Posições consideradas conservadoras e até investigação que teve como alvo Gleisi Hoffmann alimentam reservas de petistas. José Genoíno expõe incômodo

A indicação de Paulo Gonet à Procuradoria Geral da República (PGR), feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provocou insatisfação em um grupo do PT, mais à esquerda ideologicamente e que o considera um conservador e entusiasta da Operação Lava-Jato, objeto de duras críticas do partido nos últimos anos. Os principais nomes da legenda, como a atual presidente, Gleisi Hoffmann, têm silenciado sobre a escolha, enquanto petistas históricos e parlamentares de siglas aliadas não poupam críticas ao procurador.

Os ex-presidentes do PT José Dirceu e José Genoíno, que, apesar de terem submergido do cenário político, ainda têm influência interna, estão entre os descontentes. Na semana passada, Genoíno disse a um site simpático ao PT que o procurador “é um conservador, que assume essas posições de maneira clara e contundente” e que Lula poderia ter indicado um nome “com a mesma competência institucional”.

Gleisi agiu tentar vetar a indicação. Desde que o nome de Gonet foi anunciado, ela não fez nenhuma manifestação sobre ele. Assim como grande parte do partido de Lula, Gleisi desejava que o escolhido para a PGR fosse o subprocurador Antônio Carlos Bigonha, próximo de Dirceu, Genoíno e apoiado pelo grupo jurídico Prerrogativas, ligado a Lula.

Em 2016, Gonet foi favorável à abertura de uma ação contra Gleisi e seu ex-marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, em uma ação na Lava Jato. Eles eram acusados de envolvimento em contratos superfaturados da Petrobras. Em seu parecer, o procurador sustentou que o casal tinha “ciência de um esquema criminoso e da origem espúria da quantidade que receberam”. Dois anos depois, o Supremo Tribunal Federal (STF) absolveu Gleisi e Paulo Bernardo por falta de provas.

Dirceu e os membros do Prerrogativas consideram a indicação do procurador como um assunto superado. A avaliação é de que é preciso encarar a escolha como uma atribuição do presidente e não criar marolas que possam prejudicar o governo.

Os petistas da ala crítica a Gonet também não se viram contemplados com a decisão de Lula de indicar o ministro Flávio Dino (Justiça) ao Supremo. Eles trabalharam em favor do ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, quadro que tem maior proximidade com o partido.

Ainda assim, no Senado, a expectativa é de que tanto Gonet quanto Dino recebam o apoio da bancada petista. Todos os oito parlamentares do PT no Senado já declararam que irão votar a favor das indicações para a PGR e para o STF. Ambos serão sabatinados na Comissão de Constituição de Justiça na quarta-feira.

No caso de Gonet, o próprio relator é petista. Trata-se do líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que deu um parecer favorável à indicação. Sustentou que Gonet “apresentou as declarações e certidões requeridas, inclusive a argumentação escrita em que demonstra experiência profissional, formação técnica adequada e afinidade intelectual e moral para o exercício do elevado cargo”.

O líder do governo negou que enfrente dificuldades em seu partido para viabilizar a aprovação da indicação de Gonet.

— Sou relator e ninguém me questionou – disse.

Fora do Senado, parlamentares de esquerda não escondem a insatisfação. A deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) disse nas redes sociais que a escolha de Lula “é um golpe imensurável à memória dos que perderam a vida lutando por direitos”.


Fonte: O GLOBO