Posto fronteiriço com Egito é entrada crucial de ajuda humanitária em Gaza; ataques aéreos mataram 27 pessoas durante a noite
Imagens divulgadas pelas Forças Armadas de Israel (FDI) mostram tanques com as bandeiras do país circulando em Rafah. Em uma publicação nas redes sociais, as FDI afirmaram que a ofensiva se trata de uma "operação precisa de contraterrorismo" com objetivo de "eliminar terroristas e infraestruturas do Hamas".
Os militares indicam ainda que o ataque ficará limitado a áreas específicas do leste da cidade. As Brigadas al-Qassam, braço armado do Hamas, confirmaram que entraram em confronto com as tropas israelenses no cruzamento da fronteira nesta terça-feira. O grupo também voltou a disparar foguetes contra a passagem de Kerem Shalom, onde quatro soldados morreram em um ataque similar no domingo.
A ofensiva israelense foi lançada contra Rafah um dia após o Exército do país emitir alertas para que a população civil evacuasse setores da cidade, antecipando que uma invasão terrestre estava sendo preparada. Os militares estimaram que cerca de 100 mil pessoas seriam afetadas pelo aviso do que chamaram de "deslocamento temporário", mas fontes palestinas falam em um número superior a 200 mil pessoas.
Diante do ultimato israelense, na segunda-feira, o Hamas chegou a anunciar que havia alcançado um acordo sobre os termos para um cessar-fogo em Gaza, em um comunicado citando o líder do grupo, Ismail Haniyeh. Autoridades de Israel, contudo, afirmaram que o aceite do grupo palestino teria sido a uma proposta "suavizada" pelo Egito, que atua como mediador, e não a termos anteriormente apresentados, que incluiriam uma trégua temporária e a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos. Novas conversas estão previstas para esta terça-feira.
A operação militar contra Rafah era um dos planos mais controversos de Israel, aos olhos da comunidade internacional, desde que começou a ser gestado. O comando militar israelense garante que os últimos batalhões operacionais do Hamas estão escondidos na região, enquanto líderes estrangeiros, incluindo aliados como o presidente americano, Joe Biden, apontaram para o risco da ação se converter em uma catástrofe humanitária e disseram não apoiar a medida.
A pressão internacional não foi suficiente para demover a ideia da pauta israelense. Mesmo durante as negociações de cessar-fogo, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que a invasão por terra de Rafah aconteceria, com ou sem uma trégua para a libertação de reféns. O líder israelense também sofre pressões internas da linha-dura de seu Gabinete, que exigem que o Hamas seja pulverizado.
Exército de Israel da ordem de retirada a população de Rafah — Foto: Arte/O Globo
Embora tenha sido anunciada como uma operação de escopo limitado, organizações internacionais e ONGs com atuação em Gaza afirmam que a ofensiva israelense interromperam a entrada de ajuda humanitária nos três postos de fronteira que funcionavam até segunda-feira (Rafah, Kerem Shalom e Erez). Mais cedo, o porta-voz do escritório humanitário da ONU, Jens Laerke, disse que Israel negou-lhe acesso a Rafah e Kerem Shalom e disse que o enclave tem apenas "um dia de combustível" restante.
— Seria uma forma muito eficaz de enterrar a operação humanitária — alertou o porta-voz.
Durante a noite, antes da invasão terrestre, pesados bombardeios atingiram Rafah, informou um correspondente da AFP na região. O Hospital al-Kuwait disse que 23 pessoas morreram, enquanto o Hospital al-Najjar registrou outras quatro pessoas mortes.
A Autoridade Palestina, que governa o território palestino da Cisjordânia, voltou a pedir por uma intervenção imediata dos Estados Unidos para prevenir a invasão da cidade do sul de Gaza, que se tornou abrigo para mais de 1 milhão de pessoas, a maioria deslocados de outras partes do enclave. Na segunda-feira, autoridades já haviam feito um apelo.
O Brasil condenou o início da operação das Forças Armadas de Israel contra Rafah. Em nota, publicada na segunda-feira, o governo brasileiro afirmou que a ação militar ocorre de forma deliberada em uma região com alta concentração de civis e demonstra descaso com os direitos humanos.
“Ao optar, com essa ação militar, por deliberadamente intensificar o conflito em área sabidamente de alta concentração da população civil de Gaza neste momento, o governo israelense mostra, novamente, descaso pela observância aos princípios básicos dos direitos humanos e do direito humanitário, a despeito dos apelos da comunidade internacional, inclusive de seus aliados mais próximos. Tal operação pode, ademais, comprometer esforços de mediação e diálogo em curso”, diz um trecho da nota.
'Não há lugar seguro em Gaza'
Os palestinos acordaram ao som dos ataques aéreos israelenses em Rafah, nesta terça-feira, com centenas de milhares de deslocados na cidade do sul de Gaza sem saber para onde ir.
A chefe de operações do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) em Gaza, Suze van Meegen, disse ter visto milhares de pessoas fugindo dos ataques aéreos nesta terça-feira.
— Não só não há lugar seguro para ir, como para muitas pessoas também não há como chegar lá — disse Suze, em entrevista à rede americana CNN. (Com AFP)
Fonte: O GLOBO
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