Órgão fiscalizador instaurou procedimento para apurar o caso contra o líder do povo Ashaninka Benki Piyãko. Policial civil apontado como autor de disparos foi afastado das funções

O Ministério Público Federal do Acre (MPF-AC) instaurou um procedimento para apurar tentativa de homicídio contra o líder indígena Benki Piyãko, que teria ocorrido no último 25 de fevereiro, na terra indígena Kampa, em Marechal Thaumaturgo, no interior do Acre.

O agente da Polícia Civil José Francisco Bezerra de Menezes, apontado como autor dos disparos contra a liderança do povo Ashaninka, foi afastado das funções por 30 dias e teve a arma recolhida após a denúncia. Um procedimento foi aberto da Corregedoria da Polícia Civil e foi instaurado também um inquérito na esfera criminal.

Essas informações foram confirmada ao g1 no dia 27 de fevereiro pelo delegado-geral da Polícia Civil, Henrique Maciel. A reportagem tentou contato com o delegado nesta quarta-feira (8) para saber se há alguma novidade com relação à investigação e aguarda resposta até última atualização desta matéria.

Após as denúncias, o g1 também tentou contato com Benki Piyãko, mas até última atualização desta reportagem não obteve sucesso. A polícia não recebeu informação acerca de feridos na ação.

Ao instaurar o procedimento, o procurador da República, Lucas Costa Almeida Dias, pontuou que os fatos foram amplamente divulgados, inclusive com citações de que o policial civil teria “problemas com a etnia”.

Como medida preliminar, o procurador, que atua no caso em substituição na Procuradoria da República no município de Cruzeiro do Sul, determinou que a Polícia Civil seja oficiada para informar se já existe Processo Administrativo Disciplinar (PAD) instaurado para apurar eventuais responsabilidades do policial civil.

Ainda conforme o MPF, a Coordenação Regional do Juruá, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também deve informar se existe procedimento instaurado no órgão, destacando quais medidas estão sendo adotadas para prevenir novos atentados e proteger o povo Ashaninka.

Ao g1, a Funai na regional informou que ainda não recebeu nenhum documento do MPF. "Estamos acompanhando sim. Os procedimentos a serem seguidos estão sob análise de nossa presidência", disse o coordenador substituto da Regional do Juruá, Jairo José Magalhães Lima. Ele afirmou que somente a Funai pode dar mais detalhes e a reportagem aguarda retorno do órgão.

Após a coleta das informações, o MPF informou que vai dar os devidos encaminhamentos ao caso.

Denúncias

Conforme o delegado-geral, o caso chegou ao conhecimento da Polícia Civil no dia 26 de fevereiro. A informação é que durante uma festa de aniversário na Terra Indígena Kampa, o policial José Francisco Bezerra de Menezes chegou no local embriagado, armado e fez ameaças ao líder indígena e sua família. Em seguida, foi contido pelos convidados e, ao chegar no porto da casa do Benki, ele sacou da arma e disparou.

“Nós determinamos a Corregedoria para apurar esse caso com a abertura de um inquérito policial na esfera criminal e administrativo e também o afastamento das funções por um período de 30 dias e recolhimento da arma dele. Essas medidas na área administrativa são preventivas e vamos agora aguardar as investigações”, disse o delegado na época.

Ainda segundo Henrique, o policial civil denunciado estava lotado em Marechal Thaumaturgo de forma temporária e retornou para sua lotação de origem, em Cruzeiro do Sul, onde ia seguir por 30 dias afastado das funções.

Benki Piyãko é uma das lideranças mais conhecidas da região e foi um dos acreanos anunciados pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, para compor as equipes técnicas do governo de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além dele, estavam Jorge Viana (PT), Marina Silva (Rede) e Binho Marques.

Fonte: G1/AC