Petistas passaram a usar o caso para desgastar a imagem do adversário, enquanto aliados de ex-presidente alegam “perseguição política"

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no suposto esquema de desvio de joias do acervo presidencial esquentou a disputa eleitoral deste ano. Líderes da base do governo Lula passaram a usar o caso para desgastar a imagem do adversário, que será um dos principais cabos eleitorais do PL no pleito municipal. Aliados de Bolsonaro, por outro lado, partiram para cima da Polícia Federal — responsável pelo inquérito — e pintaram o ex-presidente como um “perseguido político”.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que Bolsonaro terá de “prestar conta pelos crimes” e que ele está “a caminho do banco dos réus”.

— Com certeza isso tira a aura de honesto que ele tanto tenta se colocar — diz Gleisi.

O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, afirma que a “PF tem que prender traficantes e não Bolsonaro”.

Apesar do indiciamento, o ex-presidente é visto como peça essencial no plano do PL de ampliar o número de prefeituras. Ele deve manter o ritmo de viagens, mesmo se o indiciamento se transformar em uma denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Bolsonaro participou de um evento conservador em Balneário Camboriú (SC) no fim de semana e afirmou que está à disposição para ser “sabatinado” sobre qualquer assunto.

Impacto

Secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto diz que o ex-mandatário continuará com força, mas que o indiciamento o “descapitaliza”.

— Há um processo de fazer com que a militância dele fique mais envergonhada, menos aguerrida. Isso pode ter efeito nas eleições. Esse povo está com Bolsonaro, mas daqui a pouco vai para casa e enrola a bandeira — disse ele.

Um marqueteiro de campanhas de esquerda avalia que o impacto é menor do que o lulismo pensa, porém maior do que o bolsonarismo presume. Na avaliação, o indiciamento tende a pesar entre o eleitorado que está em cima do muro em meio à polarização.

Nas redes sociais, o deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos comemorou: “Um dia que começa com Bolsonaro indiciado tem tudo pra ser um grande dia”.

Já os pré-candidatos bolsonaristas saíram em defesa e minimizaram os efeitos do indiciamento nas eleições.

— Os últimos acontecimentos não interferem no cenário eleitoral. Aliás, o tiro vai sair pela culatra — afirma o ex-ministro Marcelo Queiroga (PL), pré-candidato à prefeitura de João Pessoa.

Coube ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) fazer os ataques mais duros à PF e dar o tom de como devem se portar os bolsonaristas.

— Esse pequeno grupo de policiais que estão se sujeitando a usar a máquina pública para perseguir inocentes, um dia, ainda vai sentar no banco dos réus. No caso das joias, sequer há crime — disse Flávio.

Os ataques à PF, no entanto, tendem a ter um limite, uma vez que um dos principais pré-candidatos de Bolsonaro é o ex-delegado da corporação Alexandre Ramagem, que disputa a prefeitura do Rio. Procurado, ele não se manifestou. Bolsonaro ainda não fez comentários.


Fonte: O GLOBO