Prefeito avalia convidar coronel Mello Araújo, que chefiou a Ceagesp, para cargo que ficará vago até abril. Indicação pode servir como aceno a Bolsonaro e tiraria militar da disputa pelo posto de vice na chapa à reeleição do emedebista

O prefeito de São Paulo e pré-candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), avalia convidar o coronel aposentado da Polícia Militar (PM) Ricardo Mello Araújo para chefiar a secretaria de Segurança Urbana da cidade. O ex-comandante das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), a tropa de elite da PM paulista, foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para ser vice de Nunes. Se ele aceitar o convite para chefiar a pasta, será descartado como opção para compor a chapa.

Mello Araújo entraria no lugar de Elza Paulina de Souza, que deixa o comando da secretaria até abril para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal paulistana.

Mello Araújo foi indicado para compor a chapa com Nunes no dia 29 de janeiro, em uma reunião do prefeito com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Outras opções também estão sendo estudadas, mas o ex-PM é quem tem o "carimbo" de Bolsonaro. Para aliados, a possível indicação para integrar o primeiro escalão da gestão municipal atenderia a um pedido do ex-presidente e seria mais um gesto de Nunes a Bolsonaro, que se soma à presença do prefeito na manifestação do último dia 25. Caso aceite, o militar estaria fora da disputa para o posto de vice na chapa do emedebista.

Mello Araújo presidiu a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) durante a gestão Bolsonaro e coleciona posicionamentos alinhados aos do ex-presidente da República. Em suas redes sociais, o militar já manifestou apoio ao impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), levantou suspeitas sobre o processo eleitoral e discursou contra o passaporte da vacina e a política de isolamento social em meio à pandemia da Covid-19.

Nome muito 'radical'

O nome de Bolsonaro para a vice de Nunes não foi bem-aceito no MDB, partido do prefeito, e provocou um racha interno no PL. Integrantes do diretório municipal paulistano e que fazem parte do chamado "PL raiz" têm sustentado nos bastidores que o militar é um nome muito "radical" para uma cidade como São Paulo, onde Lula e Fernando Haddad saíram vitoriosos na última eleição.

Outra questão levantada por membros do PL da capital é que um vice da Rota não teria aprovação na periferia, que será palco de disputas entre Nunes e os deputados federais e pré-candidatos à prefeitura Guilherme Boulos (PSOL) e Tabata Amaral (PSB-SP). A escolha de Marta Suplicy como vice do líder sem-teto tem como pano de fundo justamente o desempenho eleitoral da ex-prefeita em duas regiões periféricas da cidade: Parelheiros e Grajaú.

Correligionários do prefeito querem postergar ao máximo a decisão sobre quem vai concorrer ao lado dele, até mesmo para evitar novos ruídos com o ex-presidente e seu entorno. No ano passado, Bolsonaro trouxe desgastes à campanha ao sinalizar um possível apoio ao deputado federal Ricardo Salles (PL), que desistiu pela segunda vez da pré-candidatura em 31 de janeiro.

Aliados próximos do prefeito entendem que não há nenhuma garantia de que Bolsonaro fará o vice do emedebista. Entendem, ainda, que a indicação de Mello Araújo não é impositiva, e foi um forma de o ex-presidente afagar um aliado próximo.

Para correligionários do emedebista, todo o grupo político que apoia o prefeito será ouvido, sobretudo, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com quem Nunes tem relação próxima e cultiva uma série de parcerias. Além dele, terão influência na escolha Gilberto Kassab, presidente nacional do PSD e secretário de Governo de Tarcísio, e o vice-governador Felício Ramuth, que é ligado tanto a Tarcísio quanto a Kassab.

O deputado estadual bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos) é uma das opções colocadas à mesa. A aliados, Nunes afirma ter boa relação com o Tomé, que considera ter "visão de gestão". O parlamentar é empresário e ganhou notoriedade ao fundar o movimento Nas Ruas.

Numa articulação liderada por Tarcísio, Tomé foi convidado por Nunes para assumir a Secretaria de Urbanismo e Licenciamento, mas recusou. Em nota, justificou que a sua decisão se deve ao fato de "termos importantes eleições municipais pela frente, vendo como mais assertivo neste importante momento trabalhar para a campanha do candidato escolhido pela direita".

Tomé já havia declinado de um convite de Tarcísio para ocupar a secretaria de Turismo do governo estadual. De acordo com fontes próximas ao deputado, ele almejava chefiar a Casa Civil, atualmente ocupada por Arthur Lima, um aliado de primeira ordem de Tarcísio

Correligionários do prefeito afirmam que a recusa de Tomé se deve ao seu desejo de ser indicado como vice de Nunes. No entanto, a recusa da secretaria acabou irritando Tarcísio e complicando a costura para compor a eventual chapa.

O governador de São Paulo contava com Tomé na prefeitura de São Paulo para solucionar um problema antigo: ajudar o policial federal Danilo Campetti, segundo suplente de deputado estadual na bancada do Republicanos, a se aproximar de uma cadeira definitiva na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Desde o ano passado, bolsonaristas dizem que Tarcísio prometeu se movimentar para que Campetti assumisse o mandato, mas até então isso não havia acontecido.

Campetti integrava a equipe de segurança da campanha de Tarcísio quando houve um tiroteio numa agenda do então candidato em Paraisópolis. A Polícia Federal (PF) chegou a abrir investigação para apurar se o episódio foi fabricado para beneficiar eleitoralmente o hoje governador, o que fez aliados de Tarcísio falarem em uso político da PF e perseguição ao policial federal.


Fonte: O GLOBO