Para analistas, Brasil está vivendo um segundo período de bonança externa

O forte resultado da balança comercial brasileira traz à memória o período de ouro das commodities, vivido no início dos anos 2000, e tem levado investidores a apostarem numa nova janela de valorização para o real.

O superávit comercial do país atingiu US$ 9,4 bilhões em dezembro, mais do que todas as estimativas de pesquisa da Bloomberg com economistas, que apontava para uma mediana de projeção de US$ 7,7 bilhões. Em 2023 como um todo, o Brasil registrou um superávit comercial de US$ 98,8 bilhões, bem acima dos US$ 61,5 bilhões registrados em 2022 e o maior resultado em mais de 30 anos.

O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o superávit foi significativo e acrescentou que o governo espera que as exportações aumentem ainda mais em 2024, para US$ 348 bilhões. O resultado do ano passado ajuda as reservas internacionais do país e a economia, disse ele aos jornalistas na sexta-feira, após a publicação dos números da balança comercial.

A notícia não poderia vir em melhor momento para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele lida com a perspectiva de uma desaceleração econômica e queda na arrecadação em 2024, quando precisará de recursos para bancar seu ambicioso plano de investimentos sem ameaçar a meta fiscal.

O sucesso econômico do Brasil durante os dois primeiros mandatos de Lula - de 2003 a 2010 - foi parcialmente ancorado num boom de commodities. Agora, mesmo com os preços das matérias-primas abaixo daqueles níveis, o volume das exportações do país cresceu com petróleo, soja e outros produtos agrícolas.

“Estamos vivendo um segundo período de bonança externa”, dizem economistas do Bradesco, em relatório. “Além do petróleo, também estão crescendo as exportações de produtos agropecuários.” Eles escreveram que, nos 12 meses encerrados em outubro de 2023, o volume vendido de produtos agropecuários aumentou quase 30%.

A SPX Capital, que totaliza R$ 60,7 bilhões em ativos sob gestão, aposta em uma mudança estrutural que vai garantir superávits robustos pelos próximos anos.

Outros fundos têm análises similares.

Em dezembro, a Verde Asset Management disse em carta a investidores que abriu uma aposta otimista no real em relação ao dólar, com a leitura de que superávits anuais de US$ 100 bilhões ou acima provavelmente serão o “novo normal” para o país.

O fundo justifica sua análise nos crescentes volumes exportados de petróleo e soja, que são os maiores componentes em valor da balança comercial brasileira.

A XP também espera que o real se fortaleça. Nesta semana, revisou suas estimativas para o câmbio de R$ 4,85 para R$ 4,70 baseado nas perspectivas de uma balança forte e na expectativa de cortes de juros pelo Federal Reserve.

“Houve uma mudança de nível na balança comercial brasileira” e os superávits devem seguir acima dos US$ 62 bilhões vistos em 2022, disse Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisa econômica da XP. Ele prevê superávit de US$ 86 bilhões em 2024.

Petróleo e agricultura

O Brasil está colhendo os efeitos dos investimentos feitos na extração de petróleo nos últimos anos e do ganho de produtividade no agronegócio. Embora alguns fatores cíclicos tenham ajudado a balança comercial brasileira em 2023, “há elementos permanentes e estruturais que favorecem a produção de petróleo, soja e milho”, diz Margato.


Fonte: O GLOBO