Roberto Gomes Júnior foi o terceiro brasileiro agredido na cidade de Limerick em cerca de 24 horas

Após ter sido vítima de um ataque de xenofobia na noite de sábado, em Limerick, no sul da Irlanda, o brasileiro Roberto Gomes Júnior, de 33 anos, segue aguardando respostas das autoridades locais sobre o seu caso. Segundo ele, desde a realização da queixa policial, poucas horas após o crime, não há atualizações sobre o andamento das investigações. Ao GLOBO, Gomes Júnior disse desejar deixar o país europeu após o episódio.

Por volta das 22h40 de sábado, Roberto e seu irmão voltavam para casa após um expediente de trabalho, quando foram abordados por um homem na calçada. Conforme relatou o estudante de intercâmbio, o desconhecido questionou a origem dos dois. Após responderem, eles foram surpreendidos com um golpe.

— Nós pegamos uma carona com amigos até um local relativamente perto de casa. Uma caminhada de 15 minutos que estamos acostumados a fazer. Quando estávamos atravessando uma faixa de pedestre próxima do nosso condomínio, um homem se aproximou e perguntou de onde éramos. Ele deu um ou dois passos e já virou me acertando com um objeto retirado da jaqueta (...) demorou um pouquinho de tempo para entender o que tinha acontecido. —, relatou Roberto Junior.

Nascido e criado em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Roberto se mudou para o país europeu há dois anos. Sua vontade era de aprender inglês. Ele se matriculou em um curso de idioma no país e trabalha meio período para ajudar no sustento. A princípio, Limerick parecia o destino ideal, por ser mais calmo, com menor custo de vida e melhor sensação de segurança.

— Eu escolhi a Irlanda, porque queria aprender inglês. Vim para Limerick, porque tinha um custo de vida mais baixo, também parecia uma cidade mais tranquila e com uma segurança superior a Dublin, destino de boa parte das pessoas. Mas enquanto estive por aqui, notei que não era bem assim —complementa o brasileiro.

Após ser atacado perto de casa, brasileiro é socorrido e recebe atendimento médico na Irlanda — Foto: Arquivo pessoal

Este não foi o único ataque contra imigrantes ocorridos na cidade. Na verdade, no dia anterior à agressão sofrida por Roberto, outros dois brasileiros levaram socos, em Limerick, e os agressores ainda filmaram e compartilharam o vídeo nas redes sociais.

— Na noite anterior tiveram dois brasileiros vítimas de xenofobia também. Não são os únicos, nós (Roberto e seu irmão Leonardo) ficamos sabendo de alguns outros casos durante nosso tempo aqui. E não é só contra brasileiros não, basta ser de outra nacionalidade —disse Roberto.

Da noite de sábado até a tarde desta quinta-feira, Roberto e seu irmão seguem aguardando novidades sobre as investigações policiais. No entanto, destacam que tanto a imprensa local, quanto a população da cidade, demonstram empatia e desejo de ajudá-los de alguma maneira.

— Esse caso, assim como o do dia anterior, está ganhando manchetes por aqui. Então estou recebendo muitas mensagens de irlandeses envergonhados e dizendo que essas pessoas não representam o povo da Irlanda. Eu acho legal ver que estão notando o problema nesses ataques, mas sinceramente … minha vontade é de ir embora. Só gostaria de ver os desdobramentos dos casos primeiro —desabafou o estudante.

Roberto também afirma que, tão difícil quanto a recuperação física, é a mental.

— O mais chato é como isso marca seu psicológico. Foi muito difícil para mim, porque a cena não saía da minha cabeça nos dois primeiros dias. Eu nem conseguia dormir direito. É muito ruim — completou o brasileiro.

Roberto acionou a embaixada brasileira, que ofereceu auxílio com advogados e psicólogos. Entretanto, caso seja necessário continuar com as assistência, ele terá que arcar com todos os custos.


Fonte: O GLOBO