Canoísta compete nesta sexta-feira na final dos Jogos Pan-Americanos na categoria C1-1000 e comemora nova fase, com mais liberdade e tempo em família

É de Sebástian Pereira, gerente de Alto Rendimento do Comitê Olímpico do Brasil (COB), a definição precisa de Isaquias Queiroz:

—Ele é um leão, que não venceu a batalha no Mundial. Está com fome, quer ganhar.

O canoísta, dono de quatro medalhas em Olimpíadas, uma de ouro, ficou fora do pódio no Mundial em Duisburg, em agosto, classificatório para Paris-2024. Herdou a vaga olímpica por uma combinação de resultados e entrou em férias.

Agora, em fase inicial de treinos de olho nos Jogos do ano que vem, não disputaria o Pan de Santiago. A edição deste ano começou “tarde”, fora do planejamento da categoria. Mas, segundo o técnico Lauro de Souza, Isaquias fez questão de viajar ao Chile para defender o bicampeonato no C1-1000.

Dessa forma, o atleta não teve preparação específica. Mesmo assim, nesta quinta-feira, na classificatória da prova, em San Pedro de la Paz, obteve o melhor tempo geral e avançou direto à decisão, que será nesta sexta-feira, a partir das 9h35.

— Estamos no treinamento de base. Não é adequado para a competição. Ele está estudando português, mas veio para a prova de matemática — comparou o treinador. — Porém, pela qualidade que tem, vai brigar pelas primeiras colocações.

Nesta quinta-feira, logo após a prova, Isaquias disse ao GLOBO que ela foi “bem doída” e que sentiu cansaço nas pernas e nos braços:

— Me sinto bem acabado mesmo (risos). Não estou com a melhor remada e custa para o barco deslizar. Mas estou feliz. Se eu sair daqui com medalha, será fantástico — disse Isaquias.

O atleta ainda ficou bravo por estar apenas na prova individual. Para o C2-500, Lauro optou pelos jovens Filipe Vieira, de 21 anos, campeão mundial sub-23, e Heuer Rodrigo, de 17, campeão sul-americano da categoria também em 2023.

Foi uma decisão técnica. A canoagem já tem vaga olímpica no C1-1000, com Isaquias, e buscará um lugar no C2-500 em qualificatório no início do ano que vem. Mas, por já ter se classificado, Isaquias não pode remar no C2-500. Lauro usa o Pan para testar o barco sem ele:

— Isso mostra que o Isaquias continua o Isaquias. Quando o atleta perde a vontade de estar em todas as provas, aí sim temos um problema.

O técnico lembra que este ciclo olímpico, mais curto, inviabilizou o primeiro ano de “mais descanso para atletas extraclasse”. E conta que isso “saturou” Isaquias.

— Optei por desacelerar. Com aquela vida de seleção, trancado no quarto do CT, eu teria parado faz tempo. Hoje, tenho uma vida fora da seleção — reflete Isaquias, que ganhou o segundo filho, Luigi, em agosto. — Se ele puxar o Sebastian (o primogênito), vou enlouquecer, porque ele é elétrico. Às vezes, o bichinho fica no meu pé 24 horas por dia. Mas, para mim, foi a melhor coisa que aconteceu. Desde Sebastian, obtive meus melhores resultados.

Nova rotina

Por isso, a pedido de Isaquias, o COB transferiu, em maio, parte da estrutura da seleção permanente de Lagoa Santa (MG) para Ilhéus. O atleta quer ficar na Bahia e perto da família. Quando morava em Minas, ficava em uma casa separada, com a esposa e o filho Sebastian, mas dentro do CT.

— Independentemente de onde eu estiver, tenho de dar 100%. Eu não vou para a praia, fui três vezes no ano. Não tem essa que estou curtindo. Querer, queria. Mas o treinamento impede — diz Isaquias — No fim de semana, dá uma preguiça arretada. Porque acumula o cansaço da semana. Fico em casa.

Segundo Lauro, a seleção permanente fará “uma mescla” na preparação para Paris. Parte será em Ilhéus e parte em Lagoa Santa, onde a estrutura foi mantida.

— Temos todos os tempos de anos anteriores marcados em Lagoa Santa e precisamos disso para comparações e referências — diz.

Isaquias comenta que ainda precisa abaixar seu peso e não vê a hora de começar os treinos de velocidade. Para ele, os exercícios de longa “são chatos” e deixam o atleta “preguiçoso”.

— O ano de 2023 foi diferente, mas do jeito que eu queria. Falou-se muito que o resultado do Mundial foi ruim, mas não foi tão ruim. A vaga olímpica, quera o importante, veio independentemente da medalha — pondera o canoísta, enfático sobre Paris e vago ao falar do futuro: — Não vou para participar. Vou para ganhar medalha. E de ouro. Depois de Paris, posso recalcular a rota... Não sei se vou até 2028.

É Isaquias sendo Isaquias.


Fonte: O GLOBO