Ao lado de Lula e de sua vice, Marta Suplicy, Guilherme Boulos confirma candidatura à prefeitura de SP — Foto: Maria isabel Oliveira/O Globo

Nomes de PT, PSOL e PDT ficam atrás de rivais em intenções de voto da população com renda familiar de até dois salários mínimos. Grupo aderiu ao petista em eleições anteriores

Na largada das eleições municipais, parte dos nomes do campo da esquerda de partidos como PT, PDT e PSOL, apoiados ou não pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas disputas por prefeituras, enfrenta dificuldade para espelhar, a nível local, o bom desempenho do petista entre os eleitores mais pobres — segmento que aderiu ao presidente na corrida presidencial de 2022. Um levantamento feito pelo GLOBO, a partir dos resultados mais recentes das pesquisas Quaest e Datafolha, dimensiona a barreira do campo político junto a esse grupo em cidades como São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Manaus.

O exemplo mais significativo da baixa adesão do eleitorado de menor renda acontece em São Paulo, onde o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), apesar de ser diretamente apoiado pelo presidente, não lidera nessa fatia da população, mas tem vantagem entre os mais ricos. De acordo com a última pesquisa Datafolha, divulgada no início do mês, Boulos está dez pontos percentuais atrás do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que registra 24% das intenções de voto nesse segmento, e quatro abaixo de José Luiz Datena (PSDB), que contabiliza 18%. No eleitorado com renda acima de cinco salários mínimos, Boulos chega a marcar 33%, enquanto Nunes soma 24%.

Já Tabata Amaral (PSB) atinge 6% dos votos no grupo com rendimento de até dois salários mínimos, mas o resultado reflete seu desempenho geral na disputa paulistana.

Desempenho dos candidatos entre eleitores de baixa renda — Foto: Arte / O Globo

Em Belo Horizonte, o apresentador Mauro Tramonte (Republicanos), estreante na disputa pelo executivo municipal, registra 34% dos votos do grupo com menor renda. De acordo com a última pesquisa Quaest, feito no mês passado, o âncora de TV ultrapassa com ampla vantagem nomes da esquerda na capital mineira, como a deputada federal Duda Salabert (PSD) e o próprio candidato do PT na disputa, o também deputado Rogério Correia. Os parlamentares contabilizam 6% dos votos cada.

Em Manaus, o deputado federal Marcelo Ramos (PT), escolhido pelo partido do presidente, também é superado nesse segmento. Segundo levantamento da Quaest em julho, ele contabiliza apenas 6% das intenções de voto, ante os 34% registrados pelo candidato à reeleição, o prefeito David Almeida (Avante).

No Rio, o deputado federal Tarcísio Motta (PSOL), que busca se colocar como nome da esquerda na disputa, tem apenas 4% dos votos no eleitorado mais pobre, segundo o levantamento da Quaest feito no mês passado. Ele é superado pelo candidato à reeleição Eduardo Paes (PSD), que conta com o aval de Lula. O prefeito tem 47% das intenções do eleitorado com renda de até dois salários mínimos.

No Recife, a candidata do PSOL, Dani Portela, tem ainda menos adesão no segmento e soma apenas 1% das intenções de voto, segundo pesquisa feita pelo Instituto Datafolha em julho. O prefeito João Campos (PSB), nome de Lula na corrida, porém, desponta como o favorito, com 80% da preferência do eleitorado de mais baixa renda.

Peso do apoio de Lula

Para o cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político Eleitoral da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a compreensão da baixa adesão a candidaturas de esquerda passa pela percepção do apoio dado pelo presidente Lula. Segundo ele, nomes que ainda não receberam apoio explícito e extensivo do petista, como Rogério Correia em Belo Horizonte e Marcelo Ramos, em Manaus, enfrentam dificuldade para ganhar notoriedade e projeção entre os eleitores.

— No caso do Paes e do Campos, são dois prefeitos muito bem avaliados, com percentuais elevados de eleitores que consideram as gestões deles como "boas" ou "ótimas", então esse acaba sendo um fator que reflete também já a opinião desse eleitorado. Somado a isso, vem o apoio de Lula para concretizar o apoio das parcelas de até dois salários mínimos, que também são os eleitores históricos do PT — avalia Josué Medeiros.

Professora de Ciência Política da UFRJ Mayra Goulart, destaca que há expectativa de que o início da campanha na TV e no rádio impulsione o interesse de parcelas mais pobres da população pelos candidatos ligados a Lula.

— Para chegar nesse eleitor mais empobrecido, o candidato é mais dependente do período de início oficial de campanha, em que se tem rádio e televisão. Um eleitor dos estratos mais abaixo da pirâmide se informa mais pelos veículos tradicionais. Já o que se informa através das novas mídias, que comumente tem maior renda, tende a estar mais conectado desde a pré-campanha e aparecer nas intenções de voto antes — explica a pesquisadora.


Fonte: O GLOBO