Ex-presidente e aliados estão adotando precauções para evitar que a participação no protesto de domingo complique ainda mais sua situação jurídica

O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados prepararam “três vacinas” para tentar blindar de uma ação do Supremo Tribunal Federal (STF) o ato político marcado para a tarde do próximo domingo (25), na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).

O evento foi marcado para Bolsonaro demonstrar apoio popular e protestar contra as acusações a que responde no Supremo, no âmbito da investigação do seu envolvimento e de oficiais das Forças Armadas em uma trama golpista para impedir a posse de Lula.

Nos slogans usados para chamar apoiadores, o ato é descrito como uma manifestação em defesa do “Estado democrático de direito”.

Mas nos últimos dias, tanto apoiadores de Bolsonaro como integrantes da PF e do Supremo têm discutido a possibilidade de o ex-presidente descumprir alguma das medidas cautelares determinada pelo ministro do Supremo Alexandre de Moraes – como não ter contato com outros investigados na trama golpista, como o presidente do seu partido, Valdemar Costa Neto.

Por isso, Bolsonaro já convocou o ato pedindo, num vídeo, que seus apoiadores não compareçam ao ato carregando faixas, nem cartazes, com ataques de qualquer natureza.

“Eu peço a todos vocês que compareçam trajando o verde e amarelo. E mais do que isso, não compareçam com qualquer faixa ou cartaz contra quem quer que seja. Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações, que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses”, disse Bolsonaro, em vídeo divulgado nas redes sociais e em grupos de WhatsApp.

A estratégia é evitar que a militância bolsonarista aproveite a manifestação na rua mais importante de São Paulo para trazer novamente mensagens explícitas em defesa de uma intervenção militar, ou com ataques contra o STF ou Moraes – ou, em caso de haver tais faixas e cartazes, produzir uma “prova” de eles terão sido feitos contra a vontade de Bolsonaro.

“É uma forma de não virem com essa conversa fiada de que a direita fez um ato antidemocrático. Se levarem (cartazes), a culpa não é nossa”, disse o pastor Silas Malafaia, responsável pela organização do evento.

A segunda vacina é a participação inédita do advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, que vai marcar presença no ato da Paulista e deve subir no trio elétrico ao lado do ex-presidente, algo que nunca ocorreu em outros protestos convocados pelo seu cliente.

Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, o objetivo do advogado é acompanhar in loco os discursos de Bolsonaro e evitar qualquer armadilha que dê brecha para que o ex-presidente sofra alguma punição de Alexandre de Moraes – ou até mesmo seja preso.

A terceira vacina de Bolsonaro e seus aliados – esta contra um eventual fracasso da manifestação por falta de público – é o apelo para que os apoiadores que não possam comparecer ao evento da capital paulista não façam protestos similares em suas cidades no mesmo dia.

Em outro vídeo endereçado à militância, o próprio Bolsonaro diz:

– Não marquem, repito, e não compareçam a nenhum outro movimento fora da capital de São Paulo. Colaborem conosco, é uma grande fotografia, um momento ímpar para mostrarmos para o mundo, de verde e amarelo – sem faixas e cartazes – o que nós queremos: Deus, pátria, família e liberdade.

Segundo Malafaia, a estratégia busca evitar que o evento principal seja ofuscado por outra agenda, ou comparações entre o ato na Paulista e uma eventual baixa adesão em outras cidades menos populosas.

Para os bolsonaristas, o pior cenário seria expor o presidente ao risco de uma prisão sem nem ter conseguido demonstrar apoio popular.


Fonte: O GLOBO