Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo, atuais presidente e diretor de política monetária do BC — Foto: Luisa Penna / Editoria de Arte
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil finaliza nesta quarta-feira, dia 18, a reunião para decidir qual será a nova taxa básica de juros do país, a Selic. A decisão ocorre no mesmo dia em que o Fed, banco central americano, deve decidir pela redução da taxa na maior economia do mundo — por isso, o dia é também chamado de "Superquarta". Nas últimas três reuniões, o comitê manteve a Selic em 10,5% ao ano, mas sua manutenção no atual patamar é descartada por diversas instituições de mercado. Se a taxa for de fato elevada, será a primeira alta no governo Lula.
Grandes bancos e financeiras já apostam num início de ciclo de alta, diante da atual conjuntura de economia forte, desemprego em patamar baixo e estímulos fiscais impulsionando a economia. Tudo isso impulsiona o consumo, o que pressiona a inflação. Para manter o índice de preços sob controle, o BC elevar a taxa de juros, tornando o crédito mais caro e, assim, reduzindo o apetite pelo consumo.
De 126 instituições e consultorias ouvidas pelo jornal Valor Econômico na semana passada, 108 esperam um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic hoje, para 10,75%.
Na última ata da reunião do Copom, os diretores afirmaram, de forma unânime, que não hesitariam em aumentar juros para assegurar a convergência da inflação para a meta de 3%.
A autoridade afirmou, no início de agosto, que o cenário global incerto e o doméstico, marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas "demandavam acompanhamento diligente e ainda maior cautela".
Uma das instituições que creem num aumento da taxa Selic é o BTG Pactual. Para o banco, “a combinação de atividade econômica robusta, desinflação lenta e expectativas de inflação desancoradas ficou ainda mais evidente nas últimas semanas". Em relatório, o banco diz ainda que "um ajuste agora tenderia a favorecer cenários mais sustentáveis para a flexibilização da política monetária em 2025”.
O BTG ainda elenca como fundamental o apoio de uma política fiscal mais contida para que essa expectativa se realize.
Outros bancos, como Santander, Itaú e XP também apontam para um ciclo de alta, que deve alcançar os 12% ao ano em janeiro de 2025.
Expectativa aumentou desde última reunião
Os dados da economia brasileira divulgados após a última reunião demonstraram exatamente aquilo que a ata do encontro informou como pontos de atenção.
O desemprego caiu para o menor patamar histórico e o PIB do 2 º trimestre avançando forte e bem acima das expectativas alimentaram as expectativas de agentes para um ciclo de aperto.
A partir da última decisão, declarações do atual presidente Roberto Campos Neto e do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, foram lidas pelos agentes como indicações de que um ciclo de aperto monetário estaria no radar dos diretores.
A curva de juros negociada pelo mercado já refletia uma previsão de aumento. Em alguns momentos, para janeiro de 2025, ela chegou a ser negociada acima dos 10,75% ao ano, embutindo a previsão de uma trajetória de alta nos juros.
Na semana passada, o Boletim Focus, que traz as previsões de analistas de mercado, aumentou a projeção da Selic para o fim de 2024 a 11,25% ao ano, ante 10,5%, como está hoje. Isso implica um aumento somado de 0,75 ponto nas próximas três reuniões restantes do Copom neste ano.
Segundo Renata Agostini, colunista dO Globo, a equipe econômica do Ministério da Fazenda crê que o ciclo de aumento nos juros, ainda que marginal, veio da “comunicação excessiva do BC”. A escolha de Galípolo para o comando da autoridade monetária, que já era aguardada pelo mercado, foi anunciada oficialmente em 28 de agosto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Diferencial de juro talvez não 'esfrie' câmbio
Também nesta quarta-feira, o Federal Reserve (Fed), banco central americano, vai decidir sua nova taxa de juros. Segundo a ferramenta FedWatch, que reúne as expectativas de analistas, a aposta unânime é de um corte, na esteira do discurso de Jerome Powell, presidente da autoridade monetária, afirmando em agosto que "havia chegado a hora de ajustes".
Se a redução for confirmada, ela será a primeira em quatro anos e meio. O movimento não acontecia desde a pandemia.
Mas, para analistas, mesmo com o diferencial dos juros aumentando (ou seja, o hiato entre o juro brasileiro aumentando e o americano reduzindo), o atual patamar do dólar — que encerrou a terça-feira valendo R$ 5,48 — não deve ter grandes mudanças:
— Já está precificado um processo de alta de juro no Brasil. À medida que isso se materialize e perdure, a mensagem do comunicado e a ata podem reforçar a tendência de valorização do real por diferenciação de taxa de juro. Se ficar mais explícito, cristalino para os agentes econômicos a direção, tanto no Brasil como nos EUA, aí sim pode ter impacto de valorização na moeda — afirma Jankiel Santos, economista do Santander.
Segundo ele, os preços das principais commodities exportadoras do Brasil em baixa — petróleo e minério de ferro — e a permanência da desconfiança do mercado quanto à condução da política fiscal brasileira ainda seguirão impactando o valor da divisa.
Fonte: O GLOBO
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