Criminosos forjam chaves de transferência instantânea diante de mobilização nacional por donativos e recursos para socorrer a população gaúcha

Debaixo d'água há quase um mês, a população do Rio Grande do Sul busca suporte, mantimentos e abrigo diante do avanço dos rios e das chuvas que colocou quase todo o estado em estado de alerta. Apesar da situação sensível vivida pelos gaúchos, a rede de doação de recursos para as vítimas das enchentes vem sendo comprometida por reiterados modelos de golpes que afetam os doadores e o acesso ao socorro.

Neste sábado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul deflagrou operação que mirou agentes da Defesa Civil de Eldourado do Sul por desvio de recursos doados para beneficiar eleitores de pré-candidatos da cidade. Dos três agentes públicos alvo da ação, pelo menos dois são pré-candidatos nas eleições municipais realizadas neste ano. Os mandados foram cumpridos nas casas dos suspeitos, na sede da prefeitura e em depósitos da cidade. Foram apreendidos celulares, documentos e dinheiro.

Outra modalidade de golpes comum desde o começo da calamidade envolve fraude em chaves Pix para o recebimento de doações, que levou à abertura de investigações e até prisão de suspeito de organizar um esquema de estelionato. Na última segunda-feira, um rapaz de 19 anos foi preso em Piracicaba, interior de São Paulo, suspeito de aplicar golpe em um grupo que arrecadava doações para pessoas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

De acordo com relatos das autoridades obtidos pelo g1, o jovem ingressou no grupo no dia 5 de maio para oferecer serviços de frete para escolar remessa de donativos para o estado, e os investigadores descobriram se tratar do próprio jovem. Ao receber o dinheiro pelo frete, um sinal de 50% do valor após fechar o prazo de entrega, ele deixava de responder aos contratantes.

Desde o começo do mês, o alerta sobre uso malicioso do Pix vinha sendo levantado pelo governo gaúcho e por autoridades do setor bancário. Ainda no começo do mês, o governador Eduardo Leite (PSDB), afirmou que havia tentativas de golpe envolvendo a chave Pix do canal de doações SOS Rio Grande do Sul, perfil oficial do governo do estado.

Em uma publicação nas redes sociais, afirmou que os doadores deveriam ficar atentos aos dados bancários que apareciam na hora de fazer a doação:

— Quando forem fazer a doação, é o SOS Rio Grande do Sul que aparece como destinatário e a instituição é o Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) — afirmou. — Se não aparecer isso na hora da doação é porque é um golpe.

O aumento do uso indevido do Pix também foi alvo de aviso da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), também no começo do mês. A instituição, que representa boa parte do sistema financeiro brasileiro, pediu aos doadores para checar os dados bancários de quem está recebendo a transferência instantânea.

A principal orientação da Federação é que, quando for fazer uma transferência com um número de chave Pix, o doador confira com muita atenção todos os dados do pagamento e se o beneficiário é realmente quem irá receber o dinheiro. A mesma orientação é válida para doações feitas por TED e boletos.


Fonte: O GLOBO