Justiça declarou réu esquizofrênico e incapaz de responder pelo crime; internação será pelo resto da vida
No entendimento das autoridades locais, Begoleã, considerado incapaz, agiu de forma premeditada ao assassinar a facadas o compatriota Alan Lopes em Amsterdã no ano passado.
As investigações mostraram que, dias antes do crime, Begoleã Fernandes pesquisou na internet se existia pena de morte nos Países Baixos. Outro episódio revelado pelas investigações também aponta para um crime planejado. Uma testemunha não identificada relatou no tribunal ter ouvido o brasileiro expressar, antes do crime, seu desejo de matar Alan Lopes.
Begoleã tem duas semanas para recorrer da decisão. A Justiça concordou com a avaliação do Ministério Público de que o brasileiro é esquizofrênico e incapaz de responder pelo crime.
— A gente já imaginava que ele pegaria essa internação compulsória. Até mesmo porque já tem um tempo que ele foi diagnosticado com esquizofrenia — disse ao GLOBO Kamila Lopes, irmã da vítima.
Ao tribunal, Begoleã Fernandes relatou ter bebido uísque, fumado maconha e cheirado cocaína, na noite do assassinato.
— Você não tinha mais nenhuma visão da realidade e não era mais capaz de fazer avaliações normais. Os especialistas concluem, portanto, que o fato não pode ser atribuído a você — disse o juiz do caso durante a sessão, segundo o jornal Het Parol.
No entendimento da Justiça holandesa, o brasileiro premeditou o crime. De acordo com o MP, os peritos concluíram que Begoleã desenvolveu delírio paranoico em relação à vítima. "Ele estava convencido de que seria comido pela vítima (...) Naquele dia ele foi até a vítima ‘para resolver’ e naquela noite ameaçou a vítima de morte", afirma o órgão.
"A vítima dormia no andar de cima e o suspeito no sofá do andar de baixo. A certa altura, o suspeito subiu as escadas com uma faca na mão porque temia que a vítima o matasse. O suspeito espionou a vítima adormecida por algum tempo. Enquanto a vítima estava deitada, o suspeito estava pronto para atacar. Quando a vítima se levantou, houve uma briga e a vítima foi morta", descreve o MP, em nota.
— Uma testemunha fala que ele (Begoleã) ameaçou o Alan duas vezes, enquanto ele cortava a carne. Os juízes não aceitaram a tese de legítima defesa: o Alan não atacou primeiro, mas foi atacado enquanto dormia — disse ainda Kamila.
'Você nos destruiu'
Ao longo do julgamento, a mãe de Alan Lopes chegou a falar durante uma sessão do tribunal de Amsterdã. Na fala, feita em português, ela diz perdoar o assassino de Alan Lopes.
— Begoleã, você não tirou só a vida do Alan, meu filho. Mas você também matou minha nora, meus netos, e toda uma geração (...). Você nos destruiu de uma forma irreparável. E, mesmo com o meu coração dilacerado, não existe nele lugar para o ódio. Aprendi que o caminho para ter paz é o perdão. Por isso eu o perdoei. Eu espero que meu perdão possa trazer um pouco de paz para o seu coração — disse Antônia Lima, mãe de Alan Lopes.
Relembre o Caso
Begoleã foi preso no dia seguinte ao crime, em 27 de fevereiro, ao ser abordado por agentes da alfândega no aeroporto de Lisboa. Na ocasião da prisão, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português informou que havia com Begoleã "uma embalagem de plástico contendo diversos pedaços de carne". O brasileiro dizia que o material era humano, mas, posteriormente, a perícia holandesa indicou se tratar de carne animal.
— Essa pessoa (Begoleã) é amigo de dois, três anos, do meu irmão. Meu irmão abrigava ele, já que ele não tinha casa, moradia. Meu irmão ajudava muito ele. E, infelizmente foi assim que ele retribuiu — disse a irmã de Alan, Kamila Lopes, ao GLOBO em março do ano passado.
