"Team Jorge" usou desinformação para influenciar pleitos em vários países, principalmente na África, e conseguiu resultado esperado em 27 campanhas

Tal Hanan é o homem por trás da Team Jorge, empresa clandestina israelense que foi usada para influenciar dezenas de eleições em todo o mundo, principalmente na África, mas também em outros países como México e Espanha. 

As informações foram reveladas na quarta-feira por um grupo de jornalistas investigativos que acompanharam os serviços da agência por meses, disfarçados de potenciais clientes.

O ex-agente das forças especiais de Israel — que atuou por décadas usando o pseudônimo “Jorge” — tem cerca de 50 anos. 

Em seu perfil profissional do Linkedin, Hanan afirma atuar com Inteligência Financeira e Segurança Patrimonial e diz ser CEO da empresa Demoman International, que oferece serviços de segurança e inteligência, por mais de duas décadas. A empresa tem escritórios em países como Israel, EUA, Suíça, Espanha, México, Colômbia e Ucrânia, dentre outros.

Antes, de 1990 a 1996, Hanan trabalhou nas Forças de Defesa de Israel (IDF), como oficial de descarte de material explosivos. Ainda segundo seu perfil, ele estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém de 1997 a 2000, onde se formou em Relações Internacionais. "Sou um estudante da vida. Todo dia aprendo pelo menos uma coisa, ou tento fazer isso", escreveu.

Os repórteres infiltrados visitaram a sede onde a empresa funciona e foram recebidos por Hanan. Achando que eram dois possíveis clientes, ele brincou: “Você viu o que está escrito na porta, certo? Não diz nada. Isso é quem nós somos. 

Não somos nada." Após a reportagem, quando questionado pelo jornal britânico Guardian, Hanan não respondeu a questões detalhadas sobre as atividades e métodos da Team Jorge, mas negou qualquer irregularidade.

Aos jornalistas, o próprio Hanan afirmou que os seus serviços — descritos como "black ops" — estavam disponíveis para agências de informação, campanhas políticas e empresas privadas que quisessem manipular secretamente a opinião pública. O líder revelou ainda que o grupo atuou em África, América do Sul e Central, Estados Unidos e Europa. Do total, ele obteve os resultados esperados em 27 campanhas.

Jorge recebeu os repórteres disfarçados de consultores no final de dezembro, elegantemente vestido com um relógio caro. Era a primeira vez que eles viam o homem com quem vinham se comunicando por videochamadas — ele manteve a câmera desligada em todas as ligações. Foram mais seis horas de reuniões gravadas secretamente.

O consórcio de jornalistas que investigou o Team Jorge inclui repórteres de 30 veículos, incluindo os jornais francês Le Monde; o alemão Der Spiegel e o espanhol El País. 

O projeto, que parte de uma investigação mais ampla sobre a indústria da desinformação, foi coordenado pela Forbidden Stories, uma organização sem fins lucrativos francesa cuja missão é seguir o trabalho de repórteres assassinados, ameaçados ou presos.


Fonte: O GLOBO