Analistas previam retração de 0,2%. Investimentos e agropecuária recuam, mas consumo das famílias e serviços avançam mesmo em cenário de juros altos
A freada já era esperada, mas o resultado veio acima da expectativa, levando a atividade econômica de volta ao maior patamar da série histórica, bem acima do nível pré-pandemia.
Pesquisa do Valor com projeções de analistas de instituições financeiras e consultorias apontava para uma retração de 0,2% no PIB do terceiro trimestre sobre o segundo.
Agropecuária e investimentos caíram, levando a economia a perder fôlego. Por outro lado, consumo das famílias cresceu mais que no trimestre anterior, mesmo em um cenário de juros elevados, e o setor de serviços manteve o ritmo de expansão, demonstrando resiliência. Veja abaixo os destaques do PIB.
- Agropecuária: -3,3%
- Indústria: 0,6%
- Serviços: 0,6%
- Consumo das famílias: 1,1%
- Consumo do governo: 0,5%
- Investimentos: -2,5%
- Exportações: 3,0%
- Importação: -2,1%
A queda da agropecuária, que sustentou o crescimento do PIB no primeiro trimestre, foi a primeira após cinco trimestres com taxas positivas, segundo dados revisados.
“A agropecuária atingiu o seu maior patamar no trimestre passado e neste há a saída da safra da soja, a maior lavoura brasileira, que é concentrada no primeiro semestre. Portanto, essa queda era esperada", diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, lembrando que no ano o setor cresce 18,1%.
Agropecuária tem primeira queda, após cinco trimestres de alta — Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo
Já o recuo dos investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) foi a quarta queda consecutiva quando comparado ao trimestre imediatamente anterior, reflexo da política monetária contracionista. Juros elevados encareceram o crédito nos últimos meses, e o resultado foi um freio em novos projetos.
Na comparação com o trimestre anterior, a queda de investimento foi de 6,8%, com menor importação de máquinas e menor expansão da construção civil.
Com isso, a taxa de investimento no terceiro trimestre deste ano caiu a 16,6% do PIB, patamar de 2020, ano da pandemia, quando a economia parou.
Consumo cresce com inflação menor
Consumo das famílias, porém, demonstrou resiliência. O crescimento de 1,1% no terceiro trimestre supera o 0,9% de avanço nos três meses anteriores. O consumo do governo cresceu apenas 0,5%.
“O crescimento do consumo das famílias é explicado por alguns fatores, como os programas governamentais de transferência de renda, a continuação da melhora do mercado de trabalho, a inflação mais baixa e o crescimento do crédito”, destacou Rebeca.
Por outro lado, diz, apesar de começarem a diminuir, os juros seguem altos e as famílias seguem endividadas. Um dos reflexos dessa dinâmica é que houve queda no consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos.
Prédio sendo construído em São Paulo. Segmento foi o único a cair da indústria — Foto: Edílson Dantas/Agência O Globo
Serviços - que respondem por quase 70% do PIB - e indústria avançaram ambos 0,6% na comparação com os três meses anteriores. No caso de serviços, os destaques foram atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (1,3%) e as imobiliárias (1,3%). Já o setor de transporte, que vinha crescendo a passos largos a reboque do agronegócio, recuou 0,9%.
Na indústria, o crescimento foi puxado pelo segmento de eletricidade e gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos (3,6%). De acordo com Rebeca, o consumo de energia tem sido elevado devido às altas temperaturas. Construção (-3,6%) foi a única atividade industrial a cair no trimestre.
Comparação com 2022
Na comparação igual trimestre de 2022, o PIB cresceu 2%, impactado pelos resultados positivos dos três grandes setores. A agropecuária avançou 8,8%, com o aumento na estimativa de algumas culturas que têm safra relevante no terceiro trimestre, como o milho e a cana-de-açúcar
Na indústria, a alta foi de 1%. Já o setor com maior peso no PIB, o de serviços, avançou 1,8%.
Já o setor com maior peso no PIB, o de serviços, avançou 1,8% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado. Todas as suas atividades ficaram no campo positivo: atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (7,0%), atividades imobiliárias (3,6%), informação e comunicação (1,6%), transporte, armazenagem e correio (1,6%), outras atividades de serviços (1,1%), comércio (0,7%) e administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,4%).
Fonte: O GLOBO
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