Cirurgião João Batista de Couto Neto, de 46 anos, é investigado em vários inquéritos por ter cometido dezenas de negligências médicas que teriam provocado mortes de pacientes no Rio Grande do Sul

Mesmo após denúncias, o médico cirurgião João Batista de Couto Neto, de 46 anos, preso nesta quinta-feira havia feito um novo registro, em fevereiro deste ano, no Conselho Regional de Medicina de SP (Cremesp) para atuar. Ele é investigado em vários inquéritos por ter cometido dezenas de negligências médicas que teriam provocado mortes e mutilações em mesas de cirurgia de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. A prisão aconteceu enquanto exercia a medicina num hospital do município de Caçapava, no interior de São Paulo.

O Cremesp explicou que, quando aceitou o registro de João Couto, sabia que o profissional havia enfrentado uma suspensão de licença no RS, mas que "era obrigado a efetuar o registro do médico", porque a restrição era parcial, de acordo com o G1. Ainda segundo o Cremesp, “cabe às autoridades e ao Conselho do Rio Grande do Sul”.

João Couto Neto preso em SP por policiais civis — Foto: Divulgação / Polícia Civil

O mandado de prisão preventiva foi expedido na quarta-feira pelo juiz Guilherme Machado da Silva, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. O médico foi indiciado por homicídio doloso — quando há intenção de matar — pela Delegacia de Novo Hamburgo, com base na conclusão de três inquéritos. A polícia suspeita que, ao todo, ele possa estar por trás de pelo menos 42 mortes de pacientes e outros 114 casos de lesão corporal.

Quem é o médico?

No ano passado, quando ainda mantinha no ar suas redes sociais, Couto Neto exibia em seu perfil, como forma de propaganda pessoal, a marca de mais de 25 mil cirurgias realizadas em 19 anos de profissão – uma média de cerca de 1,3 mil por ano. O profissional era participativo na internet, onde ostentava mais de 15 mil seguidores no Instagram, além de outros 13 mil, no Facebook.

Há 1 ano, no dia 12 de dezembro de 2022, quando foi afastado por 180 dias das mesas de cirurgia por decisão da Justiça gaúcha, o cirurgião comentou sobre a marca de "mais de 20 mil cirurgias realizadas" e exaltou o exercício da Medicina.

"Atuar como médico é sempre um grande desafio. Temos plena consciência e certeza de praticar a medicina para a melhor saúde dos pacientes", escreveu. "E com esta responsabilidade e maturidade, nos sentimos confortáveis em afirmar que realizamos mais de vinte mil cirurgias e procedimentos durante os últimos 19 anos, cumprindo os mais elevados preceitos médicos, honrando esta profissão que é a melhor tradução de minha vida."

Mensagem escrita pelo médico no dia em que foi suspenso pela Justiça do RS — Foto: Reprodução

Acusações de erro médico

Na publicação, em meio a elogios que eram feitos por pacientes que diziam estar com o profissional há anos, havia também a descrição, por parte de outras pessoas, de um homem que já tinha sua atuação questionada, inclusive por colegas de profissão. São vários os que o acusavam de erro médico.

Segundo o delegado Tarcísio Kaltbac, da Polícia Civil em Novo Hamburgo, que investiga o caso, o médico, que só atuava na rede particular, chegava a acumular até 25 cirurgias num mesmo turno de plantão.

Uma das linhas da investigação da polícia é que esse comportamento visava a aumentar os ganhos financeiros, mas levava à negligência e aos erros médicos. Para o delegado, a quantidade de cirurgias impedia Couto Neto cuidar corretamente das intervenções e dos pós-operatórios. Mas os investigadores ainda tentam entender como falhas tão graves foram cometidas, o que leva à hipótese de crueldade deliberada.


Fonte: O GLOBO