Venezuelano disse apostar em uma zona econômica comum com condições especiais; é o quarto encontro entre os dois desde o ano passado

Os presidentes de Venezuela, Nicolás Maduro, e Colômbia, Gustavo Petro, reativaram, na quinta-feira, um acordo comercial assinado pelos dois países em 2011, mas que estava congelado havia quatro anos após a ruptura das relações bilaterais entre os países por tensões políticas.

Ao firmar o acordo ao lado de Petro na ponte fronteiriça Atanasio Girardot — que liga as cidades de Ureña, na Venezuela, e Cúcuta, na Colômbia —, Maduro disse apostar em uma "zona econômica" comum com condições especiais para o comércio.

— Este acordo cria as bases para darmos passos nessa direção — afirmou o presidente venezuelano durante o evento com música e danças típicas. — Novos ventos sopram aqui.

É o quarto encontro entre os dois desde que Petro assumiu, no ano passado:

— É preciso encher essas pontes de comércio, remover as barreiras que possam existir — disse, por sua vez, o colombiano. — Ainda há muito a fazer, porque não se trata de encher essas pontes apenas com comércio, mas com gente. Não me refiro ao grande capital que quer investir de um lado para o outro, me refiro ao pequeno capital dos habitantes da fronteira.

O acordo firmado em 2011, após a decisão do então presidente Hugo Chávez (1999-2013) de retirar a Venezuela da Comunidade Andina (CAN), estabelecia preferências tarifárias e critérios para o controle dos produtos a serem comercializados. Entrou em vigor em 2012.

O protocolo firmado nesta quinta "atualiza" tarifas e condições, destacou Maduro, mas nenhum dos dois governantes deu mais detalhes.

Venezuela e Colômbia querem resgatar um comércio que chegou a US$ 7,2 bilhões anuais em 2008 (R$ 38 bilhões), mas que despencou para US$ 400 milhões (R$ 2,15 bilhões) depois que os dois países romperam relações, em 2019. O restabelecimento do trânsito elevou esse número para US$ 1,2 bilhão em 2022 (R$ 6 bilhões), segundo estimativas da Câmara Colombo-Venezuelana de Integração (Cavecol).

Relações retomadas


Caracas e Bogotá retomaram relações após a chegada de Petro ao poder em agosto do ano passado, com a promessa de "normalizar" a linha divisória comum de 2,2 mil km, marcada por anos de violência, com a presença de guerrilheiros, paramilitares e narcotraficantes, e palco de múltiplos ataques de grupos armados irregulares contra as forças públicas colombianas e venezuelanas.

Em junho de 2021, um ataque com rajadas de fuzil teve como alvo um helicóptero em que o então presidente colombiano, Iván Duque, viajava.

As relações entre os dois países foram rompidas em 2019, quando o governo Duque questionou a legitimidade da reeleição de Maduro e deu seu apoio ao seu opositor, Juan Guaidó, então autoproclamado presidente interino da Venezuela.

As pontes fronteiriças foram reabertas no fim de setembro. A passagem estava restrita desde 2015 e totalmente bloqueada desde 2019, quando Guaidó liderou uma tentativa fracassada de levar alimentos e remédios enviados pelos Estados Unidos, ficando habilitadas apenas para pedestres.

A retomada do comércio acontece em meio a protestos na Colômbia, em marchas convocadas pela direita contra Petro. As pautas são em oposição a todas as propostas do governo, como as reformas da saúde, trabalhista e previdenciária, e também a transição energética e a recém-apresentada reforma da Justiça. Grande parte dos manifestantes promove críticas baseadas em teorias da conspiração, em um sinal de desinformação generalizada, defendendo por exemplo as teses de que o governo pretende instituir o comunismo e legalizar o incesto.


Fonte: O GLOBO