Roy Cooper, popular governador democrata da Carolina do Norte e trunfo da campanha de Kamala Harris, posa para fotos durante passeata pró-direito ao aborto — Foto: Kate Medley/NYT
Ainda faltam dois meses para a maioria dos americanos irem às urnas, mas a votação para definir quem irá comandar a Casa Branca a partir de janeiro começou oficialmente às 0h desta sexta-feira, dia 6 de setembro. E justamente no decisivo estado da Carolina do Norte, um dos mais disputados pela vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump. A média das pesquisas para se garantir os 16 delegados ao Colégio Eleitoral do estado sulista mostra o republicano com 47,9% contra 47,2% para a democrata. Empate técnico.
Na Carolina do Norte, quem preferir pode votar de casa e não é preciso explicar o motivo. Basta entrar no site da Junta Eleitoral Estadual, pedir o formulário, imprimir a cédula, preenchê-la e, claro, retorná-la até 4 de novembro na respectiva seção eleitoral, pelos Correios ou pessoalmente. Além de eleitores que não estarão em suas cidades no dia 5 de novembro, data das eleições, uma terça-feira e dia normal de labuta, o voto adiantado também ajuda os que querem evitar eventuais filas, especialmente no fim da tarde.
No entanto, o voto antecipado na Carolina do Norte impede o eleitor de bater o martelo após momentos centrais da disputa nos próximos dias, entre eles o debate entre Kamala e Trump nesta terça-feira, dia 10. E também a sentença, marcada para o dia 18, da única condenação até agora do ex-presidente em suas muitas batalhas contra a Justiça, a referente ao suborno de US$ 130 mil pago à atriz pornô Stormy Daniels para silenciar sobre suposto caso com Trump em 2016, com capacidade de influenciar o resultado das eleições à época.
Maioria dos estados antecipa voto, mas apuração começa na noite de 5/11
A maioria das unidades da federação oferece a opção de se votar antes de 5 de novembro, mas a partir de 45 ou 30 dias antes. O mesmo vale para militares estacionados fora dos Estados Unidos e cidadãos que vivem no exterior, que assim conseguem também participar do processo.
Os números de quem votou antecipadamente são conhecidos no dia da votação mas a apuração das cédulas enviadas pelo Correio ou entregues nas seções antes do dia 5, mas a apuração não é antecipada. Nos últimos anos, em todo o país, mais eleitores democratas têm votado com antecedência o que intensifica a necessidade de mobilização dos republicanos no dia do voto.
A Carolina do Norte que queima a largada este ano é um dos estados observados mais de perto pelos dois lados da disputa. É, também, um dos que terminam mais cedo a apuração de seus votos, um universo de de 5,5 milhões. Em 2020, Trump venceu o presidente Biden no estado sulista com vantagem de pouco mais de 1 ponto percentual, ou 74 mil votos.
A Carolina do Norte que queima a largada este ano é um dos estados observados mais de perto pelos dois lados da disputa. É, também, um dos que terminam mais cedo a apuração de seus votos, um universo de de 5,5 milhões. Em 2020, Trump venceu o presidente Biden no estado sulista com vantagem de pouco mais de 1 ponto percentual, ou 74 mil votos.
Mas os democratas acreditam que Kamala conseguirá repetir a vitória de Barack Obama em 2008, quando a campanha do ex-presidente conseguiu mobilizar de forma até então inédita os moradores afro-americanos das zonas rurais do estado, universo hoje estimado em 2,1 milhões de pessoas. À época, Obama chegou à frente do senador John McCain por apenas e exatos 13.692 votos.
Sem o mesmo ânimo da base, quatro anos depois, mesmo com Charlotte, a cidade mais populosa do estado, sediando a Convenção Nacional Democrata, ele perdeu para o ex-governador Mitt Romney por 92 mil votos. E em 2016, Trump venceu a ex-Secretária de Estado Hillary Clinton pela vantagem mais larga do século, 173 mil votos. Algo que nem o mais otimista dos republicanos crê, no entanto, ser possível replicar em novembro.
"Wall Street do Sul"
As razões da mudança do perfil do eleitorado, que vota majoritariamente republicano desde os anos 1970, está na maior diversificação do estado, cada vez mais urbanizado e com alto e consistente crescimento econômico — hoje na briga, com Flórida e Geórgia, pela alcunha de Wall Street do Sul.
O corredor da tecnologia formado por Raleigh (a capital), Durham e Chapel Hill, mostra o Instituto Brookings, registrou aumento populacional de quase 6% desde 2020. Em comparação com 1990, mostra outro estudo, da Chapel Hill, o estado tem 1,4 milhões de moradores a mais com ensino superior completo, estrato que vota majoritariamente com os democratas. A intenção de voto dos estudantes das universidades da Carolina do Norte, Duke e de Chapel Hill, que as pesquisas mostravam em banho-maria com Biden candidato, se multiplicou com a entrada de Kamala na disputa.
