O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, de 38 anos, afirma ter sido ameaçado de morte, caso não cumprisse com o combinado de comprar diariamente bolacha, iogurte e carne enlatada para os criminosos

Após identificar em uma blitz o homem responsável por alimentar os fugitivos da penitenciária federal de Mossoró por oito dias, a Polícia Federal localizou a área em que a dupla ficou escondida, perto da divisa entre o Rio Grande do Norte e o Ceará. O mecânico Ronaildo da Silva Fernandes, de 38 anos, relatou que a família estava sendo feita refém e que ele tinha seus passos monitorados pelos criminosos.

Em entrevista a jornalistas, Ronaildo disse que Rogério da Silva Mendonça, de 36 anos, conhecido como Tatu, e Deibson Cabral Nascimento, de 34 anos, chegaram em sua propriedade na madrugada de sábado (17) para domingo (18). Num primeiro momento, eles pediram calma e disseram que nada iria acontecer com a família. Depois, no entanto, o mecânico afirma ter sido ameaçado de morte, caso não cumprisse com o combinado de comprar diariamente bolacha, iogurte e carne enlatada para a dupla.

— Estava em casa com a minha esposa quando eles chegaram e invadiram a porta. Não mexeram com a gente, só pediram para ficarmos calmos e que fizéssemos o que eles pedissem. (Deram) garantia que ninguém mexeria com a nossa família, mas sabiam que eu trabalhava em oficina, sabiam quase dos meus passos todinhos — relatou o mecânico.

Segundo Ronaildo, as compras eram deixadas a poucos metros atrás da casa dele, onde estavam escondidos os fugitivos em cabanas improvisadas e buracos feitos na terra. Ainda de acordo com o mecânico, ele só viu os criminosos uma única vez, quando eles chagaram na residência. A polícia investiga se a família, de fato, foi vítima ou se receberam dinheiro para ajudar os fugitivos.

— Me ameaçaram numa parte. Disseram que se fizesse o que estavam pedindo ninguém mexeria com a minha família. "Tem gente te observando" (disseram os fugitivos) — conta.

Mecânico foi detido em blitz

Ronaildo chegou a ser detido na tarde de sexta-feira (23) numa blitz onde tinha passado todas as informações e foi liberado à noite. No mesmo dia, o cerco na divisa do Rio Grande do Norte foi intensificado em busca dos fugitivos. Segundo investigadores, o carro em que estava o homem foi abordado em uma barreira feita pelo Grupo de Ações Especiais Penitenciárias do Sistema Penitenciário Federal (Gaep).

No sábado (24), o mecânico foi detido novamente, mas liberado. Ele disse que está assustado e pretende abandonar a propriedade, que ainda está em construção.

— Eu passei dias sem dormir, estava tomando remédio para dormir e não conseguia — disse.

A PF já havia prendido três homens suspeitos de ajudar os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte. Um foi preso temporariamente - ele passou por audiência de custódia nesta quinta-feira e teve a prisão mantida pela Justiça Federal do Rio Grande do Norte; os outros dois foram detidos em flagrante por porte de drogas e armas com a numeração raspada. Além da prisão, os agentes cumpriram nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE).

Tidos como criminosos de alta periculosidade, eles estavam na penitenciária de Mossoró desde setembro de 2023, após transferência por participarem de uma rebelião no presídio Antônio Amaro, no Acre, que resultou na morte de cinco detentos, três deles decapitados. De acordo com as investigações, eles têm ligações com a facção criminosa Comando Vermelho.

Recompensa por informações

Neste sábado, a polícia anunciou uma recompensa por informações sobre os dois foragidos. Será pago um valor de R$ 15 mil por informações sobre cada um dos fugitivos, totalizando R$ 30 mil em caso de informações sobre os dois. Segundo a PF, a recompensa será paga por meio de verba federal.

Para quem tiver informações, dois números foram divulgados para denúncias: o 181 e o (84) 98132-6057, este também disponível no WhatsApp. Informações também podem ser enviadas pelo e-mail disquedenuncia181@defesasocial.rn.gov.br. O aplicativo Segurança Cidadã, do governo do Rio Grande do Norte, também é um canal para informações sobre os foragidos.


Fonte: O GLOBO