Percebe-se que não há processo algum na decisão mais importante da entidade mais importante do futebol brasileiro

Se existe um redator para escrever a História do Brasil, em particular do futebol, seu problema é não saber encerrar uma história. Quando se pensa que a trama está chegando ao fim, com vencedores e derrotados, ele inventa um plot twist. Mais um. Outra vez. Esqueça a eleição para presidente da CBF, pelo menos por enquanto. Ednaldo Rodrigues está de volta ao cargo, e com ele tudo muda de novo.

A maneira como o dirigente retornou foi tipicamente brasileira. Destituído após decisão no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, malsucedido em seu recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), o cartola conseguiu alterar o quadro no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Gilmar Mendes concedeu uma liminar para anular as decisões anteriores e permitir a sua recondução.

Era de se esperar que Gilmar não fosse o membro do Supremo a tratar do caso, uma vez que o instituto que fundou e hoje é administrado por seu filho, Francisco Mendes, tornou-se parceiro comercial da CBF na gestão de sua escola justamente no mandato de Ednaldo. Não deveria o ministro ter se declarado suspeito? O fato é que Gilmar ignorou a circunstância e tomou sua decisão.

Um detalhe dessa história é que a ação protocolada no STF para que Gilmar interviesse na CBF, com urgência, partiu do PCdoB. Qual a agenda do partido comunista para o futebol? Quais são as suas contribuições, os seus ideais, os seus representantes? Tanto faz. Tirando uma figura ou outra a assumir cargos em momentos convenientes, como já foi ministro do Esporte o deputado Orlando Silva, nenhum partido se alinha realmente ao esporte. É a política pela política, como se faz no Brasil.

Bem, Ednaldo voltou ao comando da CBF. E qual foi sua primeira decisão? A escolha do técnico para a seleção brasileira, por óbvio, pois é neste flanco em que o cartola mais apanha da opinião pública. Sai Fernando Diniz, entra Dorival Júnior. Demite um e contrata outro. Parece simples, mas não é.

Percebe-se que não há processo algum na decisão mais importante da entidade mais importante do futebol brasileiro. Na demissão de Diniz, Ednaldo irritou o treinador ao descartá-lo sem fazer uma avaliação de seu trabalho e por procurar substitutos antes de demiti-lo. Procedimentos básicos, que deveriam fazer parte de qualquer troca de técnico no país. A CBF deveria dar exemplo nisto. Não dá.

Na contratação de Dorival, tampouco há qualquer sinal de profissionalismo. Entre os contratados da confederação, quem é o responsável pela escolha do técnico? Quais são os critérios? Qual é o planejamento, e como o novo treinador se encaixa nele? Não há. O que existe é um cartola amador, com experiência na gerência amadora de uma federação estadual, que quer Dorival porque quer.

E o pior é que não há nem mesmo segurança de que Ednaldo continuará no cargo. O plenário do STF ainda vai avaliar seu caso — Gilmar apenas concedeu liminar. Seus inimigos políticos ainda o detestam e têm outros meios para atacá-lo. Dorival pode ter deixado um trabalho sólido no São Paulo para sair da seleção daqui a pouco. Diniz, pelo menos, teve seu livramento. Tudo isto vai sendo decidido por alguém que, dias atrás, estava politicamente morto. Amanhã, ninguém sabe.


Fonte: O GLOBO