Cada vez mais presente no vocabulário da internet, a expressão vem da mesma fonte que a palavra 'lésbica': ambos estão associados à poetisa Safo, que viveu na Ilha de Lesbos há mais de 2 mil anos

A palavra "sáfica" tem suas raízes na poesia e na cultura grega antiga. Ela está associada à poetisa Safo, uma figura enigmática que viveu na Ilha de Lesbos cerca de 600 a.C. A artista é lembrada por seus poemas que exploravam temas como o amor entre mulheres, sociedade e gênero. A palavra em sua homenagem trata-se de um termo guarda-chuva relacionado à atração, relação sexual ou romântica entre mulheres e pessoas alinhadas ao gênero feminino, incluindo lésbicas, mulheres bissexuais e pessoas não binárias.
 
Quem foi Safo?

Safo é uma das poucas artistas femininas cujo trabalho sobreviveu desde a Antiguidade. Cada vez mais estudada e publicada, a suposta primeira mulher a cantar o amor lésbico garantiu seu lugar nas mentes contemporâneas. Está presente na cultura, afetos e vocabulário. Responsável por manter discípulas na Ilha de Lesbos, na Grécia Antiga, a poeta, nascida entre 630a.C. e 604a.C., continua guiando uma nova geração a entender melhor seus próprios sentimentos. Suas jovens leitoras encontram nos versos questionamentos atuais, como a força do desejo, a identidade sexual e a reflexão sobre o feminino.

A poetisa lírica grega Safo e outra mulher ouvem uma apresentação do colega poeta Alceu na lira por volta de 610 aC. — Foto: Arquivo Hulton / Imagens Getty

Alguns estudiosos e leitores, acreditam que ela tenha escrito seus poemas para mulheres e meninas pertencentes ao culto de Afrodite, e que haviam celebrado ritos femininos como a puberdade, o casamento e o parto. Além das muitas lendas, pouco se sabe sobre a vida de Safo. O que sobreviveu de sua pequena obra foi um conjunto de 200 fragmentos, transmitidos em citações nas mais variadas obras no decorrer dos séculos.

O termo na mídia

Desde os anos 1920, há exemplos da palavra "Sapphic", em inglês, sendo usado para promover entretenimento sexual, como shows eróticos, realizados por mulheres para um público masculino. O termo também pode ser encontrado em manchetes de tabloides norte americanos dos anos 1930, e várias publicações lésbicas dos anos 70 e 80 incorporaram a palavra em seus nomes. Tornou-se mais comum as mulheres se identificarem como "lésbicas" na década de 1960, embora houvesse exceções anteriores.

Sappho foi uma revista criada em 1972 para atender lésbicas, com Jackie Forster como editora — Foto: Grassroots feminism

Segundo a curadoria do Queer Digital History Project, a palavra apareceu pela primeira vez na web em 1987, numa lista de iteração e-mail para figuras femininas LGBTQIAPN+. Desde 2004, o primeiro ano para em que o Google Trends fornece dados de pesquisa, o termo “Sapphic” atingiu o pico em dezembro de 2005, antes de diminuir durante os 15 anos seguintes. Desde 2020, a pesquisa do assunto vem crescendo. Pelo TikTok, por exemplo, é possível ver temas como “dicas de livros com romances sáficos” ou “casais sáficos de filmes e séries”.

Nas redes sociais, onde contas de memes com o tema sáfico – clubesafico, livrossaficos e saficosmos – acumulam dezenas e milhares de seguidores no Instagram. E, no TikTok, uma plataforma de mídia social extremamente popular entre aqueles na faixa etária de 18 a 29 anos, a palavra mencionada em hashtag mais de 340.000 vezes.


Fonte: O GLOBO