No tribunal, Victor Campelo se dirigiu à mãe de Rafael Frota e, entre lágrimas, pediu desculpas. Rafael Frota foi morto em 2016 nesta quarta-feira (25) ocorreu o segundo dia de júri do caso

O segundo dia de julgamento do policial federal Victor Campelo, acusado de matar o estudante Rafael Frota em julho de 2016 após disparar a arma dentro de uma boate em Rio Branco, durou pouco mais de oito horas nesta quarta-feira (25).

O interrogatório do policial era um dos momentos mais esperados. Das 16h15 às 17h57, ele respondeu às perguntas do juiz Alesson Braz, defesa e promotoria. Ao final, ele se emocionou e, entre lágrimas, pediu desculpas à mãe de Rafael, Neide Frota, que assistia ao interrogatório na 2ª Vara do Tribunal do Júri.

“Sei que isso não muda muita coisa com relação às pessoas que perderam um familiar, mas quero dizer que sempre fui sensível à situação deles, desde o primeiro momento. Minha irmã me ligou ontem perguntando como que foi e disse que ela lembrava que eu dizia que queria dar um abraço na mãe do Rafael, porque eu lembro muito da minha mãe”, disse entre lágrimas.

Então, o juiz Alesson Braz o lembrou que Neide estava sentada atrás dele, ouvindo o interrogatório. Foi o momento em que Victor, muito emocionado e com a voz embargada, se dirige à mãe de Rafael.

“Me desculpe de verdade, eu nunca quis fazer mal pra senhora”, disse entre lágrimas. A defesa não autorizou fazer imagens de Victor durante o julgamento.

O segundo dia do júri começou por volta das 9h49. E, durante o dia, outras testemunhas de defesa foram ouvidas, entre elas dois policiais federais e uma digital influencer que estava no dia do ocorrido, Yasmin D'Anzicourt Cavalcante.

Todas as oitivas foram por videoconferência. Alguns depoimentos, de outras datas, de testemunhas que não compareceram foram reproduzidos.

‘Me arrependi de ter saído de casa’

Porém, o mais esperado era o interrogatório do policial federal. Ele foi ouvido das 16h15 às 17h57. Ele relatou que a confusão começou porque Marcos Antônio Souza Santos, testemunha ouvida no primeiro dia de julgamento, estava dando em cima de Lavínia e, ao negar ficar com ele, teria ficado agressivo e proferindo palavrões contra ela.

Victor então diz que falou firmemente para que ele se afastasse de Lavínia e foi nessa hora que alguém o agrediu com um soco e ele caiu desacordado. Em seguida, foi alvo de chutes e, segundo ele, neste momento foi quando disparou para que os agressores se dispersassem.

“A questão é que a arma não é o perigo, tanto que tinha vários policiais lá dentro e eu sempre estava presente e nunca aconteceu nada. O problema foi o causador disso. Policial só se defende”, disse.

Ele também afirmou que não havia ingerido bebida alcoólica no dia. Após os disparos, ele viu que também estava ferido no pé e, segundo o policial, ele só soube da morte de Rafael quando estava na sala do hospital. Ao falar da morte do estudante, ele se emocionou.

“Foi uma ordem para ele se afastar dela. Eu nunca tinha presenciado uma mulher sendo quase agredida”, disse.

A defesa do policial levou para o júri a calça que ele usava no dia do ocorrido, que mostra o ferimento no pé. Victor disse que a bala usada por ele, quando disparada, se divide em nove pedaços e, por isso, os estilhaços ainda estão na perna.

“Era mais arriscado fazer cirurgia para tirar, então ficou lá até hoje”, completa.

Durante o depoimento, ele também falou da família e, como está no 5º período de direito, disse que pretende ser juiz ou promotor. Além disso, destacou que tem uma boa pontuação na avaliação anual da Polícia Federal, onde está há 7 anos.

Victor disse que as agressões foram simultâneas e que só disparou para que saíssem de cima dele. Ao ser questionado pela defesa sobre arrependimento, ele enfatizou:

“A única coisa que me arrependo é de ter saído de casa, porque quando a gente sai, não quer arranjar problema e acabamos em uma situação que não dá pra correr, gritar, não tem o que fazer e foi o que aconteceu.”


Policia Federal Alberto foi a segunda testemunha a ser ouvida nesta quarta-feira (25) — Foto: Victor Lebre/g1

Terceiro dia

O júri continua na quinta-feira (26) com a fase de debate orais, sendo:

1h30 acusação
1h30 defesa do réu
1h réplica
1h tréplica

Depois disso, há a votação dos jurados e a leitura da sentença.

Morte na boate

O crime ocorreu na madrugada de 2 de julho de 2016. A Polícia Federal (PF-AC) informou na época que os disparos foram feitos em legítima defesa, já que Victor Campelo foi agredido por várias pessoas e caiu no chão. Um dos tiros acertou Rafael Frota, que chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Outro homem e o próprio policial também ficaram feridos. Atualmente, o processo dentro da PF foi arquivado.

Um dia depois do ocorrido, o policial federal foi encaminhado à audiência de custódia, onde a Justiça do Acre decidiu pela manutenção da prisão. O TJ-AC afirmou que o suspeito alegou legítima defesa, mas o argumento não convenceu o juiz. Campelo ficou custodiado na sede da PF.

Familiares de Frota chegaram a fazer um ato no Centro da capital acreana para pedir justiça. O pai do jovem, Gutemberg Frota, disse que era uma tentativa de sensibilizar a sociedade para que crimes dessa natureza não ficassem impunes.

Na noite de 26 de julho de 2016, a Polícia Civil reconstituiu a morte do estudante Rafael Frota. Campelo e a ex-namorada dele, Lavínia Melo, e os jovens apontados como responsáveis pela confusão que teria motivado os tiros, retornaram à casa noturna, no bairro Aviário, para participar da reconstituição.

Em maio de 2017, o policial teve duas medidas cautelares revogadas pela Justiça do Acre. Entre as medidas, estavam a revogação da proibição de frequentar bares, boates e casas noturnas, bem como o recolhimento domiciliar a partir das 19h nos finais de semana, feriados e dias de folga. Atualmente, ele não mora mais no Acre e exerce a profissão em outro estado.

Fonte: G1/AC