Polêmica veio à tona após ex-jogador do Palmeiras, Gustavo Scarpa, perder mais de R$ 6 milhões em investimentos. Empresa XLand Holding, de Rio Branco, não está registrada em nenhum órgão regulatório do mercado financeiro para operar com criptomoedas

O Fantástico exibiu uma reportagem exclusiva neste domingo (12) sobre um esquema milionário envolvendo a empresa de criptomoedas XLand Holding, com filial em Rio Branco, suspeita de praticar um golpe financeiro no jogador de futebol Gustavo Scarpa, craque do Brasileirão 2022.

De acordo com Scarpa, ele investiu pelo menos R$ 6 milhões em criptomoedas, aplicadas na empresa indicada por Willian Bigode, seu ex-parceiro de time. Contudo, as tentativas fracassadas de lucro e, posteriormente, de reaver o dinheiro investido, fizeram com que o craque percebesse que estava sendo vítima de um golpe.

Nesta reportagem, você vai saber:

Como funcionava o esquema
O que é alexandrita, oferecida como garantia do investimento
Quem são as vítimas
Qual a relação de Willian Bigode com o caso
O que está sendo investigado

Como funcionava o esquema?

A pessoa fazia o investimento com a empresa XLand, que dizia ter autorização para operar investimentos em criptomoedas. Essa empresa mantinha contrato em que prometia retorno de 5% ao mês em cima do valor investido.

Qual era a garantia do investimento?

A empresa prometia garantia em pedras preciosas. Eles afirmaram ter mais de R$ 2 bilhões em alexandrita, o que era oferecido como garantia aos investidores.

O que é alexandrita?

É um tipo de mineral derivado do crisoberilo, óxido bastante raro. Dentre os países, são encontradas na Rússia, que é um dos maiores produtores do mundo, e no Brasil com extrações na Bahia, Espírito Santo e, principalmente, Minas Gerais.

Um dos donos da empresa, Gabriel Nascimento, chegou a dizer que a XLand tinha mais de R$2 bilhões em pedras de alexandrita, bem como terrenos e chácaras que serviriam como garantia para que Scarpa pudesse investir o capital com segurança.

Quem são as vítimas?


Gustavo Scarpa, ex-jogador do Palmeiras — Foto: Cesar Greco / Palmeiras

Gustavo Scarpa, de 29 anos, é ex-jogador do Palmeiras e agora pertence ao Nottingham Forest, da Inglaterra. No ano passado, foi eleito o craque do Brasileirão. Foi ele quem registrou um boletim de ocorrência contra a empresa de Bigode.

Mayke, de 30 anos, é lateral do Palmeiras e também prestou queixa à polícia, alegando ter perdido quantias milionárias em investimentos. Ainda não se sabe o valor em específico.
De acordo com o Fantástico, Weverton, de 35 anos e goleiro do Palmeiras, também foi vítima. O valor que o acreano perdeu não foi revelado e ele não quis conversar sobre o assunto.

Qual a relação de Willian Bigode com a empresa?


William Bigode, jogador de futebol do Fluminense — Foto: Reprodução/Fantástico

Foi Bigode, atual atacante do Fluminense, quem apresentou a empresa aos amigos de clube. Ele é sócio-proprietário da WLJC, outra empresa de gestão de capital, que tinha como clientes alguns jogadores de futebol. Bigode ganhava comissões ao trazer investidores. A WLJC não está registrada em nenhum órgão regulatório do mercado financeiro.

Gustavo Scarpa e Mayke estão processando a companhia de Bigode.

O que diz Bigode?

O jogador aleta que também é vítima do esquema e que perdeu R$ 17 milhões, somados o valor investido e os rendimentos. Ele tem 36 anos, é ex-jogador do Palmeiras e agora atua pelo Fluminense. Bigode é um dos sócios da WLJC Consultoria e Gestão Empresarial, que tem uma parceria com a XLand.

Quem mais está envolvido no caso?


Gabriel Nascimento, dono da XLand — Foto: Reprodução/Fantástico

Gabriel Nascimento é dono da XLand e tem 30 anos. Ele dizia aos investidores que tinha reservas econômicas para que se sentissem seguros em investir nas criptomoedas.

Jean Ribeiro é um dos sócios da empresa que também está envolvido no esquema.

A sócia de Bigode na WLJC, Camila Fava, também está envolvida.

Marçal Siqueira, que se apresenta como coach de desenvolvimento humano e gestão financeira, participava das reuniões da XLand e, inclusive, dava palestras e mentorias sobre as melhores formas de aplicar dinheiro. Bigode disse que a empresa foi apresentada por ele.

Pelo que as empresas são investigadas?

A empresa de Bigode tem um boletim de ocorrência em aberto por estelionato. Já a XLand, o Ministério Público do Acre (MP-AC) abriu uma ação civil pública contra a empresa há mais de dois anos. Além disso, responde também por três processos na Justiça do Acre, que somados, levaram um calote de R$ 2 milhões.

A empresa fazia, de fato, investimentos?

A empresa WLJC, da qual Bigode é sócio, não está registrada em nenhum órgão regulatório do mercado financeiro. A constatação foi feita pelo g1, que consultou os sistemas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e do Banco Central.

Na busca com o CNPJ de ambas as empresas, não foram encontradas autorizações para que as empresas pudessem atuar com criptomoedas.

A XLand também nega que funciona em um esquema de pirâmide ou que deu golpes.

O que dizem os demais envolvidos?

Em entrevista ao Fantástico, Gabriel Nascimento disse que estava autorizada, juridicamente, a realizar operações de compra, venda, troca e recebimento no mercado digital de criptoativos. Ele também contou que é vítima da FTX, que faliu em novembro do ano passado e que, até então, era a segunda maior corretora de criptomoedas do mundo.

Também ao Fantástico, o advogado de Marçal Siqueira disse que o cliente não teve nenhum desvio de conduta e que não tinha poder de decisão junto à XLand.

À polícia, Camila falou que também foi vítima da XLand e que ambos confiavam nos investimentos realizados pela empresa. Camila contou ainda que recebeu um calote de R$ 1,6 milhão.

Já Jean não retornou o contato da reportagem.

Fonte: G1/AC