Entre voluntários e organizadores do "Ninguém Ama Como A Gente", dezenas de alvinegros foram ao Nilton Santos preparar festa para partida chave na Libertadores

Poucos refletores acesos, arquibancadas vazias e silêncio cortante — um ambiente muito diferente do que será visto a partir das 19h de hoje, quando o Botafogo recebe o Universitario (Peru) em um confronto decisivo da Libertadores, após iniciar a fase de grupos com duas derrotas. 

Se o desempenho em campo precisa evoluir, as festas que a torcida alvinegra faz no Nilton Santos têm sido de alto padrão. E para que os mosaicos e bandeirões 3D deem certo, a preparação começa até 24 horas antes de a bola rolar, pelas mãos dos próprios alvinegros, nesse clima bem mais sóbrio que O GLOBO testemunhou ontem.

Fellipe Portella é o exemplo de como a paixão pode levar a um vínculo maior com o clube do coração. Ele é líder do Movimento Ninguém Ama Como A Gente, criado em 2017 como uma comissão de festas e que não mantém relações com organizadas. O profissional de Marketing está há quase dez anos produzindo celebrações nas arquibancadas. Desde janeiro, trabalha no clube. Entre suas principais funções, está a de fazer a ponte entre o Botafogo e os coletivos de arquibancada. Aproximar-se do torcedor tem sido um objetivo desde a implementação da SAF.

— Acreditamos que o que a gente faz impacta no campo. E as festas da torcida do Botafogo são um orgulho para o clube — diz Portella, enquanto instrui as dezenas de torcedores que se voluntariaram a ir ao estádio mesmo em dia de São Jorge (dia 23 de abril, feriado no Rio de Janeiro).

— Com a experiência que eu já tenho de anos e anos de arquibancada, de conhecimento de causa e das pessoas que estão inseridas nesse contexto, é fazer uma arquibancada mais forte, bonita, e que exalte tanto o Botafogo como o torcedor botafoguense, com essas diversas ações — conta ele, em meio à uma breve pausa na correria da organização.

O encontro começou por volta da 19h e foi madrugada adentro. Todo alvinegro é bem-vindo para ajudar, entre organizadores e voluntários. Basta querer contribuir com o plano estruturado nos mínimos detalhes.

— Vi que ia ter a montagem pelas redes sociais. Alguns amigos meus já vieram e falaram bem, e decidi vir pela primeira vez — conta Maria Luisa, estudante de 13 anos que arrastou a avó Elaine para os preparativos.

A ideia nasce bem antes do próprio encontro. Responsável pela produção dos mosaicos, a designer Lara Di Mello conta que o processo leva dias. O custeio é feito através das fontes de renda do Movimento, como vaquinhas virtuais.

— Além das artes de um bandeirão, eu faço também o projeto do mosaico com software de arquitetura. A gente começa (a fazer as artes) uns quatro ou cinco dias antes e vai até o dia da montagem mesmo — explica.

Fellipe Portella e Lara Di Mello coordenam torcedores do Botafogo que preparam mosaico no Nilton Santos — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

Ela também marca presença e ajuda a direcionar onde cada torcedor deve colocar as placas. As várias restrições impostas pela Conmebol, como a proibição do “fogo” no estádio, são apenas mais um desafio.

— Limita um pouco a nossa criatividade. Porque se a gente quiser descer um bandeirão, não é permitido. Se a gente quiser fazer uma iluminação diferente também não pode — revela Lara. — Ao mesmo tempo a gente consegue contornar porque somos um grupo que faz isso há muito tempo. Sabemos como contornar e com quem falar.

Torcedores do Botafogo preparam mosaico na noite anterior a partida na Libertadores — Foto: Alexandre Cassiano/Agência O Globo

E o Movimento se adapta a cada jogo. Na estreia da fase de grupos, contra o Junior Barranquilla (Colômbia), preferiu fazer uma festa de faixas espalhadas pelos setores. Desta vez, volta com o mosaico no Leste Superior e Inferior, com um conceito mais centralizado, para evitar espaços na arquibancada. Até ontem, 24 mil ingressos haviam sido vendidos para este jogo.

O resultado final só será visto nos minutos anteriores à bola rolar, mas a ideia para hoje à noite é remeter ao orgulho do alvinegro. Em mais uma noite no Engenho de Dentro, várias estrelas solitárias brilham em conjunto antes do espetáculo.

Jogo chave

Lanterna do grupo, o Botafogo precisa da vitória mais do que nunca. O treinador Artur Jorge deve manter Savarino no time titular no lugar de Jeffinho, após o venezuelano marcar de falta na vitória contra o Juventude. No meio-campo, a tendência é usar Danilo Barbosa e Marlon Freitas, mas Tchê Tchê tem condições de jogo e concorre a uma vaga.

O Universitario-PER chegou quase completo ao Rio e quer manter a invencibilidade na Libertadores. O técnico Fabián Bustos só não repetirá a escalação da última rodada porque o atacante José Rivera, lesionado, dará lugar a Alex Valera.


Fonte: O GLOBO