Dados do IBGE mostram o crescimento do número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil em 2022

Famílias pobres, aumento de oportunidades de trabalho em ano eleitoral e relaxamento de condicionantes, como frequência escolar pelo Bolsa Família. Na opinião do diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), o economista Marcelo Neri, a combinação desses fatores que podem explicar a volta do crescimento do número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil no Brasil em 2022. 

 Segundo dados da Pnad Contínua, do IBGE, no ano passado, chegou a 1,9 milhão o número de crianças e adolescentes em situação de trabalho. Isso representa um incremento de 7% em relação a 2019.

Chama atenção nos dados do IBGE, o fato de que as crianças pretas ou pardas nessa situação representam 66,3% das em situação de trabalho infantil. O que supera o percentual de representação desse grupo no total de crianças e adolescentes brasileiras, que é 58,8%. Esses dados reforçam o conceito de que a pobreza é negra e infantil, diz Neri:

- A pobreza no Brasil é infantil. Se você olhar para uma criança negra, a chance de ela ser pobre é ainda maior. Isso reforça o quadro de desigualdade no presente e no futuro. Pois se não houver os incentivos certos do Estado e as crianças não tiverem oportunidade de deixar o trabalho e estudar, esse ciclo de pobreza se perpetua.

Neri pontua que em momentos econômicos aquecidos, como foi o ano de 2022, aumenta as oportunidades de trabalho para adultos e também para as crianças. Por isso, destaca a importância da retomada das condicionantes do Bolsa Família que vincula a transferência do benefício à manutenção da criança na escola.

- Essas condicionantes se perderam ao longo do tempo e agora começam a ser retomadas, com o pagamento de mais R$ 150 por criança de 0 a 6 anos de idade, e de R$ 50, de 7 a 17 anos. Isso traz vantagens às famílias, mas ao mesmo exige que elas mantenham a frequência da criança nas escolas e outras condições como a vacinação. Só assim há uma chance de quebrar esse ciclo de desigualdade e pobreza.


Fonte: O GLOBO