Antes de ser preso, enquanto dava início a uma tentativa de fuga do continente europeu, o brasileiro chegou confessar o crime para amigos e familiares através de mensagens. O áudio foi enviado a um interlocutor identificado apenas como Messias.
— Ele é canibal, tem muito tempo que a galerinha dele sabe, entendeu. O Marcos sabia, Wesley sabia, o Rafael sabia. Mas é uma parada tão bizarra que ninguém acredita — iniciou Begoleã.
— Aí ele pegou um marroquino e decepou o cara dentro do açougue [onde Alan trabalhava], como um porco. Ele me mostrou o vídeo e me chamou para a casa dele para comer um pedaço da carne do cara — prosseguiu.
'Bife humano'
Em entrevista ao canal de televisão português SIC, Carla Pimentel, mãe de Begoleã, reafirmou o que foi dito pelo filho no áudio. Segundo ela, Begoleã foi convidado para dormir na casa de Alan, que estava vazia após seus familiares partirem em viagem para a França. Lá, o brasileiro teria servido ao suspeito um prato de carne, que chamou a atenção de Begoleã por ser "preta" e de "gosto estranho", segundo descreveu à mãe.
Questionado sobre o que seria aquela carne, Alan, na versão apresentada por Begoleã à sua família, respondeu que seria "carne de gente". Com o celular, a vítima teria mostrado ao suspeito de homicídio cenas de execuções.
Apesar disso, no entanto, Begoleã optou por continuar na casa e lá teria decidido dormir. Por volta das 15h de domingo, foi acordado por Alan, que estava "em cima dele, para matar ele", disse a mãe ao canal SIC.
No áudio enviado a amigos, Begoleã afirma ter ido armado com uma faca ao local por suspeitar de Alan. Com experiência como lutador de kickboxing, Begoleã conseguiu revidar:
— Ele falou que na luta corporal conseguiu passar a faca no pescoço do Alan. O Alan caiu no chão, mas ainda mexendo. E ele deu uma facada no peito do Alan — diz a mãe, que conta ter recebido a ligação do filho relatando o ocorrido em seguida.
Fonte: O GLOBO
As investigações mostraram que, dias antes do crime, Begoleã Fernandes pesquisou na internet se existia pena de morte nos Países Baixos. Outro episódio revelado pelas investigações também aponta para um crime planejado. Uma testemunha não identificada relatou no tribunal ter ouvido o brasileiro expressar, antes do crime, seu desejo de matar Alan Lopes.
Begoleã tem duas semanas para recorrer da decisão. A Justiça concordou com a avaliação do Ministério Público de que o brasileiro é esquizofrênico e incapaz de responder pelo crime.
— A gente já imaginava que ele pegaria essa internação compulsória. Até mesmo porque já tem um tempo que ele foi diagnosticado com esquizofrenia — disse ao GLOBO Kamila Lopes, irmã da vítima.
Ao tribunal, Begoleã Fernandes relatou ter bebido uísque, fumado maconha e cheirado cocaína, na noite do assassinato.
— Você não tinha mais nenhuma visão da realidade e não era mais capaz de fazer avaliações normais. Os especialistas concluem, portanto, que o fato não pode ser atribuído a você — disse o juiz do caso durante a sessão, segundo o jornal Het Parol.
No entendimento da Justiça holandesa, o brasileiro premeditou o crime. De acordo com o MP, os peritos concluíram que Begoleã desenvolveu delírio paranoico em relação à vítima. "Ele estava convencido de que seria comido pela vítima (...) Naquele dia ele foi até a vítima ‘para resolver’ e naquela noite ameaçou a vítima de morte", afirma o órgão.
"A vítima dormia no andar de cima e o suspeito no sofá do andar de baixo. A certa altura, o suspeito subiu as escadas com uma faca na mão porque temia que a vítima o matasse. O suspeito espionou a vítima adormecida por algum tempo. Enquanto a vítima estava deitada, o suspeito estava pronto para atacar. Quando a vítima se levantou, houve uma briga e a vítima foi morta", descreve o MP, em nota.
