Novidade que tiraria jogadores por dez minutos de campo, em caso de antijogo, precisa de detalhes e testes em níveis inferiores, mas é apontada como positiva

Com o surgimento da possibilidade de se introduzir um cartão azul no futebol profissional, segundo publicado ontem pelo jornal inglês The Telegraph, estabeleceu-se um debate que fez a Fifa negar publicamente que o novo modelo de punição chegue ao esporte neste momento. No entanto, antes que a Assembleia Geral da International Football Association Board (IFAB) — entidade que discute as regras do futebol — tome uma decisão sobre o assunto, em março, especialistas apontam a novidade como positiva.

Se realmente for implementado, este cartão removeria jogadores de campo pelo período de dez minutos. As motivações para sua aplicação seriam em casos de desrespeito ao árbitro ou lances de simulação. Além disso, dois cartões azuis resultariam em um vermelho (expulsão), assim como se um jogador acumular um azul e um amarelo dentro da partida.

Para a ex-árbitra Fernanda Colombo, o impacto seria positivo e a simples possibilidade do cartão azul ser levantada já é importante. Ela lembra que a discussão se assemelha à que existia há alguns anos, para a entrada de um cartão laranja, que serviria como punição intermediária.

— Uma forma de tentar melhorar o comportamento dos jogadores e não dar tanta desvantagem para os times, já que o jogador vai ficar só dez minutos fora. Em muitos casos, comentaristas falavam sobre um cartão laranja, e muita gente até ria. Porque existem muitos lances em que o amarelo é muito pouco para a situação. 

Só que o vermelho é um exagero. Então, chegava nesse limiar do laranja — disse Colombo ao GLOBO. — Eu acho que vai solucionar esse problema e, para o árbitro, vai ser melhor para conseguir controlar o jogo. A gente tem que ver na prática como que isso vai funcionar, se esse tempo é suficiente ou não.

Sob o ponto de vista da psicologia, Eduardo Cillo, coordenador de psicologia esportiva do COB (Comitê Olímpico do Brasil), entende que o novo recurso pode ser interessante para a mudança do futebol.

— Eu reflito sobre o impacto no comportamento dos jogadores, na medida em que ficar 10 minutos fora de campo implica em inferioridade numérica temporária e em uma vantagem ao adversário. Algo que já acontece em outras modalidades coletivas de quadra, no qual esse tipo de penalidade é aplicada. Esse impacto vai depender muito dos critérios que vão ser utilizados na aplicação dessa penalidade. Então, o jogador vai passar a evitar certas atitudes que podem gerar essa infração, assim como a aplicação do amarelo e vermelho fazem — diz Cillo.

Segundo o The Telegraph informou, a IFAB já divulgaria hoje as diretrizes para a aplicação do cartão azul em competições do futebol europeu. Porém, a Fifa emitiu comunicado negando que ele seja testado tão cedo, e que as informações são "incorretas e imaturas". Em 2 de março, o congresso da entidade colocaria o assunto em pauta para testes em níveis inferiores, se implementado.

Como analisa Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil, empresa que administra as carreiras de centenas de atletas, é realmente preciso definir todos os detalhes antes que essa novidade possa chegar ao esporte profissional. Ao mesmo tempo, também vê como positivo pensar no cartão azul para ser aplicado em várias situações específicas recorrentes.

— Para ser positivo, penso que deva exigir uma especificidade e detalhamento muito maior do que o existente para aplicação da punição com o mesmo. Existe um risco de que o amarelo seja menos aplicado, e um cartão que seria criado para punir determinadas práticas hoje não punidas, por julgarem o cartão amarelo muito "pesado" para elas, passe a ser usado para que o amarelo deixe de ser aplicado como devido. 

Vejo como interessante se aplicado para toda e qualquer reclamação com árbitro, para quem comete a quinta ou décima falta em sequência, ou mesmo para quem comemora gols retirando camisa, que é um bom exemplo de ato que gera expulsões tidas como indevidas pela maioria das pessoas — analisa Freitas.


Fonte: O GLOBO