Ação anunciada por governo de esquerda à Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um caso raro na região, onde violações aos direitos humanos em protestos costumam passar impunes
Em uma atitude incomum para governos da América Latina, a Colômbia se comprometeu perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a reparar as vítimas da repressão policial nos protestos antigovernamentais de 2021, anunciou o presidente Gustavo Petro nesta sexta-feira.
O presidente de esquerda, que como senador apoiou as manifestações contra seu antecessor, o conservador Iván Duque (2018-2022), fez o anúncio no Twitter:
"Reuni-me com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para examinar suas recomendações sobre o agito social de 2020/21. O Estado se compromete a reparar as vítimas que deixou por ocasião da repressão que desencadeou contra o movimento social", escreveu.
Ainda não estão claras como serão as reparações.
Delegados da CIDH visitaram Bogotá para acompanhar a resposta do Estado colombiano às suas recomendações após o agito social que deixou mais de 60 mortos. Entre abril e junho de 2021, centenas de milhares de pessoas foram às ruas para se manifestar contra o aumento de impostos para a classe média durante a fase mais grave da pandemia.
O desconforto provocou a saída do ministro da Fazenda, promotor da proposta que teve de ser retirada pelo governo, e colocou o presidente Duque em xeque.
Outros países e organizações internacionais condenaram a violência policial contra os manifestantes. Em 2021, a CIDH criticou o governo pela resposta "desproporcional" e "letal" do batalhão de choque e apresentou um relatório de 48 páginas denunciando violações dos direitos humanos.
Durante a apresentação de um relatório nesta sexta-feira, a presidente da Comissão, Julissa Mantilla, destacou haver "avanços nas investigações de crimes cometidos" por policiais uniformizados e civis.
Como líder da oposição, Petro apoiou os manifestantes, vários deles jovens sem educação e sem emprego.
Ao chegar ao poder, em agosto de 2022, ele pediu a suspensão dos mandados de prisão de pessoas presas em meio aos protestos em troca da prestação de serviços humanitários como “gestores da paz”.
A oposição rejeitou a iniciativa, considerando-a benevolente com pessoas que classificava como "terroristas".
A medida anunciada por Petro é um caso raro de reparação por parte do Estado em situações de abusos de direitos humanos cometidos por forças policias durante manifestações na região. Na última década, protestos em países como Bolívia, Chile e Nicarágua não tiveram desfecho comparável. O caso mais recente de mortes em massa em protestos acontece no Peru, onde mais de 50 manifestantes já morreram no atual ciclo de manifestações.
Fonte: O GLOBO
0 Comentários