Brian Sicknick, o agente de segurança, morreu no dia seguinte à invasão de causas naturais; autópsia determinou, no entanto, que atos da véspera tiveram influência no quadro
O homem que jogou spray químico no rosto do policial Brian Sicknick durante a invasão do Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021 foi condenado a 80 meses, ou quase sete anos de prisão, nesta sexta-feira. O agente de segurança morreu no dia seguinte de causas naturais, mas a autópsia constatou que os atos antidemocráticos influenciaram seu quadro.
O culpado é Julian Khater, de 32 anos, que em março havia se declarado culpado de agredir um agente de segurança com arma perigosa. A sentença, contudo, foi emitida apenas hoje, intervalo que é de praxe nos EUA.
— Há agentes de segurança que perderam suas vidas, que cometeram suicídio depois disso, que não podem voltar ao trabalho — disse o juiz Thomas Hogan ao ler a sentença em um audiência. — Suas ações são indesculpáveis.
Sicknick havia mandado uma mensagem de texto para seu irmão na noite após o ataque à sede do Congresso americano durante a sessão conjunta que confirmaria a vitória de Joe Biden. Os invasores foram insuflados pelo ex-presidente Donald Trump e sua retórica falsa de que a eleição havia sido fraudada para prejudicá-lo. Ao todo, cinco pessoas morreram.
No recado para seu irmão, ele dizia que cheirava a "suor, maconha, gás de pimenta e gás lacrimogêneo". No dia seguinte, Kenneth Sicknick recebeu outra mensagem dizendo que seu irmão caçula havia morrido.
Relatos iniciais indicavam que o policial Sicknick havia morrido em decorrência dos ferimentos, mas uma autópsia posteriormente revelou que perdeu a vida devido a causas naturais após sofrer vários derrames sem relação com a invasão do Capitólio. Ainda assim, documentos apresentados à Justiça mostram que os legistas determinaram que os episódios de 6 de janeiro "tiveram um papel na sua condição".
A audiência estava lotada de colegas de Sicknick: cerca de 50 policiais do Capitólio estavam presentes, e alguns deles foram redirecionados para uma sala adjacente. A sessão também teve depoimentos de vários integrantes da família do policial, como sua mãe, Gladys Sicknick.
De acordo com a mulher, Khater atacou seu filho como "se ele fosse um animal". Qualquer sentença, disse a mulher, "não será suficiente aos meus olhos". Já Kenneth Sicknick disse que o invasor do Capitólio "ainda será mais novo do que Brian era quando morreu" quando deixar a prisão.
George Tanios, que estava com Khater em 6 de janeiro e admitiu ter comprado o spray usado pelo colega, também será sentenciado nesta sexta. Nenhum dos dois é acusado pela morte de Sicknick.
Trump, por sua vez, é alvo de uma ação civil que o responsabiliza pela morte do policial junto a Khater e Tanios. O processo, que pede ao menos US$ 10 milhões de indenização, é movido por uma colega de longa data de Sicknick e afirma que a perda de sua vida foi uma "consequência direta e previsível" dos papeis que os acusados tiveram nas cenas de violência vistas no dia.
No início do mês, quando o ataque do Capitólio completou dois anos, mais de 950 haviam sido presas por relação com o incidente e mais de 350 foram condenadas por acusações variadas. Pouco mais de 190 haviam recebido sentenças de prisão.
Embora grande parte dos presos até o momento tenha enfrentado acusações menores de contravenção, que incluem a invasão de um prédio federal de ingresso restrito, alguns foram processados por crimes mais graves, como conspiração sediciosa — a mais séria apresentada com relação aos incidentes no Capitólio, com pena máxima de 20 anos de prisão.
Os primeiros investigados por tal crime foram cinco membros da milícia de extrema direita Oath Keepers. O líder do grupo, Stewart Rhodes, e sua subordinada Kelly Meggs, que dirigia o braço da organização na Flórida, foram condenados e aguardam a sentença.
Segundo o advogado de Rhodes, Philip Linder, seu cliente e seus subordinados nunca planejaram um ataque contra o governo, pois acreditavam apenas estar agindo sob as ordens de Trump. A maior pena até agora, contudo, foi para o policial nova-iorquino aposentado Thomas Webster, que atacou policiais com o mastro de uma bandeira. Ele foi condenado a 10 anos de prisão.
O ato de 6 de janeiro também foram investigado por mais de um ano por uma comissão independente da Câmara, composta por sete deputados democratas e dois republicanos. Em dezembro, o relatório final do grupo concluiu que Trump conspirou criminalmente "com várias partes" para anular os resultados legais das eleições de 2020, e que ele não agiu para impedir que seus partidários atacassem a sede do Congresso.
A comissão então recomendou ao Departamento de Justiça que considere não só proibir que Trump ocupe cargos políticos, mas também processá-lo criminalmente pelos crimes de insurreição, obstrução de procedimentos oficiais, conspiração para promover fraude e por fazer declarações falsas. Foi a primeira vez na História americana que o Congresso recomendou um processo criminal contra um ex-presidente.
Fonte: O GLOBO
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