Vagner Borges Dias, conhecido como Latrell Brito, foi principal alvo da operação que investiga empresas ligadas à facção criminosa no estado de São Paulo

O principal alvo da operação realizada nesta terça-feira pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, é o empresário Vagner Borges Dias. Vagner é dono de uma série de empresas — ao menos sete estão formalmente ligadas a seu nome — e é acusado de integrar esquema que forjava concorrências para conquistar contratos públicos e “prestigiar interesses da facção criminosa PCC”.

O empresário é conhecido como “Latrell Brito”, codinome que ele utiliza também na carreira artística como pagodeiro. Vagner (ou Latrell) tem quase um milhão de seguidores no Instagram, mas apenas 371 ouvintes mensais na plataforma Spotify. Sua música mais popular no app de streaming tem os versos: “Quero mudar minha vida por inteiro/ Não quero mais ser o Brito cachaceiro / O rei do camarote rodeado de amigos/ (...) Eu sou legal enquanto tenho dinheiro / É tão normal ter amigo interesseiro”.

De acordo com as investigações do MP-SP, que acessaram vídeos e fotos extraídos a partir da quebra de sigilo temático, Brito teve “um aumento vultoso” em seus rendimentos nos últimos anos e “ostenta armas, munições e grande volume de dinheiro em espécie”. A casa do investigado foi um dos alvos dos mandados de busca e apreensão cumpridos na operação desta terça-feira.

As empresas ligadas a Vagner prestam serviços de limpeza e manutenção de prédios públicos e detêm contratos com órgãos públicos de uma série de cidades paulistas, dentre elas Guarulhos, Cubatão, Santos, Arujá, Guararema, Araraquara, Itatiba e Jaguariúna.

Segundo os investigadores, a principal empresa investigada no esquema movimentou R$ 200 milhões em contratos públicos. O promotor Yuri Fisberg explicou, em entrevista coletiva, que o PCC atuava como “árbitro” nos conflitos envolvendo as empresas que participavam do esquema para obter contratos públicos:

— A facção delibera sobre a sorte de determinados contratos. Quando há divergência entre essas empresas, compete ao crime decidir eventual divergência entre elas, e não o Judiciário, como seria o padrão.

Vagner foi um dos 15 alvos de mandado de prisão temporária (com validade de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco) cumpridos hoje — até o início da tarde, 13 suspeitos haviam sido presos e outros dois estavam foragidos.

Os policiais também apreenderam quatro armas de fogo, um "número grande" de munições de diversos calibres, 22 celulares, 22 notebooks e outros objetos que deverão ajudar no aprofundamento da investigação. As buscas foram feitas em 11 prédios públicos, incluindo seis Prefeituras e cinco Câmaras Municipais, além de 10 conjuntos comerciais e 21 residências. Não houve buscas na capital.

Embora três vereadores tenham sido presos durante a operação, o Ministério Público enfatizou que o vínculo do PCC era com as empresas envolvidas, e não diretamente com os parlamentares.

Os vereadores presos são: Ricardo Queixão (PSD-Cubatão), Flávio Batista de Souza (Podemos-Ferraz de Vasconcelos) e Luiz Carlos Alves Dias (MDB-Santa Isabel). E outros funcionários públicos: Fabiana de Abreu Silva, servidora da prefeitura da cidade, e o advogado Áureo Tupinambá, que atuou na defesa do traficante e líder do PCC André do Rap e também trabalhava no Legislativo municipal.

A detenção de Tupinambá, de acordo com os investigadores, é relativa à sua atuação como servidor comissionado da Câmara Municipal de Cubatão, e não tem relação com seus trabalhos advocatícios.

Em nota, a Câmara Municipal de Cubatão disse que tomou ciência da operação e está colaborando com as equipes de investigação, fornecendo todos os documentos solicitados pelas autoridades. A Câmara Municipal de Santa Isabel também disse que está colaborando com as investigações. "Quanto aos mandados de prisão, informamos que não fomos cientificados acerca de eventuais prisões. Aguardamos o deslinde das investigações e nos colocamos à disposição da Justiça para maiores esclarecimentos", afirmou o Legislativo municipal. A Câmara de Ferraz de Vasconcelos decidiu não se manifestar.


Fonte: O GLOBO