Na eleição de meio mandato, em 2022, 37% dos que foram às urnas no estado se identificaram como “independentes”, o mais alto número de não filiados a um dos dois lados em quatro décadas (os demais se dividem, quase ao meio, entre os dois lados). É percebido, portanto, como palco ideal para se provar a capacidade de persuasão das duas candidaturas aos que decidirão o pleito em todo país: moderados independentes. Os dois lados concordam que um dos sinais importantes na noite de terça-feira, 5 de novembro, virá da zona rural e dos subúrbios da Carolina do Norte – se os independentes engordarão o movimento pró-Kamala ou se voltarão aos braços de Trump.
Este ano, pesam na Carolina do Norte dois fatores que não estavam presentes nas duas vitórias anteriores do ex-presidente: o mais óbvio é a mobilização do eleitorado afro-americano (1,8 milhões de eleitores registrados, ou quase 33% do total) em torno da primeira mulher negra com possibilidade real de se tornar presidente do país.
A campanha democrata anunciou, em agosto, a entrada de 10 mil novos voluntários (que jamais haviam trabalhado em campanhas) no estado, tanto nas áreas metropolitanas como nas rurais e nos subúrbios, desde a substituição de Biden por Kamala como cabeça da chapa. E um aumento de 44% de registros de eleitores feitos pelo esforço da militância de levá-los às urnas desde o sepultamento do projeto da reeleição. Os republicanos, por sua vez, compraram no mesmo mês as primeiras e caras peças publicitárias nas tevês locais, sinal de que identificaram a mudança da disputa em um estado que precisam vencer.
Candidato republicano atacou gays, mulheres e judeus
Outro novo fator é a disputa pelo governo local. Pleito que atrapalha, e muito, apontam especialistas, os republicanos. Não foi mero acaso o último discurso antes do de Kamala, na Convenção Nacional Democrata, ter sido o do popular governador do estado, Roy Cooper. Reeleito há quatro anos, ele quer passar o comando do estado para o procurador e Advogado-Geral do estado, Josh Stein, e está decidido a repetir o feito de 2008 e assegurar os 16 votos do estado no Colégio Eleitoral para a vice-presidente. Cotado para ser o vice da vice, tirou seu nome da corrida com a justificativa de que precisava se concentrar até novembro em percorrer todos os condados da Carolina do Norte defendendo a importância de se votar em Kamala e não em Trump.
Muito próximo de Kamala, que também teve os mesmos cargos no Judiciário da Califórnia, Joss Stein, por sua vez, abriu frente de 14% sobre o adversário, o trumpista e vice-governador Mark Robinson, de acordo com a mais recente pesquisa para o governo da Carolina do Norte, divulgada na semana passada pela Universidade Elon, localizada no corredor tecnológico do estado e muito respeitada pelos caciques políticos locais.
Robinson, que é negro, é popular por sua biografia — saiu de uma infância pobre para o comando do trumpismo no estado — e retórica inflamada, que às vezes lembra a de Trump. Mas é igualmente notório por suas tiradas contra pessoas LGBTQUIA+, judeus e mulheres. É, por isso, percebido por muitos independentes e apresentado seguidamente pelo adversário democrata, que é branco, como um radical de extrema direita, distante do centrismo da maioria dos eleitores do estado sulista.
mas Cooper e Stein não conseguiram, apesar da mobilização popular, manter o veto do governo estadual a projeto de lei da assembléia estadual, de maioria republicana e apoiada por Robinson, de proibir o aborto após 12 semanas.
Por outro lado, a mesma pesquisa da Universidade Elon que registrou vantagem de 14% de Stein sobre Robinson mostrou que 85% dos eleitores estão decididos a votar no mesmo partido para presidente e governador na Carolina do Norte. Dá, assim, mais fôlego para Kamala em uma das disputas mais acirradas da eleição e que começou oficialmente a tomar forma nesta sexta-feira.
Fonte: O GLOBO
Sem o mesmo ânimo da base, quatro anos depois, mesmo com Charlotte, a cidade mais populosa do estado, sediando a Convenção Nacional Democrata, ele perdeu para o ex-governador Mitt Romney por 92 mil votos. E em 2016, Trump venceu a ex-Secretária de Estado Hillary Clinton pela vantagem mais larga do século, 173 mil votos. Algo que nem o mais otimista dos republicanos crê, no entanto, ser possível replicar em novembro.
