Empresário disse que teria gravações de árbitros reclamando por não ter recebido propina

A Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF) divulgou uma nota oficial, nesta sexta-feira, rebatendo as declarações feitas por John Textor, sócio majoritário da SAF Botafogo, sobre a arbitragem. A entidade, inclusive, disse que o americano tem que "ser banido do futebol brasileiro" caso não apresente provas.

"Se John Textor não provar o que disse, ele tem que ser banido do futebol brasileiro! Não há outro caminho e, diante do que ele disse, as instituições precisam agir", disse uma parte do texto.

Em entrevista exclusiva ao GLOBO, o americano disse que teria gravações de árbitros reclamando por não ter recebido propina. A afirmação de John Textor, no entanto, foi vista como "irresponsável e leviana" para a entidade, que também afirmou que o empresário abriu uma "guerra" contra a arbitragem brasileira.

Os ataques começaram quando o Botafogo atravessou uma sequência de fracassos que o levou a perder o título após liderar o campeonato com ampla margem. Em entrevista ao GLOBO depois da vitória sobre o Bragantino, pela Libertadores, na madrugada desta quinta-feira, o americano disse que possui gravações que mostrariam árbitros reclamando do não pagamento de propinas que haviam sido acordadas. E prometeu que, "nos próximos 30 dias", os torcedores saberão "o que realmente aconteceu no campeonato".

— Nos últimos jogos do ano passado, o ódio foi tão forte que foi muito difícil para nós assistirmos. Não pode ser assim. Não vamos ganhar campeonatos assim. E os fãs vão ficar sabendo, nos próximos 30 dias, o que realmente aconteceu no campeonato. Eles sabem o que eu sinto sobre isso, mas eu não vou divulgar isso na imprensa. É irresponsável. Os juízes na corte esportiva não deveriam estar fazendo piadas com ninguém sobre manipulações e erros — afirmou, prosseguindo:

— Alguém dizer que não há corrupção no Brasil, quando eu tenho juízes gravados reclamando de não terem suas propinas pagas... Talvez a CBF não devesse me processar. Eu não acusei o Ednaldo. Nunca disse nada sobre ele. Ele não é um corrupto. Ele é um homem que comanda uma organização que provavelmente precisa administrar melhor a corrupção externa. Porque é uma batalha contra fatores externos. É uma batalha que existe e está aqui. Houve manipulações e erros em 2021, 2022, 2023, e nós temos provas — declarou Textor em entrevista gravada ainda no Nilton Santos.

A conversa com a reportagem do GLOBO foi interrompida pela assessoria do clube, ao fim do tempo combinado para a entrevista, antes que o empresário pudesse ser interpelado sobre as acusações que fazia. Em novo contato nesta quinta-feira, Textor não quis compartilhar o conteúdo dos supostos áudios, nem informar a quais profissionais e partidas se referia.

Nesta sexta-feira, John Textor também se pronunciou nas redes sociais e afirmou que não apresentará as provas que possui por meio das redes sociais. O empresário americano, dono da Eagle Football Holding, disse que fornecerá as evidências e documentações primeiro por meio de processos oficiais.

“Para esclarecimentos sobre questões relacionadas a litígios iniciados por CBF e afiliadas, por favor saibam que não litigaremos por meio da imprensa. Fornecemos evidências e documentação responsivas, primeiro, por meio de processos oficiais. Obrigado”, escreveu Textor no X, antigo Twitter.

Confira a nota oficial da ANAF

"Acusações de John Textor contra a arbitragem brasileira são irresponsáveis e levianas

A ANAF - Associação Nacional dos Árbitros de Futebol, repudia com veemência as acusações infundadas e totalmente descabidas do empresário John Textor, dono da SAF do Botafogo, que sabe-se lá por que não de hoje abriu “guerra” contra a arbitragem brasileira.

Questionar a atuação dos árbitros no campo de jogo por uma falta não marcada, um pênalti deixado de ser assinalado ou uma advertência aplicada de maneira equivocada é uma coisa, afinal de contas somos seres humanos. Agora, dizer que na arbitragem brasileira há árbitros que se “vendem”, é uma acusação gravíssima que põe em xeque não só a categoria, como também toda a estrutura da CBF.

“SE JOHN TEXTOR NÃO PROVAR O QUE DISSE, ELE TEM QUE SER BANIDO DO FUTEBOL BRASILEIRO! NÃO HÁ OUTRO CAMINHO E, DIANTE DO QUE ELE DISSE, AS INSTITUIÇÕES PRECISAM AGIR”.

É inaceitável que um dirigente responsável por um dos mais importantes clubes do futebol nacional tome uma atitude pequena e lamentável como essa. Como representante legítima dos árbitros, a ANAF vai tomar todas as ações necessárias para que ele possa esclarecer suas declarações e iremos buscar todos os meios para que esse péssimo exemplo não se repita.

A arbitragem brasileira é formada por homens e mulheres de bem! E John Textor deveria ao invés de atacá-la, trabalhar e cobrar da CBF sua profissionalização. Isso é melhor do que falar besteiras, sem provas, na imprensa.

Salmo Valentim

Presidente da ANAF"


Fonte: O GLOBO