Legenda que pode ser 'fiel da balança' da disputa analisa compromissos de postulantes à presidência da Câmara

Cobiçado por pré-candidatos à presidência da Câmara, o PL já iniciou as negociações para apoiar um nome competitivo e ter espaço generoso em cargos da Mesa e em comissões, mas não só isso. Ao GLOBO, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, avisa que a legenda precisa ter a sua pauta ideológica incorporada à plataforma do postulante à sucessão de Arthur Lira (PP-AL). Se a candidatura própria da sigla não for adiante, essa será uma condição.

Desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Palácio do Planalto tem tido dificuldades para enfrentar a agenda de costumes do ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso. O PL, neste momento, pretende dobrar a aposta para chamar a atenção de suas bandeiras e seguir como alternativa de poder em 2026, quando o petista deverá disputar a reeleição.

Elmar Nascimento (União-BA) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), tido como favoritos na disputa, têm emitido sinais de que querem mais do que nunca o apoio dos bolsonaristas, que hoje contam com 96 parlamentares. Com a possibilidade de ser "o fiel da balança" em uma eventual disputa no primeiro ou no segundo turno da eleição, Valdemar também recebeu recentemente o líder do MDB, Isnaldo Bulhões (AL), que corre por fora na briga pela presidência da Câmara.

— Um acordo entre os partidos, uma composição, seria o quadro ideal ao meu ver. Mas precisamos ter um candidato que coloque as nossas pautas em plenário, as pautas que a direita quer que sejam votadas. Já conversei com Elmar, Pereira e Isnaldo, mas também preciso considerar a possibilidade de ter candidato próprio no primeiro turno, que é um pedido da minha bancada. O que não pode acontecer é ficarmos sem espaços na mesa diretora e impossibilitados de ver as nossas pautas andarem — diz o presidente do partido ao GLOBO.

Valdemar reconhece os esforços de Lira em trazer o PL para o seu entorno. Antes isolada no plenário da Câmara em meio às articulações entre o Centrão e os governistas, a bancada do PL voltou a ter as atenções disputadas por caciques partidários. Elmar fez um gesto considerado importante na última semana ao orientar a bancada do União a votar de maneira favorável à soltura do deputado Domingos Brazão, tido como mentor do assassinato da vereadora Marielle Franco.

A soltura de Brazão, que foi preso por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, era uma espécie de "questão de honra" para os bolsonaristas. Apesar da derrota em plenário, Elmar mostrou que compraria as brigas dos parlamentares pelas suas garantias constitucionais. O gesto foi bem visto pela cúpula do partido e ele voltará a se encontrar com Valdemar neste mês. Marcos Pereira, por sua vez, foi ao ex-presidente Jair Bolsonaro e também a Valdemar.

Enquanto tenta aparar as arestas com o líder do clã Bolsonaro por desavenças passadas, o presidente do Republicanos tenta chegar a um acordo com Valdemar sobre o período em que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, deixará a sua legenda em direção ao PL de Bolsonaro. Os dois negociam também em quais cidades de São Paulo o governador poderia pedir votos para os candidatos a prefeito e vereador apoiados por parlamentares bolsonaristas.

Os cortejos ao PL se intensificaram ao longo do último mês. Como O GLOBO mostrou, o PL cogita abrir mão de uma candidatura própria e compor com um dos nomes que despontam como favoritos. Valdemar diz considerar um acordo o quadro ideal, mas deixa no ar a possibilidade de lançar um candidato em um eventual segundo turno.

— Lira foi muito firme em nossa defesa durante a escolha das comissões permanentes e não nos esquecemos disso. A política é feita de diálogos e ainda há muito tempo para chegarmos a um consenso — acrescenta.

Tido como favorito para ser o nome do PL à presidência da Câmara, caso o partido lance um candidato próprio, o deputado Altineu Côrtes (RJ) diz que o partido seguirá em diálogos com os outros partidos.

— Hoje, a nossa bancada trabalha para que o PL tenha um candidato próprio, mas é óbvio que na política tudo pode acontecer. Estamos sempre abertos ao diálogo. Se pudermos nos unir com alguém no primeiro turno, só o tempo vai dizer.

Um dos parlamentares mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, Coronel Zucco (RS) também diz que o eventual apoio a um nome de outro partido dependerá de apoio às pautas bolsonaristas.

— Temos a possibilidade de ter um nome nosso como candidato, mas obviamente estamos atentos a todas as possibilidades. Creio que a próxima disputa à presidência da Câmara vá ter segundo turno. E, ainda que apoiemos alguém no segundo turno, precisamos condicionar isto a pautas, projetos e posições. Sabemos o tamanho da nossa bancada — argumenta.


Fonte: O GLOBO