"Wall Street do Sul"
As razões da mudança do perfil do eleitorado, que vota majoritariamente republicano desde os anos 1970, está na maior diversificação do estado, cada vez mais urbanizado e com alto e consistente crescimento econômico — hoje na briga, com Flórida e Geórgia, pela alcunha de Wall Street do Sul.
O corredor da tecnologia formado por Raleigh (a capital), Durham e Chapel Hill, mostra o Instituto Brookings, registrou aumento populacional de quase 6% desde 2020. Em comparação com 1990, mostra outro estudo, da Chapel Hill, o estado tem 1,4 milhões de moradores a mais com ensino superior completo, estrato que vota majoritariamente com os democratas. A intenção de voto dos estudantes das universidades da Carolina do Norte, Duke e de Chapel Hill, que as pesquisas mostravam em banho-maria com Biden candidato, se multiplicou com a entrada de Kamala na disputa.
Na eleição de meio mandato, em 2022, 37% dos que foram às urnas no estado se identificaram como “independentes”, o mais alto número de não filiados a um dos dois lados em quatro décadas (os demais se dividem, quase ao meio, entre os dois lados). É percebido, portanto, como palco ideal para se provar a capacidade de persuasão das duas candidaturas aos que decidirão o pleito em todo país: moderados independentes. Os dois lados concordam que um dos sinais importantes na noite de terça-feira, 5 de novembro, virá da zona rural e dos subúrbios da Carolina do Norte – se os independentes engordarão o movimento pró-Kamala ou se voltarão aos braços de Trump.
Este ano, pesam na Carolina do Norte dois fatores que não estavam presentes nas duas vitórias anteriores do ex-presidente: o mais óbvio é a mobilização do eleitorado afro-americano (1,8 milhões de eleitores registrados, ou quase 33% do total) em torno da primeira mulher negra com possibilidade real de se tornar presidente do país.
A campanha democrata anunciou, em agosto, a entrada de 10 mil novos voluntários (que jamais haviam trabalhado em campanhas) no estado, tanto nas áreas metropolitanas como nas rurais e nos subúrbios, desde a substituição de Biden por Kamala como cabeça da chapa. E um aumento de 44% de registros de eleitores feitos pelo esforço da militância de levá-los às urnas desde o sepultamento do projeto da reeleição. Os republicanos, por sua vez, compraram no mesmo mês as primeiras e caras peças publicitárias nas tevês locais, sinal de que identificaram a mudança da disputa em um estado que precisam vencer.
Candidato republicano atacou gays, mulheres e judeus
Outro novo fator é a disputa pelo governo local. Pleito que atrapalha, e muito, apontam especialistas, os republicanos. Não foi mero acaso o último discurso antes do de Kamala, na Convenção Nacional Democrata, ter sido o do popular governador do estado, Roy Cooper. Reeleito há quatro anos, ele quer passar o comando do estado para o procurador e Advogado-Geral do estado, Josh Stein, e está decidido a repetir o feito de 2008 e assegurar os 16 votos do estado no Colégio Eleitoral para a vice-presidente. Cotado para ser o vice da vice, tirou seu nome da corrida com a justificativa de que precisava se concentrar até novembro em percorrer todos os condados da Carolina do Norte defendendo a importância de se votar em Kamala e não em Trump.
Muito próximo de Kamala, que também teve os mesmos cargos no Judiciário da Califórnia, Joss Stein, por sua vez, abriu frente de 14% sobre o adversário, o trumpista e vice-governador Mark Robinson, de acordo com a mais recente pesquisa para o governo da Carolina do Norte, divulgada na semana passada pela Universidade Elon, localizada no corredor tecnológico do estado e muito respeitada pelos caciques políticos locais.
Robinson, que é negro, é popular por sua biografia — saiu de uma infância pobre para o comando do trumpismo no estado — e retórica inflamada, que às vezes lembra a de Trump. Mas é igualmente notório por suas tiradas contra pessoas LGBTQUIA+, judeus e mulheres. É, por isso, percebido por muitos independentes e apresentado seguidamente pelo adversário democrata, que é branco, como um radical de extrema direita, distante do centrismo da maioria dos eleitores do estado sulista.
mas Cooper e Stein não conseguiram, apesar da mobilização popular, manter o veto do governo estadual a projeto de lei da assembléia estadual, de maioria republicana e apoiada por Robinson, de proibir o aborto após 12 semanas.
Por outro lado, a mesma pesquisa da Universidade Elon que registrou vantagem de 14% de Stein sobre Robinson mostrou que 85% dos eleitores estão decididos a votar no mesmo partido para presidente e governador na Carolina do Norte. Dá, assim, mais fôlego para Kamala em uma das disputas mais acirradas da eleição e que começou oficialmente a tomar forma nesta sexta-feira.
Fonte: O GLOBO
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