— Uma testemunha fala que ele (Begoleã) ameaçou o Alan duas vezes, enquanto ele cortava a carne. Os juízes não aceitaram a tese de legítima defesa: o Alan não atacou primeiro, mas foi atacado enquanto dormia — disse ainda Kamila.
'Você nos destruiu'
Ao longo do julgamento, a mãe de Alan Lopes chegou a falar durante uma sessão do tribunal de Amsterdã. Na fala, feita em português, ela diz perdoar o assassino de Alan Lopes.
— Begoleã, você não tirou só a vida do Alan, meu filho. Mas você também matou minha nora, meus netos, e toda uma geração (...). Você nos destruiu de uma forma irreparável. E, mesmo com o meu coração dilacerado, não existe nele lugar para o ódio. Aprendi que o caminho para ter paz é o perdão. Por isso eu o perdoei. Eu espero que meu perdão possa trazer um pouco de paz para o seu coração — disse Antônia Lima, mãe de Alan Lopes.
Relembre o Caso
Begoleã foi preso no dia seguinte ao crime, em 27 de fevereiro, ao ser abordado por agentes da alfândega no aeroporto de Lisboa. Na ocasião da prisão, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) português informou que havia com Begoleã "uma embalagem de plástico contendo diversos pedaços de carne". O brasileiro dizia que o material era humano, mas, posteriormente, a perícia holandesa indicou se tratar de carne animal.
— Essa pessoa (Begoleã) é amigo de dois, três anos, do meu irmão. Meu irmão abrigava ele, já que ele não tinha casa, moradia. Meu irmão ajudava muito ele. E, infelizmente foi assim que ele retribuiu — disse a irmã de Alan, Kamila Lopes, ao GLOBO em março do ano passado.
Antes de ser preso, enquanto dava início a uma tentativa de fuga do continente europeu, o brasileiro chegou confessar o crime para amigos e familiares através de mensagens. O áudio foi enviado a um interlocutor identificado apenas como Messias.
— Ele é canibal, tem muito tempo que a galerinha dele sabe, entendeu. O Marcos sabia, Wesley sabia, o Rafael sabia. Mas é uma parada tão bizarra que ninguém acredita — iniciou Begoleã.
— Aí ele pegou um marroquino e decepou o cara dentro do açougue [onde Alan trabalhava], como um porco. Ele me mostrou o vídeo e me chamou para a casa dele para comer um pedaço da carne do cara — prosseguiu.
'Bife humano'
Em entrevista ao canal de televisão português SIC, Carla Pimentel, mãe de Begoleã, reafirmou o que foi dito pelo filho no áudio. Segundo ela, Begoleã foi convidado para dormir na casa de Alan, que estava vazia após seus familiares partirem em viagem para a França. Lá, o brasileiro teria servido ao suspeito um prato de carne, que chamou a atenção de Begoleã por ser "preta" e de "gosto estranho", segundo descreveu à mãe.
Questionado sobre o que seria aquela carne, Alan, na versão apresentada por Begoleã à sua família, respondeu que seria "carne de gente". Com o celular, a vítima teria mostrado ao suspeito de homicídio cenas de execuções.
Apesar disso, no entanto, Begoleã optou por continuar na casa e lá teria decidido dormir. Por volta das 15h de domingo, foi acordado por Alan, que estava "em cima dele, para matar ele", disse a mãe ao canal SIC.
No áudio enviado a amigos, Begoleã afirma ter ido armado com uma faca ao local por suspeitar de Alan. Com experiência como lutador de kickboxing, Begoleã conseguiu revidar:
— Ele falou que na luta corporal conseguiu passar a faca no pescoço do Alan. O Alan caiu no chão, mas ainda mexendo. E ele deu uma facada no peito do Alan — diz a mãe, que conta ter recebido a ligação do filho relatando o ocorrido em seguida.
Fonte: O GLOBO
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