Antes da Hungria assumir a presidência rotativa do bloco, premier prometeu rever políticas para os ucranianos, incluindo os envios de dinheiro
— A Hungria não está contra a Ucrânia nem contra a Rússia, a Hungria está contra a guerra. Queremos parar a guerra, por isso para nós o objetivo mais importante é ter um cessar-fogo, o mais rapidamente possível, para que não morram mais pessoas — disse Orbán, ao lado do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. — A guerra que você está vivendo agora tem um grande impacto na segurança da Europa. Agradecemos as iniciativas de Zelensky para alcançar a paz. Pedi a Zelensky que pensasse de forma diferente: primeiro um cessar-fogo, depois negociar a paz. Um cessar-fogo poderia acelerar as negociações.
Depois de reunião, Zelensky disse, no X (antigo Twitter), que ele e Orbán discutiram "as questões mais fundamentais das nossas relações de vizinhança: comércio, cooperação transfronteiriça, infraestruturas e energia", e sobre "tudo o que afeta a vida do nosso povo, tanto na Ucrânia como na Hungria". Ele não comentou sobre o pedido de cessar-fogo imediato, algo até agora rejeitado por Kiev.
"O conteúdo do nosso diálogo sobre todos estes temas hoje pode constituir a base para um novo documento bilateral entre os nossos países, que regulará todas as nossas relações, se baseará em uma abordagem recíproca das relações bilaterais entre a Ucrânia e a Hungria, e permitirá aos nossos povos desfrutar todos os benefícios da união na Europa", escreveu Zelensky, que também defendeu a manutenção da ajuda militar a seu país.
Ao contrário de outros líderes da UE, o premier húngaro vinha relutando em visitar Kiev, ou manter um diálogo mais próximo com o governo ucraniano. Mais do que isso, Orbán, era (e ainda é) a principal voz de oposição às políticas de apoio financeiro adotadas pelo bloco para sustentar o país diante da invasão russa.
Em novembro do ano passado, em carta enviada ao chefe do Conselho Europeu, Charles Michel, e revelada pelo site Politico, ele prometia bloquear todos os pacotes de ajuda a Kiev caso não houvesse uma revisão completa de todos os planos para a Ucrânia, inclusive sobre a eventual adesão do país ao bloco, um processo que já está em andamento.
Pelas regras da UE, todas as decisões precisam ser tomadas de forma conjunta, e se um dos 27 países discordar dos demais, nada é firmado — uma estratégia que o premier húngaro tem usado à exaustão. Em fevereiro, o bloco aprovou um pacote de ajuda financeira de € 50 bilhões (R$ 363,21 bilhões) à Ucrânia após meses de um impasse comandado por Orbán. Ele concordou com a proposta após obter uma série de compromissos para seu país. No mês passado, Orbán mandou seu chanceler, Péter Szijjártó, à conferência de paz sobre a Ucrânia na Suíça, e tem evitado declarações sobre os rumos do conflito.
Antes de assumir a liderança rotativa do bloco, Orbán sinalizava que os próximos seis meses — período em que cada país comanda a UE — seriam extremamente políticos. O primeiro sinal disso foi a escolha do lema da presidência húngara: “Vamos Tornar a Europa Grande Novamente”, uma clara referência ao slogan favorito de campanha do ex-presidente (e aliado de Orbán) dos EUA, Donald Trump. Em abril, o republicano disse que, caso seja eleito, quer retomar os laços próximos com o líder húngaro, uma declaração que também provocou arrepios na Otan, a aliança militar que também é alvo de críticas dos políticos.
Trump, que tenta voltar à Casa Branca em novembro, não é o único aliado de Orbán que levanta questões em Bruxelas e demais capitais europeias. Em outubro do ano passado, quando a guerra se aproximava de seu segundo ano, o premier húngaro se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, na China, e meses depois, em março, o parabenizou pela nova reeleição ao comando do país. Na época, defendeu que ambos deveriam “intensificar a cooperação em áreas que não estejam restringidas pelo Direito Internacional”.
Orbán também chega ao comando da UE em um momento delicado para a política continental. Partidos de extrema direita, em boa parte aliados a ele, avançaram nas eleições ao Parlamento Europeu, e estão perto de assumirem o controle da Assembleia Nacional da França, após a convocação de eleições pelo presidente, Emmanuel Macron. Para analistas, o premier deve usar esse período à frente do bloco não para implementar políticas imediatas ou criar factóides, mas sim para preparar o campo para um período ainda nebuloso mais à frente.
— Esse será o desafio real — afirmou um diplomata europeu ao site Politico Europa. — No curto prazo, Bruxelas será capaz de limitar os danos. Mas caso Trump seja eleito e a direita se una na Europa, Orbán pode aumentar sua influência e poder dentro do bloco.
Fonte: O GLOBO
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