
Para os adversários que duvidaram de sua capacidade de convencer os cidadãos da importância da defesa e, agora, da preservação, da democracia. Para os eleitores compreensivelmente ignorantes da vice-presidente discreta. Para os cínicos, possuídos pela má-vontade de não crer na vocação do serviço público.
O presidente dos Estados Unidos entrou no palco visivelmente emocionado. Enxugou as lágrimas enquanto os delegados eleitos nas primárias que ele venceu, mas não levou, repetiam, alternadamente, "obrigado, Joe" e "eu te amo, Joe". Desafio o leitor a lembrar de bate-pronto de outro político eleito pelo voto, e em seu nadir, que recebeu tamanha demonstração de afeto público.
O presidente dos Estados Unidos entrou no palco visivelmente emocionado. Enxugou as lágrimas enquanto os delegados eleitos nas primárias que ele venceu, mas não levou, repetiam, alternadamente, "obrigado, Joe" e "eu te amo, Joe". Desafio o leitor a lembrar de bate-pronto de outro político eleito pelo voto, e em seu nadir, que recebeu tamanha demonstração de afeto público.
Celebrou-se a tragédia de seu ato de renúncia — à candidatura, não ao mandato, que segue até janeiro — como manifestação heróica e abnegada, de submissão da ambição pessoal ao possível êxito de projeto percebido por seus pares como tão ou mais urgente do que o de 2020.
Impedir a volta de Donald Trump à Casa Branca e manter ou ampliar as bancadas democratas no Congresso, assim como a capilaridade do partido nas unidades da federação, em um cenário de Suprema Corte de ampla maioria conservadora, se tornaram as razões para o sacrifício.
Impedir a volta de Donald Trump à Casa Branca e manter ou ampliar as bancadas democratas no Congresso, assim como a capilaridade do partido nas unidades da federação, em um cenário de Suprema Corte de ampla maioria conservadora, se tornaram as razões para o sacrifício.
E a aguardada passagem de bastão a Kamala Harris, sua vice, testemunha do momento histórico, não se deu por um atestado de competência ou o enumerar de qualidades e êxitos da ex-senadora. Foi sintetizada por Biden em frase confessional: "convidá-la para ser minha companheira de chapa em 2020 foi a melhor decisão política que já tomei".
Quando Barack Obama o convidou para o mesmo posto, em 2008, as reações não foram unânimes. Criticava-se a rendição da voz nova e exuberante do partido ao establishment partidário representado pelo senador mais velho. Uma análise desapaixonada dos oito anos do primeiro frente aos quatro do segundo posicionará Joe Biden necessariamente à esquerda do primeiro presidente negro dos EUA.
A rara migração política de Biden, do centro para o extremo, teve como combustível central o horror ao supremacismo branco, o nativismo xenófobo e o autoritarismo populista anti-democrático do trumnpismo. Que, no dicionário do velho político do Delaware nascido no interior industrial decadente da Pensilvânia lêem-se como manifestações anti-americanas.
E só apagou as luzes após garantir ter "dado o melhor de mim" aos Estados Unidos e frisar que ama ser presidente, "mas mais ainda o meu país".
Personagem trágico da vida americana, tanto na vida pública quanto na pessoal, marcada por perdas duríssimas, Joe Biden terminou a primeira noite de uma festa que deveria ser sua refletindo, em discurso nobre e triste, sobre as trapaças do tempo.
Quando Barack Obama o convidou para o mesmo posto, em 2008, as reações não foram unânimes. Criticava-se a rendição da voz nova e exuberante do partido ao establishment partidário representado pelo senador mais velho. Uma análise desapaixonada dos oito anos do primeiro frente aos quatro do segundo posicionará Joe Biden necessariamente à esquerda do primeiro presidente negro dos EUA.
A rara migração política de Biden, do centro para o extremo, teve como combustível central o horror ao supremacismo branco, o nativismo xenófobo e o autoritarismo populista anti-democrático do trumnpismo. Que, no dicionário do velho político do Delaware nascido no interior industrial decadente da Pensilvânia lêem-se como manifestações anti-americanas.
E só apagou as luzes após garantir ter "dado o melhor de mim" aos Estados Unidos e frisar que ama ser presidente, "mas mais ainda o meu país".
Personagem trágico da vida americana, tanto na vida pública quanto na pessoal, marcada por perdas duríssimas, Joe Biden terminou a primeira noite de uma festa que deveria ser sua refletindo, em discurso nobre e triste, sobre as trapaças do tempo.
Talvez tenha entrado no Senado muito jovem e, concedeu, tenha ficado velho demais para seguir na Presidência. Mas garantiu estar "mais otimista hoje com o futuro dos EUA do que quando tinha 29 anos". Momento em que a câmera da transmissão oficial fechou em um sorriso de Kamala Harris.
Fonte: O GLOBO
Fonte: O GLOBO
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