Michelly da Cigana afirma que expor a imagem é uma forma de desmistificar a religião a qual pertence

Em novembro do ano passado, Michelly da Cigana, líder de um templo religioso em Alvorada (RS), colocou uma estátua de Belzebu no muro de sua casa. Mas só agora um vídeo da fachada com a imagem do demônio, que tem corpo humano, asas e cabeça de bode causou um alvoroço na internet.

Em entrevista ao GLOBO, Michelly afirma que decidiu expor a imagem como uma forma de desmistificar a religião a qual pertence. Ela diz que é seguidora da umbanda, quimbanda e de religiões de matrizes africanas. Belzebu, o Maioral, é uma divindade da quimbanda e da alta magia, segundo Michelly.

— Coloquei a imagem no muro como uma espécie de adoração a Belzebu, o Maioral, uma divindade que cultuo há nove anos. Para dizer que não tenho vergonha da minha fé — explicou. — Acredito que nossa religião precisa ser desmistificada. Alguma voz pra dizer que (a quimbanda) não é uma religião das trevas.

Um vídeo publicado por Ivan Almeida no Twitter colocou a imagem em discussão. “Vizinho novo chegou causando no bairro”, diz ele ao postar duas fotos da fachada da casa de Michelly.

O tweet gerou uma discussão nas redes sobre o direito ou não da religiosa em ter a imagem no muro de sua casa. O assunto virou até tema de uma reflexão do escritor Leandro Karnal.

“Todo cidadão brasileiro pode colocar imagens na sua propriedade que representem sua crença. A tolerância ativa implica defender esta diversidade. Não gosta? Sem problema: nunca exiba um Baphomet no seu pátio. Tolere de forma ativa, como os ateus toleram (ou deveriam) um imenso Cristo Redentor no Rio ou cruzes por todas as praças. Eu vejo tudo como história e como crença subjetiva e individual. Sua fé é sua e não pode ser atacada se não violar a lei. Teocracia e intolerância são inimigas de um Estado Democrático de Direito”, escreveu Karnal.

— As divindades não entendem de internet, mas o plano espiritual fez com que tudo isso acontecesse para que tivéssemos a oportunidade de esclarecer quem é essa divindade. — afirmou. — Eu estou gostando da oportunidade de desmistificar a minha religião. Essa divindade mudou minha vida financeira, protege minha casa, minha família.

Michelly ressalva que a imagem não representou sempre Belzebu, mas originalmente, era representada como uma imagem de Baphomet. A líder religiosa disse ter tido dificuldades de encontrar a imagem adequada no Rio Grande do Sul e por isso decidiu comprar a que estava disponível e batizá-la como a divindade que queria cultuar.

A diferença entre a imagem das duas divindades é que Baphomet tem seios e Belzebu não. Ela afirma que dependendo do batismo da estátua, ela pode ganhar o título ainda de Exu Maioral.

Nas redes, a discussão é sobre os possíveis benefícios ou malefícios da divindade. E de tê-la exposta em casa. “Adorar o capiroto não é uma coisa do normal”, comentou Paulo Esposti, na postagem de Leandro Karnal. Outro, Leo Matos, defendeu: “Sou cristão, e sou super a favor da tolerância”.

— Se fosse uma imagem maligna eu não a teria dentro de minha casa, porque traria pra minha família uma energia que fosse negativa. Têm pessoas falando que vendi minha alma. Não existe isso. Se existisse, ninguém seria pobre. Pra mim, é uma divindade de luz, que representa a fertilidade, a abundância. É um deus de fartura — argumentou Michelly.


Fonte: O GLOBO