Investida da sigla comandada pelo secretário estadual de Governo sobre prefeitos do interior desagradou outras legendas que compõem a base do Executivo paulista na Assembleia Legislativa

A investida do PSD, sigla comandada pelo secretário estadual de Governo de São Paulo, Gilberto Kassab, sobre prefeitos do interior irritou outros partidos que compõem a base do governador do estado, Tarcísio de Freitas, inclusive a legenda ao qual ele próprio é filiado, o Republicanos. Nos bastidores, correligionários de Tarcísio afirmam que Kassab e seus correligionários estão “criando inimigos” ao fazer uma filiação massiva de políticos que deixam o PSDB após um racha interno.

Como O GLOBO mostrou, o PSD multiplicou por cinco a quantidade de prefeitos em São Paulo. Saltou de 65, em 2020, quando era a terceira maior força da política paulista, para 329, mais da metade do total do estado. A avaliação no Republicanos é que Kassab usa seu cargo para “benefício próprio”. Como secretário de Governo, ele comanda as articulações na Assembleia Legislativa e o atendimento das demandas de prefeituras, o que facilita as filiações.

Um dirigente do Republicanos afirma que o movimento do PSD prejudica não só seu partido, mas as demais siglas da base, como PL, PP e MDB. Apesar de estar alojado no Palácio dos Bandeirantes, o Republicanos tem 50 prefeitos, frente a 23 eleitos em 2020. Das outras legendas da base, o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro soma 56 prefeitos, contra 41 do pleito de 2020, e o MDB do prefeito Ricardo Nunes, que comanda a capital, tem 70. A legenda elegeu 55.

Fundo eleitoral igual

Para esse membro do Republicanos, Kassab terá problemas para financiar as campanhas dos novos prefeitos, já que o fundo eleitoral continuará o mesmo. O valor é calculado a partir da bancada federal eleita por cada sigla — o PSD elegeu 42 em 2022.

A desidratação do PSDB, que governou São Paulo entre 1995 e 2023, já era esperada pela troca de comando do Bandeirantes. Mas na visão de alas tucanas, a aproximação de prefeitos com a base de Tarcísio acabou acelerada pela crise nos comandos estadual e nacional do PSDB.

O Republicanos, por sua vez, atingiu um objetivo que havia traçado: conquistar 10% das prefeituras do país. A sigla comandava ao fim do ano passado 211 cidades, número alcançado em 2020 após um crescimento de 103% em relação ao pleito de 2016. Em 2012, eram 80.

No partido, a eleição de Tarcísio foi vista como uma oportunidade para 2024. O recado fora dado pelo presidente da sigla, Marcos Pereira, às lideranças políticas há um ano. A orientação foi que os quadros se empenhassem na gestão estadual não só para tentar dobrar o número de prefeituras, mas também triplicar a bancada de vereadores eleita em 2016, de 1.620 parlamentares.

Procurado, Kassab afirmou ser “natural que os prefeitos busquem as siglas da base do governo, para serem liderados pelo governador Tarcísio”.

— É natural que eles (prefeitos) procurem as siglas que estejam mais próximas do governador, e que localmente sejam mais harmônicas com seus projetos. O PSD tem um perfil muito próximo da maior parte dos prefeitos, que são políticos de centro — justificou.

O vice-governador Felicio Ramuth nega a liberação de recursos e qualquer mal-estar:

— O Kassab tem uma relação antiga com muitos políticos, foi quase um movimento natural, fruto de um trabalho de convencimento. Não tem vínculo com recursos.

Já o deputado estadual Altair Moraes disse que o crescimento do Republicanos é “sólido”.


Fonte: O GLOBO