Ministro da Fazenda, por outro lado, ressaltou que relação com o Banco Central deve ser de harmonia

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o comunicado do Banco Central, após a manutenção dos juros em 13,75% na noite desta quarta-feira, é "preocupante". Haddad afirmou que o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que pode voltar a subir os juros, o que tem potencial de comprometer, na sua visão, o próprio ajuste fiscal. 

Haddad mencionou que, mais cedo, o governo divulgou dados concretos que mostram uma melhora na trajetória fiscal, com a redução de R$ 231 bilhões para R$ 107 bilhões do déficit nas contas previsto para este ano.

— Eu considerei o comunicado preocupante. Muito preocupante. Hoje nós mostramos que as projeções de janeiro estão se confirmando, sobre as contas públicas. O comunicado deixa em aberto, num momento em que a economia está retraindo e que o crédito está com problema, o Copom chega a sinalizar até a possibilidade de subida da taxa, que já é a maior (taxa real) do mundo. 

A depender das futuras decisões, podemos inclusive comprometer o resultado fiscal. Daqui a pouco vai ter problemas das empresas para vender e recolher impostos — disse Haddad.

O ministro agora espera que o comunicado de hoje seja atenuado pela Ata do Copom que será divulgada na semana que vem. Esse mesmo movimento foi feito na primeira reunião do Copom do governo Lula, em janeiro.

— Vamos fazer chegar ao Banco Central as nossas observações. O primeiro comunicado veio muito duro. A Ata atenuou. Tomara que isso aconteça de novo. Nós esperamos que isso aconteça de novo. Vamos fazer chegar ao Banco Central a nossa análise sobre, na nossa análise, o que é recomendado para a economia brasileira encontrar o equilíbrio.

Haddad disse que os técnicos do BC e da Fazenda conversam, além de haver uma relação institucional. Segundo o ministro, o relatório bimestral será levado ao BC.

— Eu falei em harmonia desde a primeira entrevista, e vou continuar perseverando com esse objetivo. Nunca faltei com respeito com diretor ou com presidente do Banco Central — afirmou Haddad. — Nós temos relações institucionais que nunca se perderam. Nós somos órgãos de Estado. O Banco Central tem mandato e a lei é clara. Os técnicos têm reuniões periódicas. Vamos fazer chegar as nossas observações sobre a condução da política e econômica. Não existe ruído quando existe boa fé.

O ministro da Fazenda também negou que o adiamento da apresentação do arcabouço fiscal tenha influenciado no comunicado. O arcabouço só será apresentado em abril.

— Arcabouço pela PEC da Transição estava previsto para agosto. Eu me comprometei a entregar junto com a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias, enviada até o dia 15 de abril). A divulgação estava prevista para março e ocorrerá logo depois da nossa visita à China. Isso não pode ter feito parte das considerações do Copom neste momento. 

Estamos com toda a cautela para entregar uma regra consistente para o médio e longo prazo. Para dar sustentabilidade para as contas públicas. É um comunicado preocupante porque abre perspectivas não desejáveis.

O comunicado do Copom fala também na turbulência internacional e da desancoragem das expectativas de inflação. Para o ministro da Fazenda, a inflação brasileira está mais controlada na comparação com as principais economias do mundo.

— O Brasil está numa situação diferente dos demais países. Nossa inflação está mais controlada. A taxa de juros (real) do mundo desenvolvido continua negativa, a nossa é a maior do mundo. A desancoragem de expectativas é conjuntural. 

Expectativa muda de um dia para o outro, mas temos que olhar os fundamentos da economia a observar se há um desequilíbrio entre oferta e demanda que faça a inflação recrudescer. Eu penso que, neste momento, do ponto de vista dos fundamentos da economia, não percebo essa tendência.


Fonte: O GLOBO