A candidata à prefeitura de Belo Horizonte Duda Salabert, na sabatina O GLOBO, Valor e CBN — Foto: Divulgação/CBN
Em sabatina do GLOBO, Valor e CBN nesta quinta-feira, a candidata do PDT à prefeitura de Belo Horizonte, Duda Salabert, mirou em uma polarização com o candidato bolsonarista Bruno Engler (PL) e disse ser alvo de preconceito na política, inclusive por parte da esquerda, por ser uma mulher trans. A pedetista direcionou críticas tanto ao atual prefeito Fuad Noman (PSD) quanto a antecessores, e também apostou em um derretimento de Mauro Tramonte (Republicanos), que é apoiado pelo ex-prefeito Alexandre Kalil e pelo governador Romeu Zema (Novo).
Duda foi a quarta sabatinada na série de entrevistas do GLOBO, Valor e CBN com os postulantes à prefeitura de BH. A sabatina foi transmitida pela rádio e nos sites e redes sociais dos três veículos.
Logo no início da sabatina, a candidata do PDT argumentou que suas votações recorde na campanha a vereadora em Belo Horizonte, em 2020, e a deputada federal em 2022 a credenciam como capaz de atrair apoios "da esquerda, do centro e da direita". A pedetista aparece tecnicamente empatada na segunda colocação da corrida à prefeitura de BH, segundo o Rali, agregador de pesquisas do GLOBO.
Ela afirmou ainda que está se "sacrificando do ponto de vista pessoal" para concorrer na capital mineira, e que seu objetivo é evitar que a cidade seja governada pelo que classificou como "ultra-direita"
-- Nossa candidatura tem musculatura, fôlego, e por isso iremos para o segundo turno. Não aceitei disputar o processo eleitoral para demarcar posição. Nossa proposta é de vitória. Estou me sacrificando do ponto de vista pessoal, porque a violência política que sofro na campanha é gigantesca, mas não podemos deixar BH cair na mão da ultra-direita -- disse a candidata.
Embora a liderança nas pesquisas até aqui seja de Mauro Tramonte, Duda argumentou que o adversário "vai derreter" e projetou uma disputa de segundo turno contra o bolsonarista Bruno Engler (PL), cujos aliados já foram acusados de transfobia contra a candidata do PDT.
A pedetista ironizou o candidato do PL, alegando que ele tem "dificuldade para formular uma frase" sem palavras como "gênero", "trans" e "banheiro". Ela também afirmou que o fato de ser mulher trans não é o mote de sua campanha, e que passará a dar atenção a impactos sociais gerados pelo preconceito contra transexuais e travestis. Duda citou estatísticas que apontam que a maioria das pessoas trans não conclui o Ensino Médio e sofre com doenças sexualmente transmissíveis.
-- Não estou na política para discutir se o correto é discutir é obrigada, obrigado ou obrigade. Não estou na política para discutir qual banheiro devo usar. E sim para discutir questões sérias para a cidade. (...) Não é que vai ter uma atenção maior (para pessoas trans). Vai ter atenção. Nunca teve. Qual é a política para pessoas travestis e transexuais em situação de rua? Não existe.
O prefeito não liga, acha normal ver travesti somente na esquina de madrugada na (avenida Dom) Pedro II. Ninguém liga para nós. Eu vou ligar. Se 90% não concluíram o Ensino Médio, vamos fazer uma EJA (Educação para Jovens e Adultos). Se 41% tem HIV, vamos fazer política de redução. Se 6% foram expulsas de casa por preconceito, vamos fazer um programa de empregabilidade. Belo Horizonte está mostrando para o mundo todo que não tolera preconceito.
Falta de apoio na esquerda
Questionada sobre o porquê de não ter conseguido unificar a esquerda em torno de sua candidatura, Duda argumentou que os partidos desse campo nunca caminharam juntos no primeiro turno em BH -- um de seus adversários é o petista Rogério Correia, que tem o apoio do PSOL. Depois, Duda ampliou sua resposta afirmando que enxerga preconceito do sistema político como um todo.
-- Qualquer candidatura no Brasil que tivesse uma pessoa com 12 a 15 pontos nas pesquisas, com chances reais de ir para o segundo turno, era para ter cinco, dez partidos apoiando. E por que ninguém nos apoia? Sem dúvida porque sou uma pessoa trans. BH não vê problema algum em ter a pessoa mais votada na história de seu parlamento ser uma pessoa trans. Mas a política vê, porque é cheia de preconceitos ainda. Isso não é um problema para a sociedade, mas é um problema na política. Por isso as pessoas estão tendo cada vez mais problemas com os partidos, porque eles não representam o que a sociedade quer -- declarou.
Falta de apoio na esquerda
Questionada sobre o porquê de não ter conseguido unificar a esquerda em torno de sua candidatura, Duda argumentou que os partidos desse campo nunca caminharam juntos no primeiro turno em BH -- um de seus adversários é o petista Rogério Correia, que tem o apoio do PSOL. Depois, Duda ampliou sua resposta afirmando que enxerga preconceito do sistema político como um todo.
