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A ideia, segundo o assessor especial da pasta, Carlos Ernesto Augustin, é abrir uma linha de crédito via BNDES, para melhorar o capital de giro dos produtores, além de dar mais prazo para que eles paguem dívidas com o governo federal.
— Já fizemos várias reuniões com o setor para entendermos a situação. No momento, temos duas medidas em estudo: uma é conseguir aportes do BNDES para o setor, mas sem custo para o Tesouro. Outra possibilidade é adiar os vencimentos de investimentos (dívidas) deste ano e prorrogar para o último ano do contrato — disse.
R$ 20 bi em dívidas
Essas dívidas de produtores foram contraídas para fazer investimentos, e a ideia do governo é diferir o pagamento. Cálculos iniciais indicam passivos de cerca de R$ 20 bilhões.
De acordo com o Índice de Commodities do Banco Central (IC-Br), os preços das matérias-primas (agrícolas, de energia e minerais) caíram ao menor patamar em mais de dois anos. Em dezembro, último dado divulgado, o indicador recuou para 342,77 pontos, contra 340,69 pontos de julho de 2021. Principalmente as commodities agrícolas puxaram o índice para baixo, voltando ao menor nível desde junho de 2021.
Augustin afirma que houve uma explosão nos preços por causa da pandemia, e agora há uma “volta à normalidade”. O problema, diz, é que os custos também subiram como efeito da crise sanitária, e os produtores estão agora com rentabilidade baixa:
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— Se a gente comparar o preço atual com a média histórica, ainda está elevado. Mas a rentabilidade está muito baixa, porque os preços dos insumos permanecem muito elevados. Eles também devem cair mais à frente, tudo isso é natural, mas é preciso dar um suporte ao setor para conseguir atravessar esse período.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, mostram que o preço da soja, principal produto agrícola exportado pelo Brasil, recuou 23,6% em janeiro, em reais, na comparação com o mesmo mês de 2023. Já o milho caiu 20,4%, e o café, 13,3%, para citar três exemplos.
Bruno Lucchi, diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), diz que cadeias de produtos como café, boi, milho, soja, algodão, chegaram a ter redução em torno de 30% nos preços em reais em 2023.
Ele explica que, embora o PIB agropecuário tenha crescido cerca de 15% em 2023, quando a análise é mais ampla, ou seja, incorporando os serviços ligados ao setor, e também a indústria, houve redução em torno de 1% no ano passado.
— Devemos ter uma queda de 0,8% no volume de produção este ano, em função de fatores climáticos, com quebras de safras em várias cadeias de produtos. No agronegócio, que é diferente da agropecuária, é mais amplo, podemos cair 2% ou ficar estagnado no melhor cenário — disse.
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O técnico da CNA afirma que a safra agrícola deste ano deve ficar abaixo das 300 milhões de toneladas, contra o número recorde de 319 milhões de toneladas do ano passado. Nas exportações o agro, depois da alta de 4,8% em 2023, tem como melhor cenário conseguir manter o patamar de US$ 165 bilhões.
Menos bezerros
Lucchi alerta que a queda dos preços dos produtos agrícolas por períodos prologados, embora ajude a reduzir a inflação de curto prazo, pode impactar os investimentos por parte dos agricultores, com efeitos sobre a produção à frente. Isso faria os preços subirem rapidamente, caso a oferta fique mais restritiva:
— No setor de carnes, por exemplo, está havendo muitos abates de fêmeas, como reflexo dos preços mais baixos. Com isso, haverá também menos nascimento de bezerros, com efeitos sobre a oferta mais à frente. Tudo na agropecuária tem um ciclo mais longo de produção, seja entre o plantio e a colheita, ou na criação de animais.
Levantamento da consultoria Agroconsult indica que o plantio de soja este ano terá uma queda de 6,4% na produtividade. Estados de Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Bahia já estão com perdas consolidadas. Para efeito de comparação, na safra passada, apenas o Rio Grande do Sul apresentou problemas.
Segundo o Itaú Unibanco, o PIB da agropecuária será de apenas 0,6% este ano, depois de uma alta projetada de 15,9% em 2023 (o dado oficial ainda não foi divulgado).
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O economista Sérgio Vale, da MB Associados, explica que a queda dos preços das commodities ajuda a entender por que as projeções de crescimento da economia este ano estão baixas, em torno de 1,5%.
— Os anos de 2021 e 2022 foram de forte expansão do dólar e do preço das commodities. No ano passado, houve aumento do volume de produção. Em 2024 não tem impacto relevante em nenhuma dessas frentes. A consequência também é de crescimento menor da arrecadação, o que já começou a acontecer no ano passado — afirma o economista.
O problema é também dos cofres públicos. Apesar de o setor ser fortemente desonerado, há uma cadeia de produção por trás que aumenta a arrecadação de impostos. Segundo Bruno Lucchi cerca de 20% da arrecadação do governo federal está relacionada ao agro, quando são incorporados também os serviços e a indústria. A queda das commodities pode afetar também o investimento, que já caiu nos anos de 2022 e 2023. Um dos riscos, por exemplo, é a menor demanda por máquinas e equipamentos agrícolas.
Na mineração, as commodities metálicas voltaram ao mesmo patamar de outubro de 2022, segundo o IC-Br do Banco Central. Dados da Receita Federal mostram que houve queda de 59% na arrecadação de 2023 com o setor de minerais metálicos, em relação a 2022, considerado o período de janeiro a novembro. Isso representou uma perda de R$ 22 bilhões. Por isso, há atenção entre economistas sobre os impactos dessa guinada nas contações sobre as contas públicas.
A avaliação da Vale, no entanto, é de que os preços já começaram a se recuperar no segmento de minério de ferro, principal produto exportado pela mineradora.
A visão da companhia é de que o minério de ferro teve comportamento diferente de outras commodities. O menor valor nos últimos dois anos foi registrado em outubro de 2022, quando atingiu US$ 79,50 a tonelada. Hoje, o preço gira em torno de US$ 130.
Fonte: O GLOBO
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