cinema por Audrey Hepburn, é atualizado sem perder o charme tradicional para se transformar em uma atração da cidade e dobrar vendas

Após quatro anos fechada para uma renovação sem precedentes, a loja da Tiffany da Quinta Avenida — desde 1940 um dos endereços mais visitados de Nova York — reabre na próxima sexta-feira.

Comprada pelo grupo de luxo LVMH (do bilionário Bernard Arnault, o homem mais rico do mundo, também dono da Louis Vuitton e outras marcas) em 2021, a joalheria tem agora os pés bem fincados no século XXI sem abrir mão de marcos históricos essenciais, explica o CEO global da marca, Anthony Ledru, ao GLOBO.

O estabelecimento deixa de ser uma loja conceito para se tornar uma atração capaz de dobrar o resultado daquela que já é sua unidade número 1 em vendas.

— É possível ter lojas conceito em vários lugares do mundo. Já um marco está atrelado ao endereço histórico onde nasceu. É um marco de Nova York, como a Estátua da Liberdade, o Rockfeller Center. Esta semana, homenageamos o (arquiteto) Peter Marino. 

Havia clientes novaiorquinos muito importantes, famílias cujos nomes não posso abrir, talvez alguns dos mais ricos clientes potencialmente. Eles entendem o conceito de marco porque cresceram com ele. Estiveram lá quando crianças, ao se tornarem pais e depois com os netos — explicou Ledru.

Nascido na França, o executivo hoje com 50 anos conta que visitou a loja aos 19 anos em sua primeira viagem aos Estados Unidos na companhia do pai. Para ele, é difícil encontrar um nova-iorquino que desconheça o endereço:

— Nosso fundador (Charles L. Tiffany) ajudou a financiar a construção da Estátua da Liberdade, era apoiador do Metropolitan. É parte da cultura americana, da vida dos presidentes, da indústria do cinema, dos esportes.

Marino é o arquiteto por trás do projeto que conecta o legado da marca criada em 1837, a tradição da loja de 1940, e uma boa dose de contemporaneidade e alto luxo. Ele assina a reforma da loja da Dior, outra marca do LVMH, na sofisticada Avenue Montaigne, em Paris, e reaberta ano passado.

É estratégia que vem permeando movimentos do grupo. Trata-se de uma fórmula que permite manter a clientela tradicional e leal, sobretudo via novos serviços classe A, parcerias com artistas e alcançar os mais jovens.

Reforma quase bilionária

O aporte na renovação não é divulgado. No mercado, contudo, a estimativa é de que a reforma custou centenas de milhões de dólares, se aproximando da casa do bilhão.

A maior loja de luxo do mundo — são dez mil metros quadrados em dez andares —, ganha em experiência e intimismo, explica Ledru. Terá 400 profissionais de vendas, num ambiente com áreas reservadas, espaços para que os clientes possam se sentar, serviço personalizado.

A fachada do prédio, famosa pelas imagens de “Bonequinha de luxo”, filme de 1961 e estrelado por Audrey Hepburn, está preservada. As mudanças internas, porém, trazem uma nova experiência a clientes e visitantes.

No térreo, há grandes telas laterais exibindo imagens de Nova York. E um “espelho mágico” que vai permitir observar artistas da marca trabalhando na oficina.

É também onde estará o Diamante Tiffany, que fez uma visita ao Brasil no ano passado em sua primeira passagem pela América Latina. O raro diamante amarelo, com 128,54 quilates, adquirido em 1877 e usada por apenas quatro mulheres, incluindo Audrey em cena, ganha nova apresentação. Segue em um colar, mas envolto por uma revoada de pássaros, uma das marcas de Jean Schlumberger, um dos maiores designers da Tiffany.

É uma referência ao voo trazido pela reforma da loja, diz o executivo, a renovação e mesmo a Andy Warhol. Pássaros pintados pelo artista foram usados na decoração de lojas da marca nas festas de fim de ano.

Também está lá o pingente Medusa, feito em 1904 por Louis C. Tiffany (filho de Charles e um dos grandes nomes da Art Nouveau), arrematado em leilão por US$ 3,5 milhões no fim de 2021, após Ledru ter feito sucessivos lances por telefone pela joia. Há obras de arte espalhadas pelo prédio, de Jean-Michel Basquiat a Damien Hirst.

Café lotado por um mês

O Blue Box Café, ambientado em Azul Tiffany, cor registrada da marca, tem 61 lugares e cardápio assinado pelo chef internacional Daniel Boulud, dono de cassas com estrelas no Guia Michelin.

— Terá o melhor hambúrguer que se pode comer, talvez também um dos mais caros. E um menu muito elaborado, não no estilo Michelin, é uma brasserie refinada. Já estamos lotados para o primeiro mês — diz, prevendo que, após a abertura, a antecedência para reservas será de 90 a 120 dias.

No topo, um andar exclusivo. Sequer tem acesso visível no piso de entrada. É exclusivo a convidados. Terá 700m², com vista para o Central Park, salas privativas, como uma dedicada ao Blue Book, a seleção de alta joalheria com peças únicas que a Tiffany lança anualmente.

Na véspera da abertura, haverá uma grande festa. Ledru faz mistério, e afirma que será surpreendente:

— No jantar para o Marino, uma senhora sentada ao meu lado, uma das grandes fortunas no planeta, disse que deveria estar em Palm Beach, mas ouviu que seria a festa da década. Eu respondi que não, que será a festa do século.

Cenário econômico não assusta

Ledru reconhece os desafios na economia global, diante da ameaça de recessão, mas se mantém confiante:

— Há mudanças e fatos que não podemos controlar. Mas até agora tudo bem. Pelos resultados do LVMH tivemos um bom primeiro trimestre. E também estamos com desempenho muito bom no Brasil, com crescimento de dois dígitos. Com os turistas voltando a Nova York, o que é visível, acredito que seremos bem-sucedidos. Queremos voltar a ser um dos top 5 destinos da cidade.

Prova de que mesmo em tempos de crise, a renda dos mais ricos segue preservada, de janeiro a março, o grupo LVMH teve receita recorde de € 21 bilhões, alta de 17% ante igual período de 2022. No segmento de relógios e joias, em que estão marcas como Bulgari, além da Tiffany, o crescimento foi de 11%.

— O investimento feito na Tiffany da Quinta Avenida mostra que nos planejamos para os próximos dez, 20, 50 anos. É o que estamos fazendo. No curto prazo, estamos sendo cautelosos. Mas no longo, estamos muito confiantes — conta o executivo.


Fonte: O GLOBO