Líder da fabricante suíça no Brasil destaca as inovações do segmento e vê com otimismo retomada da demanda da construção no país

O elevador do futuro estará conectado a outros modais de transporte público, facilitando a vida de quem precisa chegar a um destino com pontualidade. Atualmente esses equipamentos já saem de fábrica com equipamentos modernos como computadores de bordo, conectados e monitorados 24 horas por dia. A computação em nuvem permite até manutenção remota com uso de inteligência artificial (IA).

Em entrevista ao GLOBO, Flavio Silva, presidente da Atlas Schindler no Brasil e do Grupo Schindler na América Latina, fala sobre o futuro dos elevadores e da empresa, que também fabrica escadas rolantes e esteiras, em meio a uma revolução digital.

Nesta semana, a empresa de origem suíça — que fatura R$ 63,8 bilhões no mundo — comemora a entrega de 250 mil equipamentos no Brasil, em mais de cem anos de atuação.

Como será o elevador do futuro, com uso de tecnologias como internet das coisas (IoT) e IA?

O elevador, que é um meio de transporte vertical, vai ser cada vez mais conectado com outros modais de transporte. Já existem pesquisas para isso. Na Suíça, há conexões com linhas de ônibus. Se você tem que estar no centro da cidade, por exemplo, às 10h, vai pegar o ônibus às 9h30. O elevador estará no seu andar no horário certo para que você não perca o ônibus. O equipamento sabe exatamente o caminho que você vai fazer.

Já é possível acessar os equipamentos da Schindler de forma remota, pelo celular?

Apostamos muito em inovação. Estamos num momento de sair do modo analógico para o digital. Nossos elevadores já saem de fábrica com um computador a bordo. Ele é conectado à nossa central aqui em São Paulo, de onde a gente controla milhares de equipamentos Brasil afora. Levamos isso para uma plataforma na nuvem e monitoramos 24 horas sete dias por semana o que tá acontecendo com aquele elevador.

Milhares de clientes têm o controle dos equipamentos na palma da mão e sabem o que aconteceu com ele nos últimos 30 dias em um relatório. Por exemplo, o elevador aqui da nossa sede nos últimos dias fez 2.743 viagens e percorreu 21.867 quilômetros. É um equipamento altamente demandado e não se tem essa noção.

Nós temos ainda um sistema de controle de tráfego que nos permite otimizar os elevadores para que atendam o público de maneira mais rápida e eficaz. Isso ajuda a controlar o consumo de energia.

E o que mais é possível fazer nessa plataforma?

É possível fazer intervenções remotas, com uso de inteligência artificial, sem a necessidade de deslocamento e atuação técnica presencial. Isso aumenta a rapidez de atendimento, diminui o consumo de combustível dos carros e, consequentemente, reduz a emissão de gases de efeito estufa pelos veículos.

O grupo tem seis centros de pesquisa e desenvolvimento pelo mundo, e um deles está no Brasil. Por que o país foi escolhido?

Um desses centros fica no bairro de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo. A engenharia brasileira é de classe mundial. Desenvolvemos produtos no Brasil que servem de plataforma para outros itens espalhados pelo mundo. O grupo atua em mais de 100 países e a operação brasileira está entre as dez maiores.

Dos 150 anos de existência do grupo, são 106 de atuação no país. Chegamos à marca de 250 mil equipamentos entregues, entre elevadores, escadas rolantes e esteiras, um número importante em qualquer mercado.

Quantas fábricas o grupo tem no país?

São duas fábricas, a unidade de Londrina, no Paraná, para a fabricação de equipamentos, e o Service Center, em São Paulo, uma fábrica de peças de reposição, além de uma torre de testes também em Interlagos. São 5 mil colaboradores e 150 postos de atendimento no país. Entregamos aqui o mesmo produto com sofisticação tecnológica que é entregue em Frankfurt ou Sidney, por exemplo.

Há exportação dos produtos que são fabricados aqui?

Sim. Produzimos um volume mais que suficiente para alimentar todo o mercado brasileiro e os países da América Latina. Os principais mercados aqui são México, Chile e Colômbia. E se for necessário crescer a produção da fábrica, isso não vai ser um problema.

Os juros vinham caindo, o que impacta positivamente o setor de construção civil, mas essa queda parou. Como o senhor vê o cenário econômico adiante?

Eu particularmente vejo que o Brasil tem muito mais elementos para dar certo que dar errado. E é só uma questão de organizar as peças nesse tabuleiro de xadrez. Tenho uma visão positiva para o biênio 2024/25.

Acredito que a taxa de juros tem uma tendência de queda. Podemos discutir o prazo, se mais curto ou mais longo, mas o Banco Central brasileiro fez um bom trabalho em relação ao combate à inflação, o que vai criar as condições necessárias para a taxa de juros cair. E isso impulsiona diretamente o mercado da construção civil.

E também há um déficit elevado de moradias no país....

Estima-se um déficit de 7 milhões de unidades, um pouco mais ou um menos. O fato é que essas condições (de juro mais baixo e financiamento longo) permitirão ao brasileiro ter acesso à sua primeira moradia. Eu gosto de falar também das megatendências de urbanização da sociedade e há o envelhecimento da população também. Isso tende a impulsionar ainda mais o mercado de elevadores.

Como?

Ter um equipamento apropriado em termos de tecnologia e disponibilidade aos usuários está associado cada vez mais à qualidade de vida. Tenho casos de residências de altíssimo padrão que têm elevador. Não é luxo, mas sim busca de qualidade de vida.

Então, dá para prever que a gente vai continuar crescendo em todas as linhas de negócio, seja nas novas instalações, seja na manutenção de equipamentos. Há muitos elevadores que precisam ser modernizados, e isso também é uma linha de negócios.

Recentemente, o Rio registrou três acidentes com elevadores em menos de 24 horas. Isso acende um sinal amarelo em relação ao estado de conservação desses equipamentos no país?

O elevador é o sistema de transporte mais seguro do mundo. O nosso grupo movimenta globalmente 2 bilhões de pessoas por dia, o que significa dizer que a cada três dias transportamos a população da Terra.

O que é superimportante é que o elevador precisa ser mantido adequadamente, com manutenção preventiva, feita por uma empresa idônea, com peças de reposição de origem conhecida e técnicos certificados e treinados.

É preciso que exista um engenheiro responsável pela manutenção. É importante que os responsáveis pelos edifícios saibam selecionar empresas idôneas. A legislação que regula os elevadores é municipal. Ela é exigente em relação a relatórios de inspeções anuais. A manutenção de um elevador é similar à de um carro.


Fonte: O GLOBO