Segundo avaliações de hóspedes em plataformas de turismo, quarto é desconfortável e cheio de insetos

A polícia francesa investiga a morte de uma brasileira no Hotel Europe, na região noroeste de Paris. A vítima, que estaria envolvida com tráfico de drogas, foi encontrada com um “ferimento profundo na artéria carótida”, no pescoço, no sábado, após passar uma semana hospedada no local. Outras duas brasileiras, presas por suspeita de envolvimento no assassinato, confessaram que elas e a compatriota falecida agiram como "mulas" e levaram drogas até a França.

De acordo com uma fonte policial da AFP, a vítima, de cerca de 40 anos, chegou ao hotel acompanhada por um homem, também ligado à mesma rede de tráfico de drogas. As informações foram confirmadas à AFP por fontes próximas à investigação. Este acompanhante, que inicialmente ficou hospedado no quarto ao lado, é o principal suspeito do caso e continua foragido.

A faxineira do estabelecimento encontrou o corpo, de bruços, na cama do quarto, no sábado, horas depois do homem deixar o hotel. A brasileira tinha “feridas de defesa” em um dos braços, o que indica uma luta corporal com o homicida. Havia sangue na camiseta da vítima e nos lençóis, bem como nas toalhas do banheiro. No entanto, nenhum “objeto pontiagudo” foi encontrado no local do crime, disseram as autoridades.

As outras duas mulheres brasileiras, de 27 e 37 anos, estavam hospedadas no mesmo hotel. Elas deixaram o local no sábado e foram presas no domingo, enquanto tentavam voar para fora do país, disseram duas fontes próximas ao caso à AFP.

Hotel sujo

Em plataformas de turismo online, o Hotel Europe, onde os suspeitos e a vítima ficaram hospedados, não é bem avaliado. Apesar de estar localizado em um ponto estratégico para turistas, próximo a uma estação de metrô e bairros famosos, segundo clientes, os quartos são muito pequenos e sujos, assim como os colchões e lençóis. Os banheiros também não agradaram, comentários alegam vazamentos nas privadas e pias, além de um forte cheiro de esgoto. No Google, a nota média dada ao estabelecimento é 3,2 de 5.

Alguns hospedes ainda relataram a presença de percevejos, chamados de "bed bugs", na cama, assim como nos móveis estofados. Um dos turistas afirma que precisou tomar remédios, após ter uma reação e inchaço devido às picadas do inseto, que são famosos na cidade. Nas redes sociais, nos últimos meses, viralizam vídeos e fotos de parisienses e visitantes que se deparam com o percevejo em camas de hotel, restaurantes e até em estofados de assentos no metrô.

"Estive lá por cinco dias, para começar os quartos são super pequenos mas isso é o de menos. A janela do quarto não fechava e estava -3 graus na rua. O banheiro ficava cheia de água que saía da privada. Para piorar, começamos a ser atacadas por percevejos, o quarto tinha esses bichos horríveis. No segundo dia de hospedagem, passamos na farmácia para ver o que eram as picadas, pois davam muita coceira e ficavam super inchadas. Quando fomos reclamar, os proprietários disseram que deviamos ter comunicado essa situação no primeiro dia", relatou uma hospede.

"Nunca vi um hotel tão sujo. Não, não é um hotel. Fiquei pasmo quando cheguei, não consegui ficar ali, era extremamente sujo. Os lençóis também tinham cabelos inexplicavelmente nojentos!", escreveu outro turista. "O quarto é muito pequeno, fedorento e sujo. Tudo estava cheio de cheiro de esgoto. Estava tão sujo que nem queria tomar banho e tive dificuldade para dar descarga", completou mais um.

Investigação revela rede de tráfico

Na noite de quinta-feira, as mulheres disseram a um juiz que era a primeira vez que agiam como "mulas" do tráfico

— Tenho três filhos e uma mãe que tem câncer. A chuva destruiu a minha casa em dezembro, e tenho dívidas — alegou a mulher de 27 anos.

A mulher de 37 anos, por sua vez, pediu desculpas pelo ato, dizendo que devia dinheiro a alguém que a havia "ameaçado".

Advogada da suspeita de 27 anos, Maria Snitsar argumentou ao juiz que a cliente não "merecia dormir na prisão" naquela noite, já que tinha uma ficha criminal limpa, até então. Já o advogado Simon Olivennes, que representa a outra acusada, defendeu que o caso de homicídio fosse separado da acusação de tráfico "a fim de evitar uma colossal perda de tempo para a instituição judicial".

No entanto, segundo o promotor responsável, o caso tem “um duplo objetivo”: “encontrar o autor do crime [homicídio] e todos os coautores do tráfico de drogas”.

— Há outras pessoas identificadas para serem presas — disse ele.

A investigação sobre o assassinato da brasileira num hotel de Paris revelou uma rede de tráfico de drogas entre o Brasil e a França, informaram fontes judiciais à AFP.

Um promotor argumentou que as brasileiras deveriam ficar detidas devido ao risco de represálias de “pessoas muito perigosas” da rede de drogas. Um juiz ordenou que elas permanecessem sob custódia “enquanto prosseguem as investigações”. Os investigadores afirmaram que ambas as mulheres estão expostas a “um risco bastante significativo de retaliação” no Brasil.


Fonte: O GLOBO