Farga, variedade de oliveira de Tarragona, na Espanha, surgiu há centenas de anos, mas seu óleo divino só foi reconhecido mundialmente no século XXI

São poucas as civilizações que não veneraram a oliveira como um símbolo de vida e prosperidade. A farga é uma das variedades mais exclusivas e antigas, encontrada na fronteira entre Tarragona e Castellón, na Espanha. Ela é resultado da seleção dos espécimes mais resistentes ao vento.

As constantes rajadas de vento na região forçaram a seleção das oliveiras com os pecíolos — cabos que ligam a folha ao caule, dando suporte e sustentação — mais fortes, para evitar que as azeitonas rolassem no chão antes da hora.

Seu azeite de oliva, que faz sucesso entre os japoneses, só começou a ser valorizado nos primeiros anos do século XXI, quando empresários ocidentais compraram essas grandes oliveiras para levá-las a seus jardins por um preço que poderia chegar até € 20 mil (R$ 108 mil). Essa retirada foi retratada por Icíar Bollaín no filme “El olivo” (2016).

Quase imortal e resistente a ventos extremos

Não há uma data exata de nascimento da farga como variedade de azeitona e poucos — se é que alguém — já viram uma oliveira dessas morrer. Essa paisagem surgiu com a expansão do Império Romano e sobreviveu ao seu declínio.

Naquela época, “a resistência da árvore era uma virtude que agora é determinada como um custo para o produtor”, lamenta Bernabé Moya, um botânico internacional especializado em árvores monumentais.

Não há novas árvores de Farga, e as que existem têm pelo menos 100 anos. Uma das mais antigas é a farga del Arión, em Ulldecona, Tarragona, que tem 1.709 anos e seus galhos produzem frutos desde os anos 300.

‘Leves toques de banana’

Quanto mais velha a árvore, maior o diâmetro do tronco, mais longos os galhos e maior o volume da copa, o que exige uma colheita muito mais trabalhosa. O primeiro azeite de oliva extravirgem que reivindicou esse patrimônio foi chamado de Milenário, em 1993. Em 2008, uma associação foi formalizada para catalogar as oliveiras monumentais farga.

- Não há outra variedade que tenha sido preservada por tantos séculos e ainda esteja produzindo - diz Keiko Tagawa, uma provadora profissional especializada em azeites extravirgens.

É isso que atrai o comprador japonês. Segundo o produtor Olis Cuquello, sua resistência à variação climática garantiu sua sobrevivência por tantos séculos.

- Elegante e muito versátil, com leves toques de banana e notas herbáceas, o melhor de tudo é sua suavidade - diz Tagawa, fascinada pela farga da propriedade Varona la Vella (Sant Mateu, Castellón).

Azeite milenar

Os melhores azeites de cada ano são destinados a uma edição especial limitada — com a marca de garantia Milenaria Farga Oil, M de Milenarias —, que custa nada menos que € 260 o litro (cerca de R$ 1.395).

Em 2015, a entidade criou uma marca de garantia para controlar a rastreabilidade das oliveiras dedicadas ao cultivo, à extração e à comercialização. Assim, com a distinção Aceite de Farga Milenaria (M de Milenar), o consumidor é informado de que esse azeite de oliva extravirgem provém de oliveiras que atendem aos parâmetros físicos que, sem estabelecer a idade exata, são chamados de milenares por se enquadrarem nos padrões extraídos das árvores de farga.


Fonte: O GLOBO