-- Qualquer candidatura no Brasil que tivesse uma pessoa com 12 a 15 pontos nas pesquisas, com chances reais de ir para o segundo turno, era para ter cinco, dez partidos apoiando. E por que ninguém nos apoia? Sem dúvida porque sou uma pessoa trans. BH não vê problema algum em ter a pessoa mais votada na história de seu parlamento ser uma pessoa trans. Mas a política vê, porque é cheia de preconceitos ainda. Isso não é um problema para a sociedade, mas é um problema na política. Por isso as pessoas estão tendo cada vez mais problemas com os partidos, porque eles não representam o que a sociedade quer -- declarou.
Além da falta de apoio da esquerda, a candidatura de Duda foi questionada dentro do próprio PDT pelo presidenciável do partido em 2022, Ciro Gomes, que chamou a correligionária de "ególatra" e disse que ela "não tem preparo" para ser prefeita. Na sabatina desta quinta-feira, a candidata afirmou "ter dó" do colega de partido.
-- Sobre o Ciro Gomes, tenho até dó, porque onde ele passa sai destilando ódio contra todo mundo. Torço para que ele cuide da saúde mental dele e tenha uma vida menos amargurada. A última eleição o amargurou muito -- afirmou.
Crítica a ex-prefeitos e à atual gestão
Em diferentes momentos da sabatina, Duda fez críticas aos ex-prefeitos Alexandre Kalil (sem partido) e Fernando Pimentel (PT) e também à atual gestão de Fuad Noman (PSD). Sobre Pimentel, que depois de ser prefeito de BH se elegeu governador de Minas Gerais, a candidata do PDT afirmou que ele foi responsável pelo contrato de concessão de ônibus, que "abre margem para diversas corrupções".
Ainda na área de mobilidade urbana, Duda também cutucou Kalil, que apoia a candidatura de Mauro Tramonte (Republicanos), atribuindo a equívocos de sua gestão a necessidade de reajuste da passagem de ônibus anunciado na gestão de Fuad -- que era vice-prefeito e assumiu o Executivo municipal em 2022, quando o ex-aliado renunciou para concorrer ao governo estadual.
-- Não vai ter compromisso nenhum com máfia do transporte público. Esse contrato (atual) foi feito em 2008, na gestão do então prefeito Fernando Pimentel, e na época já se dizia que era um dos piores do Brasil. Vamos romper com isso, e também trazer para BH o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que é mais barato e mais eficaz do que o metrô. (...) Desconfiem dos candidatos. Pode ser super moderna a proposta, mas se apertou a mão desse empresário, vai ser igual à gestão do Kalil. Que dizia que ia abrir a caixa preta, e a caixa preta disse que tinha que aumentar o preço da passagem -- ironizou.
Duda também criticou a rotatividade na secretaria municipal de Educação nos dois anos de gestão de Fuad Noman, período em que a capital mineira teve cinco secretários.
-- Não tem continuidade na Educação. (Fuad) Troca mais de secretario do que troca de roupa, ou de suspensório. Porque faz lobby com partido político e aperta a mão desses empresários, que eu disse que não vou apertar.
Salário de professores e Lagoa da Pampulha
Questionada sobre temas da cidade durante a sabatina, a candidata do PDT reafirmou uma promessa que tem feito de renunciar ao cargo, caso eleita, se não "melhorar consideravelmente a qualidade da água" na Lagoa da Pampulha em dois anos.
Ao citar exemplos de projetos de despoluição de rios, córregos e lagos que considera bem sucedidos, Duda apontou locais como Niterói, cidade governada pelo colega de partido Axel Grael (PDT), e Brasília, com o Lago Paranoá.
Ela também argumentou que é possível cumprir outra promessa de campanha, a de reajustar o salários de professores da rede municipal de Belo Horizonte para que seja o "maior entre todas as capitais". Segundo Duda, o impacto orçamentário da medida seria de R$ 200 milhões por ano. Ela afirmou que seu primeiro ato na prefeitura, se eleita, será enviar um projeto de lei à Câmara de Vereadores de BH para pautar o assunto.
-- O básico é ter professor bem pago. O jovem não quer ser professor porque paga mal, é desprestigiado e, nas últimas eleições, foi perseguido pela extrema-direita. O impacto orçamentário será de cerca de R$ 200 milhões por ano para pagar o maior salário entre as capitais. É muito dinheiro? Belo Horizonte vai arrecadar neste ano de IPTU cerca de R$ 2 bilhões, e a prefeitura está dando R$ 1 bilhão para a máfia do transporte público.
Sabatinas continuam nesta sexta
O GLOBO e Valor e a rádio CBN deram início nesta semana às sabatinas com os principais candidatos às prefeituras de Belo Horizonte, Rio e São Paulo. Os cinco primeiros colocados na corrida da capital mineira abriram a série: Mauro Tramonte (Republicanos) foi entrevistado na segunda-feira, seguido por Fuad Noman (PSD), na terça-feira, e Bruno Engler (PL), na quarta-feira.
Depois de Duda Salabert, nesta quinta, Carlos Viana (Podemos) encerra a série de entrevistas em Belo Horizonte, na sexta-feira.
Em todas as capitais, as sabatinas serão conduzidas por jornalistas e colunistas dos três veículos. Na capital mineira, os candidatos serão entrevistados pelas colunistas Bela Megale e Renata Agostini, do GLOBO e da CBN, pela âncora da rádio Shirley Souza e pela jornalista Cibelle Bouças, do Valor Econômico.
Fonte: O GLOBO
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