Letalidade policial aumentou em 20% desde o início do mandato

Ex-militar, Tarcísio de Freitas (Republicanos) representou uma ruptura nas políticas de segurança pública do antecessor João Doria à frente do governo de São Paulo ao colocar na secretaria responsável pela área um ex-policial expulso da Rota por “matar demais”. Em coletiva de imprensa após a apresentação dos resultados de sua gestão em 2023, o governador elencou a segurança pública como um setor que o deixou insatisfeito em seu ano de estreia no Palácio dos Bandeirantes.

Em 12 meses de gestão, o governador cortou a verba destinada às câmeras corporais para uso de policiais, defendeu uma operação no litoral paulista que se tornou a mais letal do estado desde o massacre do Carandiru, em 1992, viu o número de feminicídios e os problemas de insegurança no Centro de São Paulo dispararem.

Números

Em contrapartida, o estado registrou queda, em relação a 2022, em homicídios dolosos (11%), latrocínios (1,48%), roubo de veículos (6,9%) e de carga (5,5%). O número de furtos, no entanto — índice que impacta diretamente na sensação de insegurança — aumentou 3,3%. Os dados, no acumulado entre janeiro e outubro de ambos os anos, são da Secretaria de Segurança Pública (SSP).

A gestão do ex-ministro bolsonarista interrompeu três anos seguidos de queda na letalidade policial. São 366 mortes em decorrência de intervenção policial, ante 304 no ano passado, um aumento de 20%. Os dados são do Grupo de Atuação Especial da Segurança Pública e Controle Externo da Atividade Policial, o Gaesp, do Ministério Público de São Paulo, e só consideram policiais em serviço.

A Operação Escudo, deflagrada após o assassinato de um soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), responde por 28 dessas mortes e marca um dos momentos de maior tensão do governo na área de segurança pública. Um relatório do Conselho Nacional de Direitos Humanos chegou a apontar “graves excessos no uso da força e execuções sumárias com disparo de armas de fogo”. O colegiado reuniu depoimentos de 11 moradores de comunidades do Guarujá e de Santos.

As denúncias ganharam contornos mais graves após o próprio governo informar que parte dos policiais militares que atuaram no confronto não tinham câmeras acopladas aos uniformes. O orçamento destinado aos equipamentos sofreu um corte de 37% este ano, passando de R$ 152 milhões para R$95 milhões. Tarcísio veio a público defender a ação da PM e negar “excessos”.

Procurada, a SSP informou que o programa de câmeras corporais foi mantido, com 10.125 câmeras em funcionamento, e os casos de mortes decorrentes de intervenção policial “estão relacionados à ação dos criminosos que optam pelo confronto”.

Tarcísio também chega ao fim de seu primeiro ano de mandato sob um recrudescimento dos casos de violência contra mulheres. Os feminicídios (assassinato de mulheres provocado em razão do gênero) saltaram 18% de 2022 para 2023, considerando o acumulado de janeiro a outubro, os dados mais recentes. Os indicadores são da própria SSP-SP.

— Justamente porque esse crime ocorre em casa a gente vê os gestores se afastando dessa responsabilidade — diz Carolina Ricardo, diretora executiva do Instituto Sou da Paz

Já a cracolândia, que Tarcísio prometeu colocar fim durante a campanha, quase dobrou de tamanho. O fluxo de usuários de drogas viveu um ano sob os holofotes, com mudanças de endereço e cenas de saques a comércios e depredação de veículos, o que aumentou a sensação de insegurança no centro da cidade.

A SSP afirma ter intensificado as ações de combate à violência contra a mulher para reduzir os crimes e sua subnotificação, e que tem reforçado a segurança no centro da capital com ampliação do policiamento.


Fonte: O